domingo, 2 de setembro de 2007



Interpretação do mundo
O livro que explica as 5 ferramentas de percepção da realidade!



Autor: Pompeo Marques Bonini

ÍNDICE:
Introdução
1 - Intuição: Do é ao não é!
2 - Metáfora do bolso
3 - O aprendiz e o virtuoso sensitivo
4 - Sobre o movimento pela idéia
5 - Interpretação sensitiva das fenomenologias do mundo.
6 - Metáfora do fogo
7 - Metáfora das cores
8 - O casarão e o barraco
9 - Tipos de “agentes”
10 - Teoria das realidades circulares
11 - Círculos ocultos
12 - Interpretação da religião
13 - Expansão e explosão dos círculos
14 - Sobre a liberdade aparente
15 - Encontro com a realidade total
16 - Divagações a respeito do sonho e discussão sobre o sentido e a função do mal.
17 - Simulação da realidade
18 - Sobre a liberdade ( continuação )
19 - A união dos super-conscientes.
20 – Poder mental
21 – Sobre a alegria
22 - Metáfora musical
23 – Expressão e transmissão dos sentimentos
24 - A espiral da realidade
25 - Sobre o Prazer, a proeza e a felicidade
26 - A maçã e o pecado
27 - A música e a corrida
28 - Os virtuosos
29 - Sobre a origem do movimento
30 - O cego que não abençoou








Introdução
Oh! Mas que título mais sugestivo, bastante pretensioso também! Interpretação do mundo! Expressão esta que surgindo de supetão causa bastante alarde, até certo temor por parte daquele que a lê, e nisto é que vamos insistir neste compêndio: no medo que o ser humano têm de conhecer a si mesmo. Quais são os modos de conhecer o mundo que nos cerca? Porque entendemos a realidade assim como ela é? Perguntas intrigantes que exigem uma profunda reflexão e na concepção de novas definições das coisas do mundo e das coisas do homem. É isto que sugere este livro, aqui presente.
Meus medos foram muitos na construção do que mais tarde pude entender como uma teoria da interpretação da realidade, tudo surgiu de maneira estranhamente natural, em discussões que perpassaram temas diversos, como assim demanda o próprio ser humano integral. Tão hilária quanto séria foi a origem do livro, pois tratava-se de um capítulo específico do livro “correr e suas nuances”, pelo fato de que o capítulo ficou demasiadamente vasto e complexo julguei mais adequado inserir as idéias em outro livro, por questões de praticidade e comodidade, já que o tema chave do outro livro já divergia em muito do tema deste que antes era parte do capítulo do outro.
Neste livro proponho uma visão inovadora do modo como o ser humano vivencia o mundo. Uma maneira específica de entender a si mesmo e à tudo que te circunda. Isto pode ser colocado como um princípio básico da filosofia religiosa, e, a partir daí aplicar as idéias às vivências diárias, pois não se pode separar conceito de vivência, aliás esta é justamente a função da dialética filosófica.
Foi portanto com grande alegria que me senti motivado à laboriosamente montar um sistema hermético de filosofia de vida, justificando-o, que pudesse dar à vivência diária um significado distinto e bastante peculiar, sempre que pude fiz alusões e analogias com atividades de caráter prático da vida, já que este é um modo de entendimento direto da matéria através do qual amplia-se a discussão subjetiva dos temas.
Os assuntos inevitavelmente recaíram sobre tudo o que se possa imaginar, pois partimos do conceito de uma vida integral Há alguns esboços esquemáticos para facilitar o entendimento das idéias. O objetivo deste livro não é propagar nenhuma forma religiosa específica, mas sim trazer novas possibilidades de visão de um tema mais que importante: A vida!
Desejo que o leitor faça um julgamento crítico das idéias, é sabido que em hipótese alguma o que está aqui possa ser considerado um dogma, mais seria uma instigação ao leitor precavido e um susto ao desprevenido.
Propõe-se que o livro seja lido aos poucos, sem pressa, com pausas ocasionais para que se reflita sobre um ou outro tema. Deste modo a leitura será benfazeja e proveitosa.

1 - Intuição: Do é ao não é!

Mediante a concepção da existência de um processo intuitivo mediado entre as potencialidades humanas devemos convir que a percepção total da realidade pelo “ser” é maior que aquela que julgamos ser, pois nossa capacidade discursiva e interpretativa é fundamentada na razão; Enquanto os processos intuitivos estão fora dela, numa porção do ser que pode ser denominada de realidade da percepção intuitiva, que é parte integrante do ser, e que têm, assim como o intelecto e a razão, um começo, meio e fim, um objetivo, uma percepção integral da realidade.
Ou seja: A intuição não é algo que surge do nada, ao acaso e de repente, mas está integrada numa idéia abrangente, vasta, completa, com sentido integral. Isto é claramente demonstrado quando utilizamos nossas capacidades criativas, pois em geral os processos intuitivos são despertados no ato da criação.
Como pode, no entanto, algo surgir do nada? A criatividade, surge na verdade, de todo o acúmulo de conhecimentos e experiências daquele que cria, e, a intuição é uma das ferramentas de criação mais fortes. Não se pode criar algo que já existe, a criação é, portanto, sempre algo novo àquele que cria. ( muito ou pouco, dependendo do nível de criatividade )
O que auxilia no nível de criatividade é o silêncio ( ver tópico X ); Nota-se com pesar, que as pessoas em geral se apegam de tal maneira às atividades de movimento que executam durante toda a vida ( trabalho, passeios, cultura, TV, rádio, etc... ) que perdem a capacidade de nada fazer, com isto a criatividade ( como no poema: Filósofos já mortos )
O sistema econômico-político de nossa sociedade aproveita-se deste fator para guiar o grande contingente da população para o caminho que a minoria de mandatários e poderosos bem entende, pois aquele que se preocupa com o fazer não têm o discernimento e a capacidade de refletir de forma criativa, o pior de tudo é que a própria reflexão sobretudo é transpassada de maneira sutil e despercebida dos grandes sistemas hierárquicos à toda a sociedade.
Implanta-se na cabeça das pessoas determinados assuntos, determinadas preocupações, e ainda o modo específico de refletir-se sobre estes temas, assim além da atividade do pensamento já ser direcionada há ainda o delineamento de como se procederá esta atividade, ou seja: no que pensar e como refletir este tema, isto é a poda da liberdade do pensar humano, fato mais aterrador é que isto se passa de maneira despercebida, aquele que não sabe que está sendo guiado é o pior ignorante.
Implanta-se na cabeça das pessoas que o “não fazer nada é pernicioso, retrógrado, coisa de vagabundos, quando na verdade constitui a maior força potencial e vivencial criativa que uma pessoa pode ter. Talvez isto tenha se consumado juntamente após o momento que aa mais altas hierarquias sociais descobriram a eficiência ( em favor de suas instituições ) de manter um grande contingente populacional não totalmente ignorantes, mas aqueles que são ignorantes de outra forma: com a “liberdade de pensamento aparente”, conforme já explicado são o pior tipo de ignorante existente. Assim: a população, está sempre preocupada pelo que é delineado pelos mandatários, nunca está desocupada, pois esta forma de liberdade ( liberdade total ) é supostamente bastante preocupante para quem quer continuar um poderio ideológico. Com a mente atulhada de tudo nada se pode fazer, a menos que o sujeito se dê conta de tal. Subentende-se que a criatividade e a intuição são dependentes do contexto econômico e político do mundo.
O funcionamento de vivência cultural de nossa sociedade, atualmente, perscruta caminhos errôneos, já que hoje a cultura se baseia ( fora uma minoria seleta ) exclusivamente no método de assimilação: o sujeito apenas assimila e não cria. Não cria por causa de toda a problemática colocada em pauta anteriormente. O sistema de difusão cultural fundamentando-se apenas na transmissão informativa e na “não transmissão” das ferramentas e subsídios do ato criativo, ocorre o “mito da caverna de Platão”, que contribui respectivamente par a manutenção do mesmo sistema e do “silêncio cultural”por assim dizer, até que alguém perceba o que ocorre e crie seu próprio movimento cultural, sua cultura pessoal, aliás, cada pessoa é em potencial um universo cultural infinitamente vasto e personalizado , o que pode ser expandido quando ela não se deixa dominar pelo método simplório de assimilação cultural, ou cultura de consumo.
A transgressão de normas já estabelecidas na sociedade ( seja um país, uma cidade ou um grupo de amigos ) leva à uma diferenciação do sujeito que cria ( transgride ) algo inovador, diferente ou peculiar quando comparado ao consenso de todo o grupo. Assim, ele não será entendido pelos outros, a criação ( artística, científica ou ideológica ) traz consigo uma nova concepção do ato de pensar. Não é, por isto, possível entender o que foi criado através do sistema antigo. ( Para o criador o que era antigo pode ser visto como obsoleto ou com uma perspectiva diferente, tornando-se outra coisa ) Assim: a criação incita um desenvolvimento epistemológico. Na verdade o desenvolvimento da estratégia do pensamento ( Transformação do pensamento = MII ) foi a causa da criação, sendo esta por isto considerada uma repercução e não uma causa primária.

O encontro da verdade
As coisas supérfluas deste mundo
Não mais me convencem
O sentido profundo me imunda
Como uma nova realidade
Profunda e maior
Fazendo com que percebesse
Que até então
Fui enganado
Pelas convidativas ilusões da vida

2 - METÁFORA DO BOLSO

Um bolso não usado
Não está agindo como bolso
Por isto não constitui um bolso
Assim como todos os seres humanos
Que são sensitivos em potencial
O bolso vazio é um bolso cheio em potência

Esta metáfora traduz com precisão a visão que todo sensitivo têm do mundo, um mundo de harmonia onde o simples erro do aprendiz muitas vezes é querer guardar coisas em outros lugares que não sejam o bolso, assim seu bolso não é bolso, suas ações não condizem com a função primordial de sua essência.
Todos nascemos com uma função primordial, assim como o bolso sempre será bolso independente onde se guarde as coisas, nós sempre seremos a única realidade nevrálgica como quer que queiramos enxergá-la. Nossas vontades comumente distorcem a visão que temos do real.


3 - O aprendiz e o virtuoso sensitivo

Os caminhos verdadeiros estão na essência
Não se deixai ludibriar pela vida aparente
No silêncio da alma e da própria tristeza
Emerge a alegria
Pois tudo que é brusco e que acontece de repente
É falso
Quereis algo mais verdadeiro que a tristeza?
Algo mais espirituoso que a lágrima?
Os caminhos verdadeiros estão no silêncio da tristeza
Na letargia da arte
No antagonismo da loucura
Na força descomunal do virtuosismo
Os caminhos verdadeiros estão na lágrima humana
Gotas dos divinos céus
Força poderosa irresistível
Pobres daqueles que não percebem
Que quem rege a vida é o próprio inconsciente
E não este consciente perdido e minúsculo
As novidades são promissoras
Contanto que a pessoa tenha a sutileza da percepção
Pés firmes à terra
A arte é a vida que nunca poderá morrer
Distante e próxima de tudo

Os sentidos realmente enviam estímulos ao espírito, libertando-o de uma letargia nefasta à vida, uma letargia de paralização, por isto digo-vos que é através dos sentidos que chegamos à Deus. Haveria por certo um nível superior aos sentidos que seria a própria interpretação dos sentidos ( visão, tato, olfato, paladar e audição ), assim, quando o vento resvala a pele sente e os pensamentos interpretam o que foi sentido como algo sagrado, assim o pensamento eleva-se à um patamar espiritual. É evidente que há uma diferença nos sentidos que são “enviados e captados” pela pessoa, já que podem ser mais ou menos complexos, tal como uma música clássica, ou mesmo os cabelos de ouro de uma donzela, os estimulos mais complexos tendem a proporcionar uma vivacidade, uma inflamação, um efeito de elevação do espírito maior naquele que os interpreta, enquanto que os estímulos sensíveis simples tendem a não provocar esta onda de virtuosismo e enlevação.
No entanto estes conceitos ainda são relativos, já que como os estimulos sensoriais são suscetíveis à interpretação há considerável dependência de conceitos, valores e idéias internos na percepção do mundo externo daquele que interpreta, assim, pode ocorrer de um estimulo sensorial simples tal como o rufar de um tambor distante, ou a beleza das folhas de uma árvore tornarem um motivo sulficientemente forte para inflamar o espírito daquele que vê ou ouve. Compactando esta idéia temos:
- Estimulos sensoriais complexos ( Uma composição sinfônica, uma exposição de esculturas )
- Estimulos sensoriais simples ( Coisas pequenas que nos ocorrem no “dia a dia”. )
Aquilo que é aparentemente pequenino transforma-se ( sempre é e não é ao mesmo tempo, por isto a transformação é aparente ) em algo grandioso e sagrado ao intérprete. Ocorre também que as pessoas interpretam de diferentes maneiras os mesmos estímulos, isto pode ser motivo de muitos casos de desentendimento e discussão, mas também de estupefação e surpresa. Por isto também a concepção estética de belo e agradável é variável de indivíduo para indivíduo, assim, os estímulos do mundo possuem tantos sentidos quanto existem pessoas para interpretá-los.
Um fato que acontece é que o desenvolvimento da interpretação de estímulos sensoriais, no início o indivíduo não confere muita importância aos detalhes ( estímulos simples ), na medida em que convive com os estímulos, e aprende a entender os complexos ( cultura complexa ) automaticamente quando têm a percepção dos estímulos simples passa à dar à eles outro significado, supostamente mais elevado.
Assim como percebe o mundo através de seus estímulos sensoriais, percebe as pessoas, e com o desenvolvimento de sua capacidade perceptiva ou “sensibilidade do espírito” passa a perceber detalhes nas pessoas; detalhes estes que passam despercebidos às próprias pessoas que se julgam portadoras do conhecimento de si mesmas. Estes detalhes podem ser transcritos em uma lista de exemplos, no entanto um fato que ocorre, muito diferente do conhecimento construído pela razão é que a “sensibilidade do espírito” é embasada não em linhas de atuação específicas, mas sim em uma atuação mais intuitiva que qualquer outra coisa.
Estes detalhes que são exalados pelas pessoas podem estar desde uma palavra específica que ela proferiu aleatoriamente em um discurso, uma atitude que ela tomou ou mesmo num pequeno movimento involuntário ( voluntário na consciência ) de seus olhos.
Em geral a capacidade perceptiva de um sensitivo é de maior envergadura ( colocamos aqui como sensitivo a pessoa que desenvolveu através de um processo educativo a capacidade de percepção dos “estímulos sensoriais simples de forma complexa” ) Tudo no mundo têm um sentido diferente do que se assemelha quando analisado numa primeira instância, de maneira rápida, despreocupada e informal.
ESC = Estímulo sensorial complexo
ESS = Estímulo sensorial simples
Sensitivo
ESC = Consegue assimilar globalmente o sentido e a mensagem
ESS = O simples também é complexo, às vezes até mais que o ESC
Aprendiz
ESC = Têm dificuldade em assimilar o complexo
ESS = Entende melhor o simples, assim como ele aparenta ser
A diferença entre o aprendiz ( Que está colocado com a pessoa que precisa de um desenvolvimento educacional para a “cultura complexa” ) e o sensitivo é que o sensitivo transforma os ESS, não em ESC pois isto é impossível, mas em idéias, sentimentos e percepções mentais complexas de modo que consiga ter o espírito inflamado com apenas um detalhe, enquanto o aprendiz, com sua visão limitada não consegue entender os estímulos complexos e dá um valor diferente aos ESS do que é dado pelo sensitivo.
Tudo isto é bastante visível quando notamos que há muita gente que vive fazendo “picuinhas”, “pilhérias”, brincadeiras fúteis e caçoadas enquanto outros não notam quaisquer teor de relevância nisto, ainda que para alguns possam representar um entretenimento hilariante senão até extasiante, tratamos aqui sobre os valores pessoais de cada um dos dois grupos, é por esta distinção de valores que o sensitivo se torna indiferente à muitos aspectos da vida, o aprendiz interpreta o próprio sensitivo como uma pessoa estranha, série e sem graça, do mesmo modo que o virtuoso sensitivo julga o aprendiz como ingênuo desconhecedor de realidades maiores.
Esta indiferença do sensitivo nada mais é que a não cumplicidade pela erraticidade mundana, a não participação no erro do aprendiz. Pois o sensitivo não é mundano, já têm uma ascenção cultural, uma sabedoria além do comum por seus contínuos esforços ( aliás, aquele que não se esforça não se torna sensitivo ), principalmente por sua moral elevada e correta é um homem de valores transcendentais, vê o que é oculto à muitos, percebe nuançes que poucos perceberiam, nota detalhes de difícil acesso.
Finalmente chegamos ao maratonista, este é por excelência o maior exemplo do esforço, dedicação e vontade o que condiz com um “movimento de espírito” grande; O maratonista nota detalhes de seu corpo que não corredores ou até mesmo corredores de distâncias mais curtas não percebem, é evidente que estas percepções não se restringem ao âmbito corpóreo mas se alastram aos aspéctos psíquicos como capacidade de concentração ( que é ampliada ), aliás existe uma diferença entre concentração e introversão. Concentração é a capacidade de centrar-se em algo fora da mente ( como: trajeto, passadas as dores do corpo ou o ritmo ), enquanto que introversão é a capacidade de ampliar e desenvolver idéias, imaginações e divagações dentro da própria mente. Tanto uma quanto a outra ajudam o corredor, sendo que cada momento requer uma necessidade específica. Em geral o religioso, aquele que ora com fé e devoção, têm as duas capacidades bem desenvolvidas, pois as imaginações se propagam em sua mente de maneira espantosa, em geral ele se concentra na visão de um objeto devocional específico ou na própria oração que profere, recebendo de si mesmo um ESS auditivo, que por repetição pode facilitar a interpretação complexa do simples, da qual havíamos falado antes.
Agora proponho uma pergunta: O corredor religioso é mais sensitivo que o não religioso? Conforme citado, caso o indivíduo seja um religioso de verdade e não apenas na aparência, ele dá à vida um valor diferente do que os outros dão, um valor que transcende a “percepção dos sentidos humanos”, pois estes são insulficientes para a adoção das idéias e realidades divinas. Assim, os religiosos devem recorrer ao campo das idéias, da devoção e ao campo da intuição, que são ( os 2 últimos ) aspectos que o sistema econômico-ideológico suprime no potencial humano atual.
Percepção dos sentidos humanos
IDÉIAS
INTUIÇÃO
DEVOCÃO
Deus
O corredor religioso é por isto mais criativo que o ateu, com isto interpreta de maneira mais espontânea as situações que exigem improviso e criação, como um filósofo ( aliás a religião têm um contexto dogmático e ideológico bastante forte ) têm uma capacidade de abstração da realidade além do comum pois isto é o mínimo que a religião exige, então ocorre um processo de intelectualização da realidade propriamente dita ao mundo das idéias, a realidade é submetida ao julgamento da “consciência espiritual” ( dotada de idéias, experiências e criações mentais ) Forma-se assim uma nova realidade:
Sentidos – Interpretação Sagrada – Sentimentos – Movimento do espírito
REALIDADE – JULGAMENTO DA CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL – NOVA REALIDADE



4 - Sobre o movimento pela idéia

A arte é reflexo da vida
A corrida é um reflexo do pensamento
A arte é a expressão da vida
A corrida é a expressão do pensamento
A arte é a vida
A corrida é o pensamento

Estes versos expressam de maneira interessante o fato de que coisas diferentes podem ser na realidade a mesma coisa, do mesmo modo que coisas iguais podem ser coisas diferentes. Exemplo: Quando em geral um “gentlerman” está entretido com um problema intelectual específico, ou mesmo encucado com uma problemática qualquer, que deve resolver, o que faz em geral é simplesmente andar de um lado à outro; Quê significa isto? Por quê anda? Por quê não pensa estando parado? Andar ajuda a pensar? Andar é pensar? Ocorre ainda que se a linha de seu pensamento muda, ou encontra outro problema pela frente, ele para de repente.
É impressionante imaginarmos o quão íntima é a relação entre o pensamento e a atividade física, pensamento é o movimento do intelecto, atividade física é o movimento do corpo no espaço. Se o corpo se movimenta no espaço: Onde se movimenta o pensamento? O que significa realmente este movimento?
Movimento é a mudança de algo de uma forma à outra, o surgimento de uma nova idéia constitui um movimento ou mudança. O corpo se movimenta no espaço porque ora está num lugar ora noutro. Conclui-se logo que os dois se movimentam, assim sendo: são a mesma coisa com expressões diferentes. Temos então:
Movimento intelectual ( Surgimento de novas idéias )
Movimento físico ( Deslocamento no espaço à um novo lugar )
Entretanto se a atitude é a mesma, é como se não houvesse movimento. A maratona, pois, sendo uma cadência de movimentos cíclicos representa a própria ausência de movimentos, pode soar estranho numa primeira instância este termo, no entanto o movimento é a mudança e não há mudança em algo que se repete continuamente como em uma passada após a outra. Se acaso, por exemplo, o corredor faz um treino intervalado, intercalando tiros de 400 mts. com 400 mts. de caminhada nota-se que há mudança, neste caso: sim, podemos afirmar que há movimento propriamente dito. Deste modo dizemos que o movimento cíclico é um movimento aparente, que ocorre apenas no campo fenomênico e não no campo das essências primordiais de nossos conceitos. Podemos ainda dividir o movimento físico em cíclico e irregular, sendo que somente o irregular ( exemplo: triatlon, ou treino intervalado ) é considerado como movimento.
No caso do pensamento ocorre o mesmo, já que pensamentos repetitivos ou um não progresso das idéias representam uma estagnação, quando surgem novas idéias há o movimento.
Assim, estes dois âmbitos da realidade se relacionam de maneira inesperada, e isto é bastante visível quando visto o exemplo anterior do “gentlerman” que anda de forma cíclica de um lado à outro de sua sala ( como no início de um dos livros de Júlio Verne ) E... quando repentinamente insurge uma solução ou uma nova idéia em sua mente ele para de repente saindo do movimento cíclico e entrando no movimento irregular que poderiamos definir como verdadeiro movimento, que nada mais é que a mudança de estados ideológicos ou físicos.
Movimento físico cíclico ( Ciclo igualitário de movimento )
Movimento físico irregular ( Movimento verdadeiro )
Movimento intelectual cíclico ( Estagnação das idéias )
Movimento intelectual irregular ( Novas idéias )
Não cogitou-se ainda que estar parado é um estado de “ser” físico, porque o sujeito existe, têm um corpo, e percebe seu corpo mesmo estando parado, e se, antes havíamos definido o movimento físico cíclico como um ciclo igualitário de movimento, ou mesmo a ausência de mudanças podemos colocar o estar parado na mesma concepção, mesmo que neste caso não haja um movimento físico, isto porque a percepção da monotonia da ausência de movimentos e dos movimentos cíclicos é absolutamente a mesma, portanto é evidente que haveríamos de encontrar um termo mais adequado que pudesse enquadrar as duas categorias. Este termo será simplesmente: “Silêncio”. Assim temos:
SILÊNCIO = ( Estar parado )
Movimento Físico Cíclico ( MFC )
Movimento Intelectual Cíclico ( MIC )
É importante ressaltar que as idéias perpassam nossas mentes no campo racional. Quê dizer da música? A música é o instrumento que faz o movimento do espírito chegando aos sentimentos, o que é um nível superior em realização humana e conhecimento da realidade, pois o conhecimento da realidade pode ser dividido de várias maneiras, com algum esforço procurarei uma delas:
MUDANÇA = Movimento do Espírito ( Sentimentos )
Movimento Físico Irregular ( MFI )
Movimento intelectual Irregular ( MII )
Assim, como no MFC e MIC acrescentamos a categoria de estar parado como uma espécie do movimento cíclico, porque todos estes representavam um contingente “silencioso”, fizemos com que no outro grupo, o do MFI e MII fosse acrescida a categoria movimento do espírito, que pode não ser um movimento aparente, mas que, na alma daquele que interpreta uma música, compõe uma obra de artes plásticas, ou mesmo aprecia uma peça de teatro há um movimento de âmbitos que transcendem a simples razão, ou o simples ato de pensar. Perto das artes e do movimento do espírito, os mais elaborados processos racionais tornam-se pequeninos como um grão de arroz perto de uma intrincada e suntuosa selva. O grão de arroz, aliás, perde-se na selva, e ainda pode cair na terra que dela faz parte nascendo mais uma planta que se integra à selva. Aliás, é cabível esta metáfora, pois a razão e o intelecto perdem-se de tal forma dentro dos sentimentos de imponência, sutileza e enaltecimentos artísticos ( ou se preferirem: humanos ) que acabam por formar parte deles, de forma que não se encontra mais a razão, ela simplesmente se integrou à emotividade.
Na vida passamos pelos dois tipos de situações ( silêncio e mudança ) há momentos em que a vida parece não ter muitas mudanças, neste caso pode haver uma ausência de movimento do espírito; Seria como uma indiferença aos estados sentimentais ( ou ao movimento que leva à eles ) ou ainda um movimento do espírito negativo, que condiz com sentimentos negativos. O que não será nesta lauda enfatizado por não conter quaisquer importâncias para os bons homens, o mal em si seria como uma sombra, esta sombra pode recair em todas as categorias do silêncio como da mudança tornando-as obscuras, o mal portanto não têm o seu lugar, é simplesmente uma sombra inócua, por isto é ilusória, por não ter uma morada depende da fraqueza humana para se instalar nos lugares onde há o conceito ou de silêncio ou de mudança.
O MII seria por certo obumbrado por idéias malévolas, no entanto ainda iria constituir um movimento intelectual irregular ( uma mudança de idéias, talvez o surgimento de uma idéia terrificante seja um exemplo disto )
No caso de conhecimento dos diversos níveis de realidade, havíamos nos afastado deste assunto. Existem 5 níveis: ( 5 estados de conhecimento da realidade )
1 – Físico
2 – Intelectual / Racional
3 – Sentimental
4 – Intuitivo
5 – Transcendental
Através de uma maratona podemos atravessar um a um ( acumulando-os ) para finalmente chegar ao último, ainda há a ressalva que cada um deste 5 níveis possui uma divisão progressiva interna. Vamos vê-los:
1 - Físico = MFC / MFI / Estar Parado
2 - Intelectual / Racional = Conhecer a realidade através de processos de interpretação racional ou lógica, chegando à novos conceitos indefinidamente.
Na corrida, o processo de recordação de qualquer coisa: que seja uma situação que não envolva sentimentos é intelectual, entretanto não podemos nos enganar pois o intelecto esta relacionado e interligado com os sentimentos, se é assim pois, pode-se recordar uma música ou situação que envolva outras pessoas e emocionar-se. A recordação é um processo intelectual, pode-se recordar situações que nos levaram ao sentimento, o racional é um caminho ao sentimental. A recordação é uma nova vivência do passado.
3 - Sentimental = Devemos convir que todos os 5 termos postos em pauta estão relacionados entre si, de maneira que em conjunto forma-se um todo que se denomina “eu”. Assim o sentimental pode ter como origem o intelectual ou provir diretamente do físico. Mesmo que estes termos estejam unidos formando o “eu” é viável pensar que haja uma hierarquia entre eles de modo que se distingüam em categorias mais ou menos primitivas, sendo mais ou menos elevadas conforme o nível de realidade que permitem conhecer. Estão postos evidentemente na ordem que se julgou mais conveniente segundo estes preceitos.
Quanto mais o ser humano se aprimora dentro deste sistema teórico tão sucinto, mais ele acredita ser o mundo fenomênico simples e supérfluo, sendo que passa a dar mais valor proporcionalmente ao que nele está mais desenvolvido, juntamente com esta idéia ocorre que passa a dar grande importância à coisas que antes pareciam detalhes e que à ele passavam despercebidas ( conforme havíamos discutido antes, aliás esta é uma das possíveis explicações do processo de formação dos sensitivos )
Me apartei por um momento da explicação sobre os sentimentos, importante é a união e suas possíveis origens ( Física ou Intelectual ), os sentimentos são inflamação do espírito, movimento da alma, estão num nível superior ao nível intelectual porque são imperiosamente mais fortes em intensidade e imprimem um conhecimento da realidade que não pode ser comparado às duas primeiras categorias; Aquele que se deixa envolver pelas sutilezas de uma música de maneira sensível e detalhada descobre diante de si um mundo completamente diferente. Poderíamos sub-dividir os sentimentos em outras três partes:
1 – Sentimentos artísticos
2 – Sentimento de afeição às pessoas
3 – Sentimentos de afeição à Deus
Sendo que é importante frisar que o sentimento de afeição à Deus é diferente do estado transcendente pois ainda está no âmbito dos sentimentos. Os sentimentos ( 3 tipos ) estão interligados da mesma maneira que estão os 5 estados de conhecimento da realidade, e se desenvolvem da mesma maneira numa cadência progressiva na ordem que foram relatados.
4 - Intuitivo – É um estado de conhecimento ( percepção ) da realidade que se diferencia do sentimental por estar ainda mais distante do racional e por isto permite abranger em si contradições e idéias sem sentido ou nexo pode ser descrito como o próprio “inconsciente”, relaciona-se com a intuição a criatividade, onde no subconsciente as idéias artísticas já parecem estar completas antes que o autor tenha consciência do que irá compor, os sentimentos estão num nível abaixo justamente porque podem ser entendidos e explicados completamente, ao contrário dos processos intuitivos.
5 – Transcendental – Vamos imaginar que além do intuitivo haja ainda mais um nível, que supere o campo da necessidade de ação, sonhos, realizações, objetivos ou mesmo vivências, que supere até o que possamos conhecer por “silêncio”, nada ou ausência chegando à um patamar desconhecido e por isto transcendente, inimaginável. Para aí chegar há várias formas, a corrida pode constituir um primeiro passo na caminhada da realidade. Não nos esqueçamos que todo nível que é passado abarca todos os anteriores, assim, mesmo o transcendental abarca todos os outros e é tão consciente de todos eles que nota que não existem, são criações ilusórias da vontade humana. A corrida pode por este motivo estar envolvida com qualquer um dos níveis, não precisa necedssariamente estar restrita somente ao nível físico, o que seria o mais óbvio cogitar.

5 - Interpretação sensitiva das fenomenologias do mundo

O segredo da intuição do sensitivo está em saber interpretar da maneira concisa cada um destes sinais. A importância de todos os processos fenomênicos ( pessoas, paisagens, e artes ) é sensibilizar a alma, provocando o movimento da alma através dos 5 níveis de conhecimento da realidade, que constituem ferramentas para o contato com a realidade, é notável ainda pensar que aquele que está sentado no teatro não participa da peça.
Seguindo no assunto que havíamos discorrido anteriormente, iremos tentar aprofundar este assunto especificando alguns de seus possíveis detalhes.
O sub-título aqui exposto, sugere que haja no mundo diferentes maneiras de interpretar o mundo, que estão situadas numa ordem progressiva de desenvolvimento, de modo que existe a interpretação mais grosseira e tosca ( do aprendiz ) e a mais sutil e detalhada. ( do sensitivo )
Disse antes que era impossível definir com exatidão como funciona o método interpretativo do sensitivo, no entanto é nesta senda que iremos arriscadamente entrar. A dificuldade em definir o modo de interpretação do sensitivo, é que este depende muito dos fatores intuitivos para interpretar o mundo ao seu redor, ao contrário do aprendiz que está ainda num dos primeiros 3 estágios de nossa escala de conhecimento da realidade. A partir do nível de intuição inicia-se a formação do sensitivo, a interpretação intuitiva do mundo não pode ser inteiramente explicada, por este ser um processo totalmente maleável, dependente de circunstâncias variadas, estas que se relacionam com os valores de imaginação, crenças, moral e fé. No entanto será exposto o que se julga como básico no que se refere à interpretação sensitiva das fenomenologias do mundo; É necessário antes que se iniciem os sub-tópicos, que se elucide que há a auto-interpretação e a interpretação do mundo exterior.
ISFM – Quando se interpreta as ações que outras pessoas tomam, o que elas falam, a maneira como elas se portam diante do que as circunstâncias do mundo lhe impõe. A interpretação de suas formas, cor de seus olhos, tamanho, peso, beleza estética ( que pode ser feita mediante variados parâmetros ) maneira de vestir, de andar. Pois tudo, sem exceção, faz parte do ser.
É bastante complexo o intento de realizar uma divisão das coisas que podem ser interpretadas no mundo, no entanto espero colocar de maneira simplificada as idéias que desejo transmitir. Ainda perseveram aqui os conceitos de mudança e silêncio ( Definidos no tópico: Sobre o movimento pela idéia. ). As fenomenologias ou coisas que podem ser sentidas, percebidas, experimentadas e conhecidas foram divididas em fenomenologias na mudança e no silêncio; Como antes, a mudança é aquilo que muda de um estado à outro, o silêncio é aquilo que permanece inalterado. Os dois são características que fazem parte do mundo. Conforme a tabela, existe a auto-interpretação na mudança e no silêncio. Vamos, para facilitar, explicar um por um dos termos.
Na mudança: A auto-interpretação corporal, é o entendimento do que ocorre com o corpo nos momentos de mudança, ou movimento físico irregular, ou com os pensamentos no caso do movimento intelectual irregular, não nos esqueçamos que tudo o que é cíclico seja pensamento ou movimento são categorias pertencentes ao silêncio.
Metáfora do teatro: Tudo se passa como se nos encontrássemos diante de um teatro vazio ( o mundo ), no camarim podemos ver e conhecer todas as roupas, podemos ver como é o cenário, ou mesmo como é a iluminação do palco, no entanto a peça ainda não começou, por isto estamos no “silêncio”, não sabemos como exatamente será representada a peça, ainda que possamos ter lido uma breve sinopse dela ( Que são respectivamente as filosofias perenes do mundo ). Somente assistindo à peça apreciamos as mudanças e movimentos ocorridos.
Podemos conhecer o mundo percebendo suas características mutáveis e imutáveis, isto ocorre no que se refere à uma série de coisas como: nós mesmos, pessoas, paisagens ou artes.
NAS PESSOAS: Podemos interpretar suas formas ou morfologias: Cor do cabelo, penteado, corpo ou biotipo, formato e posicionamento dos sobrolhos, cor dos olhos, formato do nariz e da orelha. Não só isto, como também o que nelas se passa na “mudança”: maneira como direcionam o olhar, relação entre o que falam e o direcionamento do olhar, maneira de andar ou correr, maneira como movimentam os sobrolhos, maneira como inspiram ou expiram e em quais momentos fazem isto mais intensamente, as atitudes que elas tomam, a maneira peculiar ou não como movimentam as mãos. Todos estes, tanto no silêncio ( formas ) quanto na mudança ( transformações ) são aspectos interpretados pelos sensitivos de maneira profunda e análoga à uma percepção pragmática ou óbvia. Os detalhes mais minuciosos possuem em si valores específicos, que devem ser reconhecidos por aquele que deseja conhecer a realidade em seu contexto integral, por isto justamente foi criado tal modo de análise da realidade, para reconhecer seus valores reais, do contrário ficaríamos restritos à informações básicas e óbvias, que podem, se sendo os únicos alicerces de nossa percepção se insulficientes para descrever a realidade essencial, ficaríamos assim num “mundo de máscaras”.
NAS PAISAGENS: Temos como características de “silêncio” as formas do mundo, incluindo formas construídas pelo homem como edifícios, pontes, torres, ruas, casas etc... ou formas naturais como: planícies, montanhas, horizontes, lagos, mares ou tudo aquilo que possa constituir parte de uma paisagem. Na “mudança” temos aquilo que se movimenta ( sendo fundamental que além de ter o potencial de se movimentar esteja em movimento ), no contexto da paisagem pode ser: o vento, chuvas, uma carroça, carro, trator, caminhões, uma hidroelétrica, um avião ou animais O que estiver dentro da paisagem e se movimentar faz com que a paisagem esteja em movimento. É importante frisar que o objetivo último da realidade é sensibilizar a alma. ( tal como da peça de teatro )
Por isto o sensitivo dá um valor aos fenômenos da natureza diferente do que o que é dado pelos aprendizes, de maneira que se o sensitivo é aquele que completou os 5 níveis de conhecimento da realidade, inserindo o nível transcendental ( ou religioso, porquanto podemos julgar estas duas palavras como similares ainda que há uma diferença gigante entre as duas: religião pode ser traduzido como religação com Deus, mas na maioria das vezes é mais correto dizer que significa um sistema de crenças específicas no qual se impregna um caráter de divisão de poderes com várias hierarquias; Por outro lado espiritualidade independe de religião, podem-se encontrar médiuns em qualquer seita, pois a potencialidade de contato com deus é antes uma naturalidade humana que um sistema criado pela cultura humana ), há por sito na natureza e em seus fenômenos um valor que transcende as sensações e concepções meramente físicas, a natureza se torna sagrada, seus fenômenos de “mudança” são prenúncios, exortações, iras, bençãos, sempre sinais com valores adicionais ao meramente físico.
NAS ARTES: Para falar de interpretar a arte deve-se perguntar: O quê é arte? Isto adiante será definido, por enquanto nos contentaremos em distinguir que a arte, assim como os outros tópicos foi dividida no “silêncio” e na “mudança”.
No silêncio – Encontramos a pintura e a escultura já que são artes de formas estáticas, ainda podemos considerar alguns estilos musicais como não tendo movimento ou transformação ( como no cado do MIC ou MFC ), como batucadas repetitivas, ou músicas que têm a função de “mantras” ( Movimento aparente ).
A arte é a expressão da emotividade humana, e, quando se interpreta uma obra de arte, na verdade, se interpreta a própria emotividade humana que foi a semente para que aquela obra se frutificasse, o que em suma é a mesma coisa que interpelar as mais profundas vivências da pessoa que criou a obra.
O nível de interpretação de uma obra de arte é variável, é por isto que propus a existência de aprendizes e sensitivos, havendo no interstício destas duas designações uma larga escala de patamares, esta divisão foi estabelecida conforme uma série de valores internos do sujeito que, neste caso, executa a interpretação ( Valores morais, religiosos, espirituais, ideológicos, conceituais ) estes valores são desenvolvidos e formados no decorrer de sua vida, podem ser mais ou menos constituídos conforme como a maneira que este sujeito vive. Por isto não se pode dizer que necessariamente uma pessoa mais velha será sensitiva e a mais nova aprendiz, isto seria uma idéia errada pois tudo dependerá do “modus vivendi”
Este é o mesmo motivo que leva muitas pessoas a não entenderem o complexo sentido que há numa obra de arte colocando rapidamente uma opinião retrógrada, e taxando logo a obra com qualquer adjetivo oprobrioso. O que ocorre é que estas pessoas não estão suficientemente formadas nos 5 níveis de conhecimento da realidade para interpretar a obra, e emitir um parecer que condiga com a intenção do artista.
Retomando o tema da música: Estão inseridas também na “mudança” quando os temas musicais sugerem grande variação e emotividade, poder-se-ia dizer que os românticos do séc. XVIII por exemplo sugerem maior “mudança” que os compositores barrocos, tendo em vista que o fim último é sensibilizar ou inflamar o espírito e não embelezar ou florear os ouvidos.
AUTO-INTERPRETAÇÃO – Está tanto na “mudança”quanto no “silêncio”. No silêncio é como percebemos nosso próprio corpo, nossa feição, penteado, formato da boca, também entende-se como silêncio tudo aquilo que se refira às características cíclicas, repetitivas ou sem mudanças, assim como o movimento intelectual cíclico ou movimento físico cíclico. Na maratona portanto, o sensitivo interpreta seu próprio corpo como algo “silencioso”, parado e estático porque é cíclico. É estranho pensar-se que podemos interpretar nossos próprios pensamentos, isto incutiria-nos a idéias de que a mente teria um nível além da atitude normal de pensar. Na verdade ocorre que interpretamos o que pensamos porque o pensamento é um fenômeno, mesmo que seja abstrato; Nós interpretamos o pensamento porque muitas vezes temos opiniões secundárias à respeito de nossas próprias idéias, lembranças, opiniões ou imaginações. Quantas vezes não chegamos a ficar abismados ou extasiados com nossas próprias divagações e idéias? O que isto sugere? Sugere que exista uma auto-interpretação do intelecto e do raciocínio, ou seja: um nível mais forte e personalizado de individualização do pensamento.
Seria presunção pensar que isto pode ocorrer também com os sentimentos? Creio que sim. Não é viável, pois os sentimentos são ferramentas de contato com a realidade tão intensas que excluem a necessidade de uma interpretação ( interpretação secundária ) Uma pessoa que está realmente furiosa não iria parar para pensar nos motivos que fizeram ela chegar à este ponto, tampouco alguém que está triste irá refletir sobre sua tristeza, mas sim vivenciá-la.
Assim a auto-interpretação sentimental é inviável, no entanto quando os ímpetos sentimentais se esvaíram pode-se através dos pensamentos e lembranças interpretar não os sentimentos propriamente ditos mas sim a idéia que sobrou deles.
No final de uma maratona muitos corredores, com eu, se emocionam. Por quê se emocionam? Por causa de uma série de fatores que se aglomeram constituindo um “potencial de inflamação” altíssimo. Em determinado momento, o momento em que se atravessa a linha de chegada, este potencial se transforma em ação, em vivência. Não é apenas carga acumulada, mas sim realidade. Os fatores anteriormente citados estão distribuidos em cada um dos “5NCR” ( Físicos, Intelectuais, sentimentais, Intuitivos e Transcendentais )
Especificações de cada um, para fins de exemplo, no caso do corredor:
Físicos – A dor que se acumula, a noção perfeita proprioceptiva, a percepção sensível do mundo que o cerca durante a prova, a sensação de domínio completo dos movimentos corporais.
Intelectuais – Estratégia estipulada com antecedência e tomada durante a prova, lembranças de situações de treino, linhas de raciocínio desenvolvidas durante a prova. É interessante frisar que a lembrança em si constitui uma re-vivência.
Sentimentais – Através do físico e do intelecto chega-se aos sentimentos, ou por uma emotividade direta criada por diversas situações durante a prova ( Platéia aplaudindo, subida dificultosa, fato de estar acabando a prova, hino nacional )
Intuitivos – Percepções sugeridas pela criatividade mental, como começar a imaginar que se está correndo nas nuvens, ou que a cada passo o chão cai num abismo de profundidade desconhecida. Podem ou não ser coerentes as idéias intuitivas.
Transcendentais – Sentido sagrado às ocorrências e às coisas, concepção espiritual do mundo que cerca o corredor e à realidade que é vivenciada naquele momento.
Este potencial de inflamação relaciona-se entre si, e acumula aos poucos até que se constitua uma inflamação do espírito propriamente dita, ou um movimento. A lembrança é uma ferramenta que acessa todos os potenciais de inflamação, não nos esqueçamos que os potenciais de inflamação são a interpretação do conhecimento da realidade, portanto ainda que coincida em suas categorias não são a experiência fenomênica propriamente dita, mas sim a interpretação desta experiência. Assim temos:
5 Níveis de conhecimento da realidade
5 Potenciais de inflamação
É viável pensar também que o ser humano inevitavelmente interpreta tudo aquilo que experimenta, isto coloca em pauta que os “5NCR” irão se transformar em “5PI” para inflamar o espírito. Este processo pode ser no entanto totalmente abstrato, é o que se passa através da lembrança. Podemos lembrar a dor, o sorrir, o chorar, um determinado raciocínio, um Deus e mudarmos nossa realidade.
Assim, a auto-interpretação do sensitivo é complexa envolvendo os potenciais de inflamação. ( sensitivo está posto no sentido de uma pessoa sensível aos detalhes que o mundo oferece, não prioritariamente nos sentidos humanos: tato, olfato, paladar... Por isto este termo envolve tanto os sentidos quanto os processos intelectivos e mentais diversos )
Todos os potenciais de inflamação que ocorrem durante a maratona, até atingir seu ápice de influência sobre o espírito e mudar seu estado ocorreram no “silêncio”, pois a maratona, sendo uma atividade cíclica é considerada como repetitiva e por isto há ausência de “movimento”. O atleta faz a auto-interpretação principalmente através das lembranças, pois, lembrar é extrair coisas externas de si mesmo, estas coisas são por isto mesmo ao mesmo tempo externas e internas.
Ouvir aplausos, no entanto, é a interpretação de algo que vêm de fora ( na seguinte cadência: percepção – interpretação – assimilação ), por isto deve ser considerado como interpretação do mundo exterior, na parte das pessoas: por isto corporal; Ainda que antes que estas pessoas resolvessem aplaudir elas tiveram de ter ímpetos psíquicos para o fazer, portanto uma vontade sempre vêm antes de um ato físico, e os atos físicos são reflexos da realidade psíquica humana.
Na mudança a auto-interpretação funciona da mesma maneira, com a distinção que ela representa a percepção da mudança de pensamentos, sentimentos, intuições, ou de experiências e sentidos religiosos. No corporal é a percepção da mudança de seqüências de movimentos, como por exemplo no half-pipe fazer à cada vôo uma manobra diferente, ou no caso do intervall-trainning, ou mesmo no triathlon nos momentos de mudança de esporte.
Há o fato de que a auto-percepção que ocorre no “silêncio” incita muito mais a lmbrança que a auto-percepção que ocorre na “mudança”, pois os processos de lembrança necessitam de silêncio para serem ativados, precisam da ausência porquê são na verdade uma re-vivência e não somente a recordação de algo que passou como se fosse a leitura de um texto tal como este texto foi escrito ou lido em momento anterior. Isto porque desde que o indivíduo vivenciou aquilo que ele recorda, houve um desenvolvimento de seus 5 níveis de conhecimento da realidade, assim ele não é mais igual ao que era quando vivenciou o que esta recordando. Por isto, quando recorda perpassa a mesma experiência com uma perspectiva intelectual, sentimental, intuitiva, transcendental e até mesmo física diversa. ( seu corpo pode estar diferente ) Podemos até dizer que um treino de corrida é a lembrança física do treino anterior quando se visa fazer o mesmo tipo de treino.
É uma lembrança física, porém como toda lembrança mental há uma perspectiva diferenciada sobre o mesmo assunto, sobre a mesma vivência, pois o indivíduo melhorou suas qualidades proprioceptivas, suas capacidades físicas como: força, equilíbrio, velocidade, resistência e flexibilidade foram melhoradas e mudam totalmente o entendimento, interpretação e assimilação no contato com a mesma realidade, de modo que o mesmo treino seja igual ele se transforma numa vivência diferente. No caso da lembrança: mesmo que se lembre o mesmo fato várias vezes, cada vez que há invocação da lembrança haverá uma percepção peculiar e personalizada, que será cada vez mais próxima à um ideal de realidade áureo e inesgotável.
Isto representa uma concepção de lembrança que deixa a própria suscetível a mudanças de interpretação. Ora, podemos passar por uma situação e pensar sobre ela de um modo, vivenciá-la de maneira específica, depois de um tempo rememorá-la e entendê-la de maneira totalmente diferente. O mesmo ocorre com um livro que lemos em determinada época sem ter o preparo intelectual suficiente para entendê-lo, ou para interpretar da maneira que o autor quis transmitir, podemos ler o mesmo livro depois de certo tempo e entendê-lo de maneira diversa.
O ser humano se diferencia dos animais, além de pelo fato de possuir um quociente de inteligência levemente mais alto, pela capacidade de lembrar-se, que é o que faz com que possamos travar relações mais complexas com os semelhantes. A definição de relação entre as pessoas pode estar bastante vinculada às lembranças que temos destas pessoas, pois a pessoa passa a existir em nossa mente, é assim que criamos uma “imagem” desta pessoa, que é uma conceituação, uma série de valores abstratos que nos proporcionam uma personalidade específica, portadora de características únicas. A lembrança têm papel fundamental no fato de mantermos as imagens das pessoas dentro de nossas mentes, e quando nos deparamos tal sujeito logo lembramos como ele é ou como não é, a partir disso adotamos uma conduta específica, pois o ser humano se amolda de diferentes maneiras segundo as necessidades que as situações requerem. É por isto que não é completamente errado dizer que a vida é uma interpretação de muitos papéis, de fato, devemos saber nos portar de maneiras específicas para cada situação e para cada tipo de pessoa, do contrário pereceríamos numa dificuldade imensa de adaptação social. É importante neste contexto tentarmos ao máximo desvendar quais são as intenções das pessoas quando tomam determinadas atitudes, ou quando falam certas coisas, pois estamos constantemente interpretando a vida dos outros, no entanto interpretamos segundo nossos parâmetros pessoais e não necessariamente segundo os parâmetros destas pessoas, ou seja: segundo suas verdadeiras intenções, assim está que deve-se ler um livro levando em consideração aquilo que o autor pensou quando escreveu e não somente notando o que esta sendo interpretado pelo lado personalizado, ainda que este seja válido e verdadeiro, é válido e verdadeiro mas não original. ( Original = que teve origem )
Talvez a função da lembrança seja justamente esta: Fazer com que o homem possa entender o mundo como ele realmente é. A interpretação do mundo e de si mesmo na medida em que o tempo passa, e que o sujeito se desenvolve passando de aprendiz à sensitivo, vai se apurando e se aprimorando de modo que se aproxima cada vez mais da “realidade essencial”. Cada vez mais, pois, conhece-se aquilo que realmente está lá. Se é assim, então, no início conhecemos apenas a aparência das fenômenos do mundo, e não o que realmente eles querem dizer.
O corredor aprendiz, já que desenvolveu-se esta linha de raciocínio, não conhece a realidade essencial da corrida, esta é somente conhecida por corredores de longa data, somente estes passaram por sucessivas e infindáveis “lembranças físicas” ( Lembrança não é um retorno ao passado senão uma re-vivência que transpassa no tempo presente )
A interpretação sensitiva das fenomenologias do mundo é mais que contato com a realidade, pois é a interpretação deste contato que definimos como potenciais de inflamação, o contato em si não pode inflamar porque não foi interpretado, na realidade não há nada que deixe de ser interpretado, no entanto existem interpretações dúbias, errôneas, medianas ou corretas conforme o nível de aprendiz ou sensitivo que o indivíduo tenha em si.
O objetivo último do ser humano é interpretar o mundo assim como ele realmente é e não como aparenta ser. É correr a corrida essencial e não a ilusória, no entanto o processo educativo que torna a pessoa sensitiva é árduo e vagaroso, pois envolve não somente educação intelectual ( Filosofia, história, matemática, etc... ) como sentimental e intuitiva ( artes, relações sociais, moral ) e transcendental ( Religiosidade, teologia, fé, mediunidade ) que consiste respectivamente numa educação integral, holística, integrada, inter-disciplinar e vivencial, pois não é um conhecimento abstrato inócuo senão “conhecimento vivencial” posto em prática como parte da vida. É esta justamente a proposta deste livro, formar não uma pessoa ligada à somente uma área das atividades humanas senão um ser humano ciente de todas as suas potencialidades com subsídios teóricos de reflexão, dialética, razão e até hilaridade intelectual para uma abordagem prática de vivência. Não nos esqueçamos que a própria teoria é uma vivência, não separa senão intensifica a vivência prática acrescentando sentido e vasta gama de valores à ela, tornando-a uma experiência mais completa, fazendo com que esta se aproxime mais da vivência ou verdade essencial.

Princípio de tudo:
Onde houver uma folha em branco
Onde houver uma tecla à disposição
Onde houver uma corda à ressoar
Onde houver um silêncio...
Haverá vida!
Pois a criação depende de um princípio vazio
Viva a arte!

Haverá alguma energia provincial, que inunda o sábio em momento de suas leituras, me refiro mais precisamente quando lhe vem à tona o cansaço e o sono? E ao corredor quando já se esvaíram suas energias? Como podemos num dado momento sentirmo-nos cansados mental ou fisicamente, e, ainda depois sermos tomados de energia e vontade? A palavra vontade esclarece-nos algo, pois na realidade ela vêm antes da energia, antes uma vontade profunda emerge em nossa consciência, aí então surge a energia necessária para o empreendimento que visamos completar. A música é um fenômeno que têm a proeza de ativar a vontade do ser humano porque das artes ela é a mais abstrata, o “eu” é supostamente abstrato, assim é mais influenciado pela música que pela pintura.
Uma questão que há muito tempo me assola referente à realidade, e ao contato que temos com a realidade, é a seguinte: Qual é o maior nível de contato com a realidade que pode existir? Nesta problemática entra justamente o dilema “experiência empírica versus razão, emoção e aspectos inerentes à mente”. Se formos no mínimo coerentes devemos supor que há no contato com o mundo a mistura da experiência empírica e a interpretação dos resultados desta interpretação.
Esta mistura entre assimilação e interpretação faz com que cada ser humano entenda o mundo de uma maneira distinta, pois, caso contrário todos entenderiam as experiências do mundo da mesma maneira. Deste modo, ocorre que a corrida têm um sentido específico para min por causa de uma série de interpretações que eu faço dela, estas interpretações estão mediadas por características do psiquismo como: inteligência, emotividade, personalidade, moral. A interpretação do mundo, está pois, sujeita às características psiquicas daquele que interpreta, assim, a “experiência vivencial” pode ser mais ou menos intensa conforme o desenvolvimento psíquico do indivíduo.
Conclui-se disto que não é correndo mais rápido que terei uma “experiência de corrida” mais intensa, mas sim desenvolvendo minhas características psíquicas. Entende-se por “experiência” o processo de percepção, interpretação e assimilação não ocorre a assimilação por si só, se fosse assim somente seria válida a experiência empírica e o corredor mais rápido ou o que ouve a música mais complexa seriam os que possuem maior contato com o mundo, e o triatleta mais que o corredor levando em consideração a experiência empírica da motricidade humana.
Experiência de contato com o mundo – Captação sensória – Interpretação – Assimilação
É viável pensar que nossa experiência com a realidade deve sempre passar pelo pensamento, antes que se crie uma concepção definida do fenômeno colocado em pauta. A realidade que conseguimos entender é na verdade uma reconstrução da realidade propriamente dita. Na medida em que o “aprendiz” torna-se um “sensitivo” sua concepção à respeito das mesmas coisas muda de tal maneira que é como se ele conseguisse entender que antes vivia uma ilusão, apoiando-se em coisas que não deveria se apoiar, pisando em solo que julgava seguro, mas somente agora, com sua nova visão ( à respeito das mesmas coisas ) percebe o quanto foi ingênuo. É como um adulto vendo uma criança brincar, e o quanto ela dá valor à seus brinquedos: bonecos de plástico ou cubos de madeira.
O mundo que nos cerca só irá mudar se acaso nossa psique mudar, pois quem reconstrói a realidade é a psique. O que faz nossa psique mudar e se desenvolver? Esta é uma questão relativamente complexa, seguramente algo poderá ser abordado sobre esta intrigante cogitação: O ambiente logicamente interfere em nossa maneira de viver, o dinheiro que dispomos, os lugares que freqüentamos, os amigos com os quais travamos contato, pode ser feita uma macro e uma micro disposição destes parâmetros: O país em que vivemos, o idioma que falamos são características macro. Tudo isto contribui para a criação e instituição de determinados hábitos e maneiras de reagir, formas de recepcionar e entender as mais diferentes situações.
Estas peculiaridades acabam por se firmar e tornar repetitivas, formando hábitos, que são ações que tomamos de maneira rotineira.
Tudo o que foi dito se refere à uma influência “de fora para dentro”, no entanto existe algo que poucas pessoas param para refletir: um movimento que surge de “dentro para fora”, sendo que o que é considerado como fora é a razão e o dentro é a vontade, a partir do momento que uma “nova vontade” invade a razão forma-se uma “nova idéia”. A palavra chave aqui é: novo, pois para mudar a psique deve haver um movimento diferenciado da vontade que atinja o âmbito racional, pois vontade sozinha é ou intuição ou sentimento.
Psique
MUDANÇA
DESENVOLVIMENTO

Nova vontade
INTUIÇÃO
SENTIMENTO
( Criatividade )


RAZÃO




Este é o movimento de “dentro para fora”, ou seja: da nova vontade à razão, ao contrário das atividades que eram formadas através das vivências externas: trabalho, amigos, família. O que foi definido como “fora para dentro”.
Acreditando nesta outra concepção ( DF ) colocamos nas mãos do ser humano a responsabilidade, ou parte desta responsabilidade por seu próprio destino. É de certa forma triste senão até medonho supor que o ambiente e as circunstâncias são o que definirá completamente o destino do ser humano, que sejam estas as circunstâncias únicas no destino do ser.

6 - Metáfora do fogo
Esta metáfora está posta no intento de explicar ou melhorar o entendimento de como um “aprendiz”faz para mudar seu estado de estagnação e tornar-se paulatinamente um sensitivo, adquirindo uma visão distinta da realidade. Imaginemos que o fogo possa ter diferentes colorações ( ainda que tenha algumas ): amarelo, vermelho, azul, rosa, verde e marrom. Nesta metáfora a cor do fogo representa ou uma intuição ou um sentimento. Por isto as cores são variadas, o fogo representa a própria vontade. Se houver intuição e faltar vontade a mudança no psiquismo não ocorre. Se houver vontade e faltar intuição também morre o fogo. Temos assim que fogo sem cor não perdura, e a cor sem o fogo não cria o objeto real que é o fogo queimando.

INTUIÇÃO
SENTIMENTOS
CRIATIVIDADE

= Cores diversas




VONTADE = Fogo

Este fogo pode queimar tanto cores novas que surgiram pela intuição, sentimentos, criatividade como cores que já há muito tempo vêm sendo queimadas. É como dizer que há muito tempo uma pessoa cultiva determinados hábitos.
Creio que uma das coisas mais difíceis nas pessoas seja a mudança de hábitos que nelas estão incrustados como crustáceos na pedra. É muito bom dizer: - Tive um sentimento novo, que me motivou a fazer isto, algo despertou em min induzindo a mudar minha conduta.
Lapsos de criatividade são o que nos induz a mudar, a partir do momento que mudamos passamos a conhecer as realidades diferentes e por vezes conhecer as mesmas realidades de antes de maneiras distintas, tornando o entendimento da realidade mais complexo pois estaremos interpretando a realidade utilizando uma ferramenta ( o pensamento ) que agora se tornou maior e mais completa.
É aí que pensamos que o mundo mudou, quando na realidade o que mudou foi nossa mente, deste modo o mundo é só de um jeito o que muda é apenas a interpretação que dele fazemos, mais especificadamente a ferramenta que dispomos para entendê-lo.
Numa analogia simples eu lhe dou uma TV sem controle remoto, somente com botões de volume e canal, você entenderá a realidade daquele aparelho até determinado ponto, quando eu lhe entregar o controle remoto com botões adicionais como: “timer”, contraste, cor, brilho e vídeo você poderá até ficar extasiado por ter em mãos uma ferramenta mais complexa, que permite conhecer de maneira diversa a mesma realidade: a televisão.
Assim é a realidade, no entanto a ferramenta que dispomos para entendê-la não é um controle remoto senão o cérebro, que pode ou não, conforme o surgimento de mudanças da psique ( descrito pela metáfora do fogo ), se desenvolver e evoluir. Assim como na TV a realidade irá mudar ( Não só a ferramenta )
Assim, se o indivíduo através da criação de novos hábitos, idéias, conhecimentos e sentimentos muda sua constituição psíquica estará mudando a realidade que o circunda. Se bem que a palavra “mudando” pode soar estranha se pensarmos que a realidade é só uma e que nunca muda, o que muda é o modo de entendê-la, mesmo antes que você tivesse o controle remoto da televisão já existiam os recursos de contraste, brilho, “timer” e video. Era somente você que não tinha a possibilidade de acessar estes recursos. Assim da realidade da TV é uma, não obstante cada um a conhece de maneira diferente. A realidade essencial está posicionada em um patamar específico, cada pessoa, conforme o nível de “aprendiz” ou “sensitivo”, à conhece num grau específico:
Aprendiz
( Aquisição de experiências novas )
Realidade - 1
Realidade - 2 ( 1 )
Realidade – 3 ( 1, 2 )
Realidade – 4 ( 1, 2 , 3 )
Realidade – 5 ( 1, 2, 3, 4 )
Sensitivo

Sempre os graus de conhecimento da realidade ( capacidades perceptivas e interpretativas da realidade ) que estão acima conseguem entender aqueles que estão abaixo, entendem de maneira mais complexa a mesma realidade do sujeito que vivencia uma realidade inferior, vamos supor: a realidade 2 abarca a realidade 1 em si com a diferença de que a entende de maneira mais complexa.
A realidade essencial é a única realidade existente, é a única verdadeira, as outras são por isto ilusórias. Se não são ilusórias podemos ao menos dizer que são incompletas pois se o indivíduo não têm um controle remoto, nem uma televisão de última geração isto não que dizer que ele não conheça a realidade da transmissão televisiva e de suas potencialidades, mas simplesmente que ele a conhece parcialmente, é por isto também que podemos dizer que as realidades superiores incluem as inferiores, do contrário as inferiores seriam ilusão. O que pode representar ilusão não é o objeto com o qual se trava relação mas sim a interpretação deste objeto.
7 - Metáfora das cores
AZUL - 1A Realidade
Fogo ( Nova vontade )
AZUL MARINHO E AMARELO - 2A Realidade
Fogo ( Nova vontade )
AZUL TURQUEZA, AMARELO ESCURO VERDE - 3A Realidade
Fogo ( Nova vontade )
AZUL CELESTE
AMARELO CLARO
VERDE ABACATE VERMELHO - 4A Realidade
Fogo ( Nova vontade )
BRANCO - 5A Realidade

SENTIMENTOS
INTUIÇÃO
CRIATIVIDADE

( Objeto sempre fora branco )


Exemplo metafórico do conhecimento da realidade. As cores são os sentimentos, intuições e criatividades, que mudam de tonalidade conforme o desenvolvimento do indivíduo que transpassa por meio de uma “nova vontade” ou “fogo”. Em cada nível adicional há sempre uma nova cor ou conhecimento de um aspecto diverso da vida, pois este é o resultado da audácia da criatividade, a nova cor pode representar um novo hábito, no caso da cor que apenas muda sutilmente de tonalidade propus uma visão pouco mais diferente sobre o mesmo objeto, ainda que o sujeito que está num nível tenha a possibilidade de entender o objeto através da visão ( ou cor ) anterior, já que os níveis são acumulativos, mas este, por tr mudado sua visão julga que a cor anterior é ingênua senão até ignorante, sua cor é a mesma no entanto mais completa, é como dizer que no controle remoto também haviam os botões de volume e canal, no entanto recheado de muitos outros botões. Não pensei em cor mais adequada para representar a “realidade essencial” nesta metáfora que a cor branca que representa na luz, conforme o comprova o prisma, a união de todas as cores. Ainda há a importante ressalva que o objeto nunca muda a sua cor, pois a realidade é somente uma, o que mudou no transcorrer do desenvolvimento do ser foi as suas ferramentas de interpretação.
Ora estas, quê pensar de se acrescentar à televisão um video cassete, um DVD ou um “video game” trazendo à tona não novas potencialidades mas sim novas realidades?
As realidades do mundo são muitas, imaginemos que uma pessoa possa travar contato com diversos estilos musicais: pop, axé, samba, clássico, “new age”, afoché, caipira, sertanejo ou “dance music”. E que depois de algum tempo este sujeito tenha se desenvolvido de tal modo em suas características cognitivas e psíquicas que surgiu-lhe a sensibilidade de entender ( assimilar, interpretar ) Hector Berlioz, Mozart. Bach, Thaikovsky, Edward Grieg, Bethoven, Elgar, Brahms ou Modest Mussorgsky. Podemos considerar estilos musicais totalmente distinto como realidades diferentes ou potencialidades diferentes da mesma realidade? A segunda resposta por certo é a mais convincente. Assim uma realidade diversa neste caso não seria o estilo musical mas sim o estilo artístico. Outra realidade seria a pintura, escultura ou o teatro. E pasmem pois ( metaforicamente ) o sujeito que se desenvolveu na música, em nosso caso, não têm ferramentas para interpretar a escultura e por isto deve começar do primeiro nível para entender esta realidade, o processo deve ocorrer como ocorreu com a música.
Assim, posso ser um sensitivo em determinada realidade e aprendiz em outra. Não pode ser esquecido que não me refiro aqui apenas ao conhecimento intelectivo senão numa concepção integral aos 5 estados de conhecimento da realidade. ( Físico, Intelectual, Sentimental, Intuitivo e Transcendental ) Cada um constitui um potencial que ajuda no conhecimento total de uma determinada realidade. Geralmente o ser humano têm a tendência em desenvolver estes aspectos de maneira desequilibrada, de modo que fica com um mais desenvolvido que outro, o que faz perder pontos no conhecimento cabal do objeto. Imagine que os alicerces sensíveis para a interpretação da música são diferentes que par a interpretação da escultura, assim temos que as ferramenta de interpretação que dispomos são diferentes para cada objeto ou realidade especifica. O mesmo que dizer que o controle remoto da televisão é um, o do DVD é outro e o do vídeo cassete é outro ainda. Vai daí que podemos inflamar nosso espírito mais comumente com música e menos com teatro porque desenvolvemos ( pela educação moral, ideológica, filosófica etc... ) uma ferramenta de interpretação de uma realidade específica, para tal a ferramenta deve ser também específica.
Assim temos a seguinte disposição:

MÚSICA
DANÇA
TEATRO
PINTURA
ESCULTURA




F R S I T




F R S I T




F R S I T




F R S I T




F R S I T
Gráfico das muitas realidades


F = Físico
R = Racional
S = Sentimental
I = Intuitivo
T = Transcendental 5 estados de conhecimento da realidade



Este gráfico mostra primeiro que não existe uma senão muitas realidades que podem ser divididas segundo a vontade daquele que o faz, imaginem que ao invés de estilos artísticos fosse feita uma divisão de categorias como: arte, ciência e religião, ou das 4 estações do ano, ou fossem colocadas as matérias da grade curricular de um curso qualquer, modalidades esportivas. Esta variação pode prosseguir numa cadência de possibilidades incessante.
O segundo fato que se percebe é que para cada realidade há uma disposição específica das ferramentas de interpretação. Outro fator importante nisto, que deve ser citado, é que este último gráfico está intimamente relacionado com a metáfora dos níveis de conhecimento da realidade através das mudanças de cores. ( mudança de aspectos da psique e mesmo do corpo )
Imaginemos que, além do fato de que os estados de conhecimento da realidade geralmente têm maior propensão em se desenvolver na ordem em que foram inseridos, que cada um deles têm um alicerce total dentro da “metáfora das cores”, por exemplo: temos o aspecto sentimental se desenvolvendo em seus detalhes, com as distintas fases da realidade sentimental. ( para a percepção e o conhecimento de determinada realidade )
Contundentemente nos deparamos com as duas tabelas relacionadas:
Tabela da “metáfora das cores”
Gráfico das muitas realidades
Estamos falando aqui simplesmente de duas coisas, pois a tabela da metáfora das cores se refere basicamente à interpretação do mundo, o gráfico das muitas realidades é referente ao objeto que está posicionado externamente com relação ao sujeito: A realidade!
Algo que pode ser incitado referente à divisão que foi estabelecida proporcionando o entendimento de vários tipos de realidade, é que somos obrigados a considerar que muitas realidades podem se unir formando uma só realidade que se depara com outras realidades num nível superior. É como dizer que a televisão, video cassete, video-game e DVD são todos aparelhos eletrônicos e se unem para formar a categoria de aparelhos eletrônicos, no entanto esta categoria se depara com a tsapeçaria com os móveis e lustres da sala, de modo que unindo tudo temos a unidade sala, que irá se deparar com outras categorias da realidade como: cozinha, quarto, banheiro, átrio e quintal. Isto ocorre em um interminável ato de união de realidades:

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A realidade e suas divisões Haveria no entanto uma realidade que pudesse abranger todas as realidades, aliás, o conceito de realidade nunca pode ser fragmentado: não posso, não sou capaz de emitir uma opinião totalmente correta e fidedigna sobre determinado político caso não conheça sua proposta política, do mesmo modo que é duvidoso ouvir opiniões de alguém sobre determinado escritor se este leu parcialmente sua biografia. Assim se passa com a realidade, um indivíduo, ao menos teoricamente, conhece muito melhor a concepção de arte se é conhecedor de cada uma das artes; Conhece melhor a formação humana se sabe de cada um dos aspectos que perfazem esta formação.
A “realidade essencial” ( que é a união de todas as realidades ) é conhecida quando se conhece cada uma das realidades. Não se pode conhecer o todo se não se conhece as partes. No entanto, a pesar de tudo o que foi dito até agora, existe uma ressalva que deixa abismado a min mesmo, pois é inegável que o mundo fenomênico, mesmo que seja caracterizado por uma diversidade infindável de realidades ocorre que o ato de interpretação delas é marcado pelas mesmas reações de inflamação de espírito. O poema que agora se seguirá têm o intento de algo elucidar sobre o complexo assunto da realidade e de seus processos de interpretação:
O medo será sempre medo
Alegria sempre alegria será
Enternecimento sempre enternecimento
A lágrima sempre lágrima
Sorriso por sorriso será sempre alegre
Sinceridade é eternamente sincera
Através do tempo
Através do espaço
Em todas as civilizações do mundo
Diante de todas as realidades
As reações internas são iguais
Diante das realidades diferentes
Que por isto mesmo
Se tornam realidades iguais
Pois é a interpretação
E não a realidade
Pois é a interpretação que reconstrói a realidade
II
Ora estas, que paródia é a vida
Hilário labirinto de caminhos muitos
Comédia de muitas trapaças
Quem é o que entende a sutil piada
O que ri às favas duma parlapatice qualquer?
Ou o que interpreta a ardilosa e sutil hilaridade
III
Ora estas que é a vida senão uma abstrata construção
Onde tudo depende de interpretação
Um quadro belo é bem visto
Um feio é mal visto
Qual será o belo? Qual o feio?
De quê devo rir e por quê chorar?
Seguir modismos? Seguir o coração?
IV
Sempre mudar
E por isto extasiar, abismar, espantar
E mesmo que ao mesmo eu veja
Estará o mesmo diferente
Porque eu mudei
E por isto extasiar, abismar, espantar
Ciclos iguais não são iguais
Ora estas, que paródia é a vida
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Assim, quando me sinto feliz por correr uma maratona ou conversar com os amigos o feliz será sempre feliz ( relativo à parte I do poema ), mesmo que esteja utilizando estados de conhecimento da realidade diferentes ( em um físico e noutro racional ou sentimental. )
Dançar ou compor pode me trazer uma satisfação de espírito, de enternecimento ainda que sejam categorias diferentes de realidade, na verdade, conforme o poema, são categorias iguais de realidade porque no final das contas o que é importante é a inflamação de espírito e não o método ou meio através do qual ela ocorreu.
O fato de ser católico ou espírita, crente ou budista, espiritualista ou umbandista não irá diferenciar o alcance da religiosidade ou transcendência espiritual porque esta está inerente às potencialidades naturais do ser humano e não às criações culturais externas. A razão pode ser desenvolvida tanto através da matemática como da física ou da lógica dialética, a questão alvo desta discussão é que a sensação de realização após chegar à uma solução para complicado problema é a mesma.
Assim, com esta nova linha de pensamento, excluímos a problemática da necessidade de ter um controle remoto para cada aparelho, poderia convencionar-se de maneira razoável que o entendimento do mundo depende do ser e não do mundo. Aquele que se desenvolve no estudo do entendimento da música, de certa forma irá entender e ter mais facilidade em se sensibilizar em outras formas de arte. Assim como uma pessoa que resolve praticar corrida terá maior propensão a praticar com facilidade triatlon e futebol que outrem já que a resistência é uma caracteristica humana e não pertencente à realidade externa.
Este princípio que coloca a ferramenta da mente como algo que se desenvolve em áreas específicas, mas que entende o todo, pois a alegria, por exemplo, não é algo específico, mas que abarca todas as realidades. Isto porque ela é de dentro para fora e não de fora para dentro. Se entendermos o mundo como sendo uma interpretação, sendo portanto algo de dentro, e às vezes mais de dentro que de fora, devemos convir que a realidade é em si mais psíquica que propriamente material. Por isto, a realidade está submetida à essência interna do ser humano, e se confunde de tal maneira com ela que se transforma nela. ( É ela )
O que passa a interessar agora não é o mundo, mas a interpretação que faço dele ( porque isto constitui a realidade ). O mundo é tal como funciona nossa mente e nosso pensamento, é inimaginável saber como os diversos animais pensam e entendem o mundo, ou como fariam seres extra terrestres.

8 - O casarão e o barraco:
A verdade, a verdade é que sempre haverá a necessidade de algo a mais. A vida não se contenta com o pouco que é oferecido. Números e palavras não são suficiente para saciar a sede de sentir, hão de existir a beleza estética na simetria dos desenhos fantásticos de conchas do mar e a singular relevância dos vocabulários mais hábeis e fecundos. Não satisfaz um conhecimento inócuo de valores verdadeiros, não traz alegria ao espírito uma vida sem vontade, uma música sem sentir. Pois esta é justamente a função do todo, a função do mundo é de um subsídio para que o espírito se movimente, assim como a função das equações matemáticas é fazer com que o homem se extasie diante de uma resultante de simetria inigualável numa concha, a função é movimentar o espírito e nada mais. Não obstante, no decorrer do caminho tropeçamos, julgando que a função da matéria está localizada nela e não em nós mesmos, é como dar mais valor à ferramenta que ao objeto para qual foi ela construída. Exemplos? Como poderia eu dar mais valor à uma música que aos sentimentos e à sensibilização que ela provoca? Independente da música, podemos aqui estar falando de uma música simples composta por músico não famoso ou por min mesmo ou tú, ou então uma música de composição complexa e extraordinária como “Missa Solenis” de Bethoven, pois o que mais vale não é o instrumento, mas sim o nível de sensibilização que se consegue atingir. Metáfora: Pode-se construir um casarão belíssimo, amplo e magnânimo com ferramentas pequenas e pode-se construir um simples barraco dispondo de tratores e máquinas grandes, pois o que mais conta na construção do universo é a vontade e não os recursos de que se dispõem. Estamos falando sobre os valores fundamentais da vida, aqueles que descrevem a vida e não a vida aparente. No caso da música podemos dizer que a música em si é vista como vida aparente, a vida verdadeira é a sensibilidade que a musica provocou, cada ser humano desenvolve em si uma capacidade de inflamar o espírito diante das coisas da vida.
Esta “inflamação” se refere ao modo como aquilo foi interpretado e o quanto aquilo modificou a realidade interna da pessoa, o quanto aquilo atingiu, interferiu, movimentou, mudou concepções antigas, fêz nascer novos estados de percepção da vida. O entendimento pleno do termo “inflamação”, segundo a concepção que estou propondo, é grande importância para o entendimento da função primordial da vida, e da visão mais ampla do que é “vida verdadeira” distinguindo-a de “vida aparente”.
O fato é que as coisas por si só não existem, são subsídios para que exista vida, na concepção de vida verdadeira. É justamente por isto, que na visão espiritual “reencarcionista” existe uma necessidade de vida na carne para que haja o desenvolvimento do ser, do contrário o mundo só seria instituído de vida espiritual, descartando a dualidade matéria e espírito. O que faz com que aumentemos nossa “capacidade de inflamação” perante o mundo é a quantidade de importância que doamos ao que está sendo contemplado. Uma pessoa que têm uma grande capacidade de imersão em detalhes, que entende de maneira bastante criativa, original e espontânea mensagens subjetivas é aquela que mais se “inflama” com o mundo.
Inflamação é a função da vida, quando este processo ocorre é quando surge a vida verdadeira, tanto mais elevado será o grau de inflamação ( intensidade de vida ) quanto seja a entrega daquele que interpreta a vida para com o objeto que observa, que interpreta. Como ocorre esta entrega? Utilizamo-nos para isto de alguns recursos, a começar pelas ferramentas de interpretação do mundo: visão, audição, tato, paladar e olfato. Deste modo você irá perceber determinado objeto voltando-se para ele e entrando em contato através destes mecanismos. Há muitas ressalvas que devo aqui expor, do contrário, se isto fosse tudo não haveria qualquer necessidade de começar estes escritos. De inicio: O mundo é aparente, a única coisa que não é ilusória é a percepção que consegue inflamar, aquela que muda a tua disposição de espírito, somente isto pode chegar a receber o nome de VIDA.

9 - Tipos de “Agentes”
Como o ser humano percebe o mundo que o cerca? Como interpreta esta percepção? Uma música, por exemplo, é percebida por duas pessoas de uma única maneira, mas no processo de interpretação é entendida conforme os valores pessoais de cada uma destas pessoas. Logo, para que haja inflamação não basta a existência de órgãos sensoriais, mas a existência de determinados valores, são estes que doarão à pessoa a concepção de vida à qual ela se julga pertencente. Uma situação aparentemente simples pode fazer alguém chorar e se extasiar, numa extrapolação emocional de grande beleza, intensidade e ternura enquanto as maiores tramas teatrais, os romances mais trabalhosamente elaborados podem ter a função de meros passa tempos ou divertimentos supérfluos. Por quê isto ocorre? Não é isto injusto com o autor? O autor ( Nós somos todos autores nos momentos em que queremos transmitir uma idéia, sentimento ou mensagem à outrem ) têm uma gama de sentimentos, idéias e vivências que deseja consciente ou inconscientemente colocar em sua obra, aliás ele sempre consegue colocar na obra sua própria essência, seu próprio caráter, queira ou não. O fato que estamos discutindo é como se passa a assimilação da obra, seja esta um romance, uma música, pintura, escultura, palestra, ou pessoa. Justo porque a interpretação da arte é um exemplo dado que pode ser aplicado à interpretação da vida, consigo de todas as suas possíveis situações, porque na vida estamos fazendo uma constante interpretação daquilo que vemos ou vivenciamos.
Fora comentado algo relativo à capacidade de percepção de detalhes, e à subjetividade. O que são aspectos importantes na interpretação da arte, e da vida. Na verdade quando temos uma idéia inicial ou um sentimento posteriormente queremos expressar isto, mas nunca podemos expressar em sua forma metafísica ou pura, por causa disso temos de ter algum meio de expressão, este meio é oferecido pelas possibilidades da vida. As expressões faciais por exemplo não são o sentimento propriamente dito, mas sim um meio de expressão dos sentimentos. As expressões corporais se localizam no mesmo termo, assim como todos os sinais que inconscientemente exprimimos. As idéias que temos também são expressões de uma essência anterior.
Devemos esquecer o mundo aparente e dar mais valor aos detalhes que às aparências, a beleza por exemplo pode ser uma concepção estática aparente, de modo que durante a vida fomos educados e condicionados a julgar que determinados parâmetros estéticos são mais agradáveis que outros. Quê pensar disto? Simplesmente que não existe uma concepção de belo absolutamente definida, que os valores são concepções criadas pela sociedade. A não ser que haja dentro de cada ser humano uma percepção únicas, valores estéticos universais que independam do condicionamento produzido pelas tendências culturais de sua comunidade e de seu tempo. Mesmo existindo esta essência estética única dentro do ser humano isto não descarta a hipótese de que a sociedade estará influenciando suas concepções de belo e feio, a pergunta mais pertinente a fazer agora é: Até que ponto isto ocorre? Qual a proporção de influência que os valores culturais da sociedade e do tempo exerce sobre a “essência universal” do ser humano? Isto dependerá de cada pessoa, para explicar esta parte do pensamento criaremos aqui dois conceitos “Cultura externa” e “Cultura pessoal”, o ser se posiciona no mundo entre estas duas vertentes, em proporções das mais diversas, no aspecto cultural infelizmente a sociedade consumista se preocupa mais com consumir que com produzir de modo que em tempos anteriores da humanidade a cultura era muito mais rica que atualmente. O ser humano têm duas possibilidades na vida:
1a) Expressar-se.
2a) Assimilar as expressões do mundo.
Assim a cultura externa se refere à tudo que pode ser assimilado e a cultura pessoal à tudo o que é produzido pelo sujeito. Em minhas buscas tenho me preocupado muito por encontrar a metafísica das coisas, logo, no intuito de imaginar como e o quê faz com que haja no mundo um criação cultural. Há um princípio que se chama “vontade” que indica respectivamente o princípio primordial da vida, pois ocorre antes da vida. O princípio que pode ser chamado de vida, em nossas concepções é “inflamação”. De princípio é importante dizer que a vida se transcorre em comunidade, com miríades de pessoas interagindo, logo devemos colocar em pauta a existência basicamente de agente que exterioriza e agente receptor. Fundamentamo-nos nestas idéias para criar a teoria de transmissão da vida.
AGENTE QUE EXTERIORIZA:
Vontade primordial – Vivência ( “inflamação” ) – Expressividade
AGENTE RECEPTOR:
Percepção sensória – Valores pessoais – Interpretação ( Assimilação e possível inflamação )
Com esta sinopse sucinta fica mais fácil entender a idéia, para ilustrar vamos inventar um caso fictício de um músico: antes que seja criada a música há uma vontade antecedente, mesmo que inconsciente de criar a música, esta é a vontade primordial, que vêm à tona antes que o processo de criação se inicie, o processo de criação musical é entendido como a vivência o que corresponde justamente à “vida verdadeira” que havíamos anteriormente discorrido”, pois a criação artística verdadeira deve envolver sentimentos, idéias e concepções diferentes do que antes se tinha, pois causa movimento ao espírito, algo diferente do que havia antes está em vigência, é por isto que na vida verdadeira existe a “inflamação” . Durante a vivência musical o músico estará se inflamando com o que está sendo criado, ou seja: está tomado por novas sensações, novos estados de percepção interna, pode ocorrer o caso da composição não inflamar o espírito do criador, isto no caso de uma composição absolutamente “matemática”, metódica e racional, neste caso pode nem haver uma vontade primordial, quantas vezes não ouvimos: - Aquele sujeito faz as coisas sem vontade. – Após vivenciar e se inflamar a música o sujeito irá exteriorizá-la através de sua execução, durante a execução há uma re-vivência da composição que envolveu determinados estados do ser. É por isto que cada música, que cada peça de teatro, cada dança transmitem “estados de espírito” ou “estados do ser” peculiares. Pode ocorrer do agente que exterioriza exprimir-se de maneira não adequada ao momento da vivência musical, o que é o mesmo que dizer que uma música foi interpretada sem que o intérprete soubesse exprimir-se segundo o estado de espírito que o compositor estava no momento da composição que era o momento da “vida real”.
Na transmissão da vivência, além da possibilidade de incongruência durante a re-vivência há detalhes relacionados ao agente receptor. É por isto que a percepção pode estar distorcida com relação à vivência original, não impede porém que mesmo que sendo distorcida não indique uma possibilidade de vivência alternativa do mesmo objeto. Teremos de princípio a percepção sensória, que pode ser diferente para cada pessoa, uns são míopes ou relativamente surdas, podem ser hipersensíveis ao frio ou ter visão super aguçada, temos então uma variedade de ferramentas perceptivas totalmente personificada ainda que sejam basicamente as mesmas. Quê causa isto? Uma percepção sensória tão personificada quanto as ferramentas responsáveis por ela. Isto, meus amigos, foi só o princípio, pois em seguida há o fato de que os valores pessoais de cada pessoa são também personificados, neste aspecto, no entanto, é válido dizer que os valores de pessoas de uma mesmo sociedade são mais similares que de sociedades diferentes, que os valores de pessoas de um mesmo país têm maiores possibilidades de serem parecidos que de paises distantes, ainda que isto não tenha de ser considerado como regra irrefutável. Quais são estes valores pessoais? Religiosos, filosóficos, morais, estéticos, de conduta, trabalhistas, unindo todos num conjunto são os valores que definem a conduta de vida do sujeito e que estão relacionados com tudo aquilo que percebe, assim as percepções sensoriais da música são submetidas à estes valores de tal forma que são inseridos na música a saber que ela transmite, mas não é na verdade a música que está exatamente transmitindo aquilo, mas sim o sujeito que está incutindo nela aquilo que sempre esteve nele, a sensação de que algo é trazido pela música pode ser, deste modo, entendida como ilusória, o que ocorre é o entendimento da música. É por isto que o entendimento pleno depende dos valores pessoais.
Após os valores terem sido relacionados com a morfologia, com a formação estética do que está sendo percebido ocorre uma interpretação ou assimilação, que é um momento em que pode haver a “inflamação” ou o movimento das constantes daquela pessoa, onde seus valores poderão ser postos em seus limites ou mesmo alterados. Caso sejam alterados, isto indica que há a transmissão real de alguma coisa durante o processo de exteriorização artística. Ou seja: Valores do que exterioriza são realmente enviados, se são entendidos, ou mesmo tendo sido entendidos, se são assimilados esta é questão à parte.
Podemos colocar outro exemplo em vigência, um corredor que ao chegar ao final de uma prova, adota determinadas expressões faciais, isto é a vivência que ocorre, tendo partido de uma vontade inicial de efetivar a prova, sendo uma expressão que transcorre simultânea à vivência pode-se dizer que vivencia e exprime num só momento. O sujeito que assiste interpreta não a vivência diretamente mas a expressão do corredor. Fazemos isto quando conversamos com alguém e quando assistimos às mais variadas situações humanas.
Não basta ser arguto, perspicaz ou habilidoso para entender a arte ( a mundo ao derredor ) as características do “sensitivo” são outras. Na tentativa de perceber o mundo assim como ele realmente é devemos saber quais são estas características, que aliás, já foram citadas: capacidade de percepção subjetiva, capacidade de imersão nos detalhes, sabemos também que se referem aos valores pessoais, digamos que quanto mais desenvolvidos sejam estes valores mais precisa será a percepção, já que esta depende dos valores.
Me fundamento numa percepção de vida, portanto integral e holística, passando longe da especialização. Um músico não têm, por exemplo, a percepção musical mais apurada que um psicólogo ou um caboclo que tenha larga experiência de vida, pois os valores pessoais são um tanto mais profundo que estudos técnicos ou teóricos da música. Isto ocorre porque a música não é um agregado organizado ou desorganizado de sons, mas sim um meio, através do qual a vida se exprime. O que está sendo expresso chama-se vida, e para que haja uma percepção mais correta e fidedigna da vida devemos estar cheios de valores de vida, por isto o desenvolvimento da percepção espiritual depende da filosofia de vida, para que sobrevenha a percepção mediúnica ( conforme discorrido no livro “valores da contemplação “ ). Exemplo: Uma pessoa lê um romance escrito na época da revolução industrial sem qualquer outra fonte de conhecimento desta época, lê somente pelo prazer da leitura, por certo poderá se deleitar com a leitura e adorar o livro. Digamos que esta pessoa tenha após um ano estudado durante três meses as idéias e a história referente à este período da Revolução Industrial, logo ela percebe o quão ingênua havia sido sua leitura, e o quão distorcido havia sido seu entendimento da obra, o que era vermelho ela interpretou como branco, e o que era azul como lilás. O quê podemos extrair deste exemplo? A conclusão definitiva de que a percepção dos objetos externos depende dos valores internos, neste caso me referí restritamente ao valor “conhecimento”, mas poderíamos colocar outros valores como “sentimentos”, “moral” ou “espiritualidade”. É mais provável que esta pessoa entenda os sentimentos e o que quis o autor do romance transmitir após seus três meses de estudos sobre a época que antes, ainda que ela possa ter tido “inflamação do espírito” na primeira leitura e sendo esta “inflamação” um tanto distorcidas com relação às intenções, sentimentos e vivências do autor, isto não indica necessariamente que esta interpretação tenha sido em vão ou inócua. Mesmo que não percebamos a essência das coisas, o fato é que o que percebemos é também chamado de “vida”, uma percepção distante do estado de espírito do transmissor não deixa de ser a percepção de algo, e digo mais, seria ao mesmo tempo uma criação alternativa de vida. Por isto a vida possui muitas facetas, a maneira mais simples e óbvia de indicar isto é colocar uma pessoa em cada canto de uma sala aberta no teto ao céu numa noite sem nuvens e pedir para observarem um telescópio, cada uma das pessoas terá uma visão distinta daquele mesmo objetos, e supondo que antes nunca tenham se deparado com um telescópio umas dirão que estão vendo uma estrutura complexa e podem até descrever mecanismos cilíndricos, esféricos ou engrenagens metálicas, outras dirão que estão vendo planetas, estrelas ou até nuvens cósmicas de cores diversas. Em quem vamos acreditar? O fato é que mesmo a percepção de cada qual sendo distinta todas são corretas, isto indica que mesmo coisas diferentes e por vezes antagônicas podem ser corretas, é justo aí que queria chegar, porque a percepção alternativa não é completamente inócua, em si possui um valor, e pode fazer a pessoa “inflamar-se” por isto possui sua validade. Isto dá a importância àquele que percebe o mundo como ele realmente é e àquele que interpreta o mundo numa visão distorcida.
O importante é inflamar-se permeado pelos “valores humanos universais” que estão de certo modo incutidos em cada ser humano em maior ou menor proporção independente da cultura externa. A cultura pessoal, retomando este assunto, é referente à aspectos únicos de cada pessoa referem-se às possibilidades de criação, por isto intuição e criatividade são termos chave neste assunto. A criação de uma cultura pessoal depende de ferramentas adquiridas no meio externo, como por exemplo noções de técnicas de desenho, técnicas de interpretação corporal e facial para o teatro e a dança, noções de teoria musical e poética ou literatura para o ato da escrita, assim na exteriorização de uma cultura pessoal existem subsídios externos, que são prestativos na forma de ferramentas, mas não só de ferramentas como também de material útil para remodelação e reconstrução da realidade, como no caso de treinar a vista com muitas obras de pintura para possuir uma conjuntura de possibilidades. Até que ponto uma mente livre e limpa de tudo é capaz de criar? Existe esta possibilidade? Seria uma criação todavia mais personalizada?
10 - Teoria das realidades circulares
( Gráficos dos círculos )
A realidade total ocorre num nível inconsciente, que é considerado como um nível que abrange tudo aquilo que é conhecido. A nossa realidade, no entanto constitui apenas aquilo que estamos vivenciando em determinado momento.
Pois somenos o que fazemos e não um conceito determinado de “ser humano”, Assim o ser humano é tudo aquilo que faz, se está tocando piano, ele é a percepção que têm daquela atividade, se tenta solucionar um complexo problema de matemática ele é o ato de solucionar. Utilizando esta maneira de pensar nós somos o verbo e não o sujeito. Não podemos ser mais de um ao mesmo tempo, ou tenho uma percepção sentimental porque estou imbuído de sentimentos artísticos por algo que faço ou assimilo, ou sou a atitude racional de produzir seqüências dialéticas, ou mesmo interpretar estas de outros.
A percepção da realidade, como visto, provém da interpretação ou da produção e criação. No entanto só podemos interpretar ou produzir uma realidade de cada vez. As realidades diferentes são representadas no gráfico pelos diferentes círculos, que podem crescer ( Metáfora das cores condiz com o crescimento ) na medida em que se utiliza a criatividade, uma determinada realidade que aumenta seu nível de complexidade.
Os círculos estão representados com flechas justamente porque o sujeito percebe a realidade de maneira estática, o sujeito é externo à realidade ( não é ela propriamente dita, ele é o ato de percebe-la ), não obstante o círculo só irá aumentar se ocorrer a incitação de algo novo dentro daquela realidade.
Nossa consciência é de tal modo limitada dentro da percepção da realidade total que só podemos transpassar de uma realidade para outra e conhecer uma de cada vez, sendo que quando estamos em uma perdemos a percepção da outra num nível consciente. Por isto diz-se que a integração das realidades somente é conhecida num nível maior que o consciente, este nível maior é supostamente mais complexo, e por este mesmo motivo não é captado ou entendido pelo consciente. Particularmente denominaria-o de “super-consciente” ou consciente completo.
Nota-se que as diferentes realidades são especificas, podemos supor que um círculo represente a realidade da motricidade humana, e outro a realidade do ato intelectivo, ocorre então o caso de um sujeito que está jogando “hóquey” vive esta realidade, ou mesmo: é esta realidade. Caso ele pare de jogar, e pegue um romance para ler ocorre uma atitude de mudança que se transfigura em nossa tabela por uma flecha que leva à um outro circulo. Esta mudança pode ter sido incitada por um estimulo de fora para dentro, como o fim do jogo e o pedido de alguém para que ele parasse de jogar e fosse ler um livro. Ou pode ocorrer um estímulo de dentro para fora, que conforme explicado no outro gráfico é definido como uma criatividade provinda do campo intuitivo, no caso de que a mudança tenha sido incitada por uma idéia já pré-estabelecida, como: Após jogar “hóquey” vou ler porque sempre faço isso, me acostumei a fazer isso de tal modo que tornou-se um hábito. Trata-se de uma ação que está no campo do silêncio ( que é cíclico e estático ) e mesmo que tenha acontecido uma mudança de realidades esta mudança é aparente pois não foi incitada pela intuição e não repercutiu numa criação ( No caso de um hábito já formado )
Surge então a idéia de que existe no campo total da realidade círculos que ainda estão vazios, e não foram ainda visitados com o surgimento de novos movimentos. O que acabamos de fazer aqui foi dividir a ação do homem em novos movimentos e velhos movimentos. Este segundo conceito ( velhos movimentos ) pode parecer uma denominação inadequada no entanto se refere à mudança de realidades já conhecidas, como passar de jogar “hóquey” à ler, já tendo em si este hábito.
Foi definido de velhos movimentos, justo porque é uma mudança de estados, um movimento por assim dizer, no entanto um movimento habitual. Podemos desta forma cogitar um novo estágio de silêncio: O *silêncio que ocorre em uma realidade só, e o **silêncio que transcorre em uma série de realidades já conhecidas. Da mesma maneira que haverá a ***criação de novos níveis dentro de uma realidade e a criação de novas realidades dentro de uma vasta gama de realidades. ( Conforme a ilustração )
O inconsciente ou super-consciente tudo abarca, e vive todas as realidades ao mesmo tempo, enquanto o consciente que está na ordem comum de nossos pensamentos, é podado por sua própria ferramenta racional e intelectiva.
É então viável dizer que no nível do super-consciente vivemos e somos a nossa realidade como um todo, com esta concepção e com o auxílio visual dos círculos de movimento ficamos abismados com o quão pequena é a nossa realidade consciente. Uma ressalva importante que farei neste âmbito é explicar a atividade de meditação ( conforme descrito no livro: “Valores da contemplação” ) como sendo um aumento do contato do consciente com o super-consciente, ou: uma percepção mais ampla da realidade do ser.
Conseguimos assim com bastante precisão sugerir que comumente as pessoas vivem suas vidas com o silêncio das várias realidades.
O silêncio das várias realidades é o método que, sem saber, as pessoas utilizam para tornarem-se sensitivas, pois o ato de tornar-se sensitivo não está vinculado à realidade externa mas sim à relidade interna, é por isto que o silêncio das várias realidades funciona para a criação de novos níveis de conhecimento da realidade dentro de cada uma destas vivências. Por exemplo: O sujeito têm em sua vida 4 atividades sendo estas: correr, conversar com os amigos, cantar e trabalhar. Durante sua vida ele irá se transloucar de uma para outra formando o “silêncio das várias realidades”, que corresponde ao fato de que ele não irá acrescer uma nova atividade à sua vida. Deste modo suas vivências são sempre as mesmas, entrou num estado cíclico, por isto de estagnação e silêncio.
Este estado poderá mudar de duas formas:
A) Em sua atividade de cantor ele conhece novos modos de cantar, olhando sua atividade de novos ângulos, criando novas perspectivas, ele melhora o patamar desta realidade tornando-a de maior complexidade ( metáfora das cores ) o que condiz com o desenho dos círculos que de maneira gradativa podem ficar maiores, ainda que o circulo que antes existia não se extingue pois está dentro do novo círculo, ou seja: o sujeito consegue cantar como antes ainda que tenha evoluído.
B) A outra mudança do silêncio das várias realidades, pode ocorrer quando ele além de: correr, conversar com os amigos, cantar e trabalhar aprende uma nova vivência como por exemplo desenvolver teses científicas, aí insere-se uma nova atividade: um novo e pequenino círculo, uma nova realidade, ainda que de maneira tosca e primitiva.
Temos então muitos círculos, de diversos tamanhos dentro de um todo que é o super-consciente, vivenciamos um de cada vez podendo aumentar tanto o tamanho de cada um como a quantidade deles. Esta pode ser chamada como: “Teoria das realidades circulares”, mesmo que isto seja meramente a representação gráfica de uma idéia.
11 - Círculos ocultos
É evidente que há em nossas vidas realidades ainda desconhecidas que para outras pessoas podem estar sendo conhecidas ou sendo vivenciadas. Estes serão chamados de “círculos ocultos”, pois mesmo que não conheçamo-los eles existem, no entanto existem apenas em potencial, ainda não possuem um elo de ligação na rede de círculos, este elo só pode ser incitado de duas maneiras:
A) Por um ato criativo provindo da intuição que se localiza no super-consciente e não funciona de maneira intelectiva ou racional.
B) Tendo sido uma sugestão, obrigação ou necessidade provinda do meio externo, ou seja: de fora para dentro.
Os circulos ocultos são potenciais de vivência, ou outras realidades existentes no mundo real externo mas não em nosso super-consciente. Nosso super-consciente apenas abriga as realidades que já pudemos entrar em contato. O mundo real, ou “realidade total” ( que está localizada externamente ao sujeito ) engloba em si todos os tipos possíveis de realidade, sendo assim é formado apenas por círculos ocultos, são ocultos porque tudo aquilo que não é experimentado não pode existir por si só. Ou melhor dizendo: o mundo não existe se não for experimentado . De maneira pouco mais audaciosa e harmoniosa diríamos que ele existe para ser interpretado. Analogia: Qual a função de uma peça de teatro senão para que o público a prestigie? Acaso se fosse apresentada num teatro vazio poderíamos dizer que ela está existindo? Algo somente existe se estiver cumprindo sua função essencial, ou aquilo para qual foi designado.
Seguindo esta linha de raciocínio notamos que a realidade total está inserida no mundo ( Tanto externo quanto psíquico ), e se constitui de círculos ocultos, dos quais apenas vivenciamos uma ínfima parcela. Isto quer dizer que nosso super-consciente mesmo que imbuído de capacidades criativas, originais e intuitivas assimila não realidades inéditas senão que já são pré-existentes potencialmente falando, representadas por círculos ocultos da realidade total.
Surge então a seguinte questão: Pode um círculo já constituído morrer? Quando deixamos de praticar determinada atividade quê acontece com aquela vivência? Fica estagnada? Pode o super-consciente ficar encarregado de fazer os níveis daquela realidade crescer, quando o consciente se preocupa com outras realidades?
É como dizer que paramos de desempenhar determinada atividade por um tempo, vamos supor: 5 anos, continuamos com outras atividades, dentro destas outras vamos desenvolvendo cada uma delas, ou seja: criação de vários níveis dentro de uma realidade. Quando porventura retornamos à atividade que há 5 anos estava parada como nos depararemos com ela? Haverá se consumado? Estará no mesmo nível como quando a deixamos?
Pelo motivo de que o desenvolvimento dos níveis de conhecimento da realidade são inerentes ao ser conhecedor e experimentador e não ao objeto experimentado ocorre que esta vivência mesmo tendo há muito tempo sido posta de lado está com níveis ainda maiores que quando deixada. Como se tivesse crescido sozinha, quando na realidade quem cresceu foram os potenciais perceptivos e atuantes do sujeito.
Por isto o mundo ( e todas as suas realidades ) é considerado apenas como um veículo para o desenvolvimento da percepção do ser e não como um fim último. Deste modo o “ter” perde a importância com relação ao “ser” e sucumbe a concepção materialista hoje em dia amplamente difundida.
12 - Interpretação da religião
Mediante os aspectos religiosos do ser humano: Qual a importância do corpo? Para responder à esta questão devemos antes definir mais explicitamente o termo “religião”. A religião, conforme o desenvolvimento de nossas elocubrações está localizada no âmbito “transcendental”.
Transcendental se refere à falar de prática empírica com Deus, mas também se posiciona na parte intelectual quando se transcorre por aspectos históricos, teológicos ou filosóficos, há também nela a parte sentimental que consiste na adoração de um Deus ou imagem.
É evidente que os 5 meios de conhecimento da realidade que o ser humano dispõe são seus únicos vínculos para conhecer determinado objeto, a religião sendo um objeto, está pois submetida à este mesmo processo.
Podemos descrever como conhecimento físico da realidade as procissões, penitências, auto-flagelação ou mesmo o jejum, e coisas que se referem aos sentidos de percepção do espaço físico como o odor de um incenso, a visão de uma imagem ou um filme ou encenação de temas religiosos, a audição de cânticos sagrados ou preces recitadas ou mesmo no paladar a degustação de bebidas sagradas. Deste modo completamos no âmbito religioso os 5 modos de interpretação da realidade. ( Físico, Racional, Sentimental, Intuitivo e Transcendental )
Insisto em dizer que o objetivo último da realidade é “inflamar o espírito”, levando-o à um novo estágio de conhecimento da realidade. Não importa através de qual dos recursos o sujeito utiliza para se inflamar, mas sim que ele obteve o movimento.
13 - Expansão e explosão dos círculos
Até que ponto podem os círculos aumentar? Os círculos aumentam porque a pessoa se torna sensitiva em determinada realidade da vida, supõe-se que haverá um momento em que ela conhece em tal grau a realidade que acaba por conhecer a realidade tal como ela é. Imaginemos então que chegando neste ponto o circulo se estoure ou se expanda deixando que toda a realidade que está dentro se espalhe através de todo o super-consciente. Mesmo através dos círculos ocultos que são apenas realidades em potencial.
As ilustrações geográficas ou geométricas estão postas para facilitar o entendimento da idéia, pois o desenho, assim como a linguagem são recursos intelectuais do entendimento da realidade
Então o círculo se explodiu e espalhou todo seu rico e já complexo material por todo o super-consciente, de modo que nos deparamos agora com uma “fusão de realidades”. O que foi dito antes é agora então errado, pois fora proferido que num nível consciente o ser humano não pode viver mais de uma realidade ao mesmo tempo, no entanto é exatamente com isto que nos deparamos agora.
Para exemplificar este processo podemos colocar determinada pessoa como sensitivo em último grau da realidade religiosa, seu círculo de religião aumentou tanto de tamanho que explodiu, espargiu-se por todo o super-consciente inserindo-se também nas outras realidades como por exemplo a música ou os aspectos sociais.
Sua percepção musical agora denota grande influência da realidade religiosa, assim como a conversa com outras pessoas ou a sociabilização, na qual há importância além da aparente, nem é necessário para que esta pessoa aplique caráter religioso às coisas que as músicas sejam religiosas ou que as conversas sejam sobre este assunto. Pode ser samba ou música africana podem ser conversas sobre sexo ou banalidades do dia a dia, é a percepção desta pessoa que é vinculada à religião, é por isto que diz-se que a realidade última das coisas não são s\as coisas em si, mas sim a resultante final que ocorre após os conceitos e realidades pessoais haverem sido aplicados à realidade externa.
Isto é a prova de que podemos ao mesmo tempo viver realidades diferentes, contanto que tenhamos desenvolvido à um tal nível o conhecimento de determinada realidade à fazê-la explodir e envolver as outras.
Se explodiu, envolve até os círculos ocultos, ou realidades ainda não conhecidas, o que pode parecer difícil de imaginar, no entanto passa que quando conhecemos algo novo já estamos influenciando-o com nossas próprias expectativas, imaginações, concepções e realidades internas por assim dizer.
É evidente que se pensarmos assim a realidade pessoal que mais irá influenciar no novo objeto de conhecimento ( Antigo círculo oculto ) será aquela que estiver mais desenvolvida, que é aquela em que o sujeito é um “sensitivo total”, já explodida.
Por isto as pessoas não têm apenas idéias diferentes quando tomam contato com o mesmo objeto, como podem também utilizar um veículo de interpretação diferente, e ainda misturar círculos de realidade.
É como dizer que posso interpretar Bach racionalmente ou emotivamente, e ainda mistura-lo às sensações provindas de uma maratona.
O objetivo final é então dilatar e explodir todos os círculos e passar a interpretar tudo utilizando tudo, isto representa atingir o nível super-consciente e mantê-lo sob total controle, o inconsciente comumente tão restrito, frágil e perdido transformar-se-á no próprio super-consciente.
Em potencial, portanto, somando-se todos os círculos ocultos o ser humano é completo, e se neste final ele interpreta tudo através de tudo é como se não houvesse movimento quando ele se desloca de uma realidade à outra, na verdade não há, pois ele está em todas ao mesmo tempo.
14 - Sobre a liberdade aparente
Este é um objetivo que desde o princípio está incrustado em potencial, que representamos como círculos ocultos, e se isto ocorrerá num determinado momento da vida, é notável dizer que todo movimento é aparente ( inclusive a criação de uma nova realidade ). Pois em potencial a realidade é uma só, e o indivíduo crê que cria algo novo, no entanto esta novidade é uma percepção de sua estrutura pessoal que sempre pertenceu ao campo da realidade em forma de realidade oculta.
Toda a liberdade da criação é portanto ilusória, aliás dentro deste conceito, podemos chegar a pensar que a própria liberdade da vida é uma sensação ilusória, já que tudo sempre existiu, nada foi criado ou inventado. Estamos de qualquer modo fadados a seguir um caminho pré-estabelecido: o “caminho das possibilidades existentes ou círculos ocultos”
O movimento corporal passa a ser igualmente não uma liberdade, mas está contido numa variedade de possibilidades existentes, ainda que os movimentos possam parecer novos ao praticante já são pré-existentes na realidade.
Chegamos à conclusão de que o objetivo seria a realização pessoal, mesmo estando vivendo em uma liberdade aparente, e na maioria dos casos: não se sabendo que se vive em uma realidade já delineada por si mesma.
A sensação de êxtase numa realização é superior ao caminho limitado transcorrido para haver chegado à esta realização. Assim a liberdade não se situa no campo das possibilidades mas sim no campo psicológico. “Sou livre porque sou completo, e não porque faço o que quiser”. Ainda assim a liberdade é apenas uma sensação aparente, pois a realidade já é totalmente premeditada em potencial.
15 - Encontro com a realidade total
Uma outra discussão que se faz presente na filosofia da realidade é o fato de cada um ter uma “realidade pessoal” somente é válido para designar níveis de conhecimento da realidade que sejam inferiores ao “nível total do sensitivo”, pois este nível máximo de conhecimento da realidade é considerado como perene, onde as idéias eternas estão impregnadas, são idéias, sentimentos, sensações físicas, intuições e estados transcendentais eternos, que serão sempre os mesmos através de todos os tempos de nossa civilização.
O nível de contato com a realidade ( que se insere nos 5 âmbitos ) é considerado como comum à todos que o atingem, porque insere verdades eternas, por isto quando o ser humano atinge este nível já não podemos mais falar de realidade pessoal.
Podemos assim, dizer que há uma cumplicidade, harmonia e consenso geral no nível sensitivo máximo, o indivíduo não perde sua particularidade porque ela sempre fez parte do consenso geral, era ele que não o via. Realidade pessoal no sensitivo máximo é a mesma que a realidade total externa, é este momento em que funde-se a realidade interna com a externa de tal maneira que as duas passam a ser a mesma.
A primeira idéia que nos vêm à tona é que o sensitivo, quando nota que sua verdade é igual à verdade de todos, perde sua particularidade. Na verdade ele adquire a noção de que sua particularidade se localiza num ambiente harmonioso, e mesmo apesar de ser uma particularidade não é uma característica que o diferencia da verdade de todos, mesmo daqueles que não atingiram o nível sensitivo, pois ele compreende que estes em potencial são iguais aos sensitivos.
Nesta teoria os seres humanos são todos iguais sob todos os aspectos, o ser humano completo e integral não se enfada por qualquer erro ou diferença de seus semelhantes, pois sabe que pelo fato de em potencial todos serem iguais as diferenças tornam-se ilusões momentâneas.

16 - Divagações a respeito do sonho e discussão sobre o sentido e a função do mal.

Não se pode querer extirpar o mal como se ele nunca houvesse estado ali, deve-se procurar entendê-lo e conhecê-lo para resolver e harmonizar.

Visão noturna do sensitivo

A noite hoje está tão bela
Eu amo ver a chuva cair à noite
Iluminada por luzes da rua
Os fios de eletricidade, com pingos
E as folhas verdes das árvores
A noite hoje está tão bela
Se eu pudesse eu seria a própria noite
Para viver este momento eternamente
Ficaria satisfeito até
Se apenas sonhasse que sou a noite
Porque no sonho
No momento em que sonhamos
Achamos que aquilo é real
Então me sonho seria realidade
Enquanto sonhasse
Será que quando estamos despertos
Não estamos sonhando?
Porque acreditamos ser real a realidade
E se porventura acordamos da realidade
Notaremos que foi apenas um sonho

O mal é uma desarmonia, algo ilusório, uma vontade meramente humana, não essencial, o mal é a extrapolação da dúvida humana, falta de caráter e precipitação ignorante. O mal não têm por isto alicerces sólidos ( por mais forte que possa aparentar ) pois se fundamenta na dúvida e na incerteza. Tudo aquilo que se fundamenta na dúvida está fadado a ruir, pois não é absoluto em si, não é profícuo pois o mal traz o mal a quem o pratica pelo simples fato de ele praticar o mal, e não necessariamente por uma resposta má ao mal que praticou.
Além de se fundamentar na dúvida e incerteza têm como base a ignorância, o desconhecimento das leis e preceitos morais, humanos e divinos. Que Deus, infinitamente bom ensine à todos os seus filhos o caminho do bem, convertendo aqueles espíritos que percrustam inutilmente os caminhos enganosos da erraticidade.
Ocorre que com a conotação fria, supérflua, destituída de valores morais, sentimentais, religiosos, ideológicos e artísticos em que se situam as verdades “angelicais”, de pureza e santidade, é verdade que há grande distinção entre tristeza, melancolia e o mal, o mal de que falo aqui é destrutivo e não construtivo.
O mal não pode ser visto no entanto com uma idéia definitiva que ele não possua lá sua razão de ser, pois tudo o que é no mundo algum motivo deve ter para aquilo ser. Isto nos traz a idéia de que o mal possui uma razão de ser, e uma certa justiça para ser daquele jeito tão malévolo, ainda que possa estar atuando de uma maneira pouco drástica, esta atuação se deve justamente por causa de sua ignorância. Dizer que o mal não possui sentimentos seria incorreto quando na verdade borbulham sentimentos dos mais explosivos dentro de si. É mesquinho tentar não enxergar o mal, pois o mal é parte da vida, os sofrimentos são parte do caminho em que estamos, seria patético de uma mesquinhez sem proporções definidas dizer que tudo é bom, de que só existem no mundo belezas, a pessoa que faz isto é aquela que mais está acometida por uma ignorância terrível, talvez seja um medo desconhecido que faça ela crer assim, o medo do mal. Seria estúpido ficar olhando só um lado da vida crendo que o outro é inexistente, pessoas que seguem religiões das mais diverças e crêem que a força do espírito provêm do bem estão muito enganadas, pois é o mal, e as situações desagradáveis, dilemáticas, malévolas, injustas que causam o crescimento poderoso das forças benéficas e santas do espírito. Há uma luta eterna entre as forças do bem e do mal no mundo, isto pode ser visto por todas as culturas, em todos os períodos da humanidade. O mal passa a ser uma peça elementar no entendimento verdadeiro da vida, é uma peça necessária, não podemos ser tão falsos que não são vejamos à isto, o mal está impregnado na arte de maneira tão forte que chega-se a pensar que ele é elemento necessário para a verdadeira força do espírito, força da personalidade, como nota-se nos na tristeza incomensurável na Sinfonia Fantástica de Hector Berlioz, o que repercute numa força de espírito ilimitada. Quê quer dizer isto? Quê indica isto? Que o mal é necessário para a ascensão do espírito. Assim sendo o mal é ainda mal, mas é o caminho para um bem mais forte ainda que se não se utilizasse deste recurso, pois quem é acometido pelo mal fica mais forte todavia que se assim não tivesse transcorrido. Deste modo ainda que o mal, numa análise rápida e supérflua seja um mal, a longo prazo ele representa a melhor coisa que pode ocorrer, pois fará que a intensidade das forças do espírito sejam avassaladoras, de modo que a força moral se eleva à patamares dos mais incisivos, onde não haverá refutação possível. Quê é da vida sem sofrimento? Sem lágrimas e amarguras? Sem caminhos difíceis e penosos? Quê é? Uma ilusão alegre? Para resumir este assunto de maneira sucinta proponho interessante poema:

Sementes da floresta:
Mal é parte do mundo
Um estúpido à isto não vê
Vive em sua ignorância feliz
Que não é a verdadeira felicidade
Acometido pelo mal estou
Crio forças de meu âmago para à isto superar
Pois isto é parte
Ainda bem que passo pelo tormento
Pois o tormento faz-me mais forte
Que se assim não fosse
Forças de meu espírito
Se elevam de maneira infindável
E quando caído estiver
Quando torpe e terrivelmente dolorido
Brilharão meus olhos
E gritarei até que meus pulmões doam
Crescendo em espírito
É esta a força da vida
É este o bem supremo
Tão arraigado com o sofrimento
Quanto uma floresta que queima
E plorifera sementes
Para novos florescimentos


17 - Simulação da realidade
Hoje um ser humano precisa para ser inflamado ou sensibilizado de uma “simulação da realidade”. Ou seja: é mais fácil se emocionar assistindo à um filme que com as situações das tramas naturais da vida. Isto porque o filme possui recursos que na vida foram perdidos, tais como: Musicalidade, beleza, importância, valor e por vezes chegando ao cúmulo de perder o próprio enredo, isto ocorre de tal maneira que a vida passa a ser uma sucessão contínua de banalidades e futilidades.
Da maneira descartável como vivemos, os filmes se tornaram realidades para a percepção essencial do homem ( Realidade ilusória? ), passam estas realidades maquinadas e cheia de efeitos especiais a ser algo mais interessante para ser vivenciado que a própria vida. Ora bolas, mas que hilaridade!
Na verdade, para a vida do espírito, não existe diferença entre lembranças da vida, música, filme, teatro, pintura ou a própria realidade do mundo que é constantemente interpretado pelos sentidos.
O objetivo da realidade é sensibilizar o espírito humano através das 5 potencialidades de inflamação, não obstante se entende como realidade tudo aquilo que nos cerca, ou tudo aquilo com o qual temos a capacidade de travar contato, um filme ou teatro, por exemplo, representam a simulação da realidade, o ser humano não só se sensibiliza com a realidade propriamente dita como também com a “simulação da realidade”. Um jogo de futebol é uma realidade programada com regras. A sociedade criou algumas regras de convivência. A realidade essencial pode ter regras? Não é dotada de liberdade total?
Esta diferença inexiste porque o objetivo último é sensibilizar o espírito, por isto, o nível de “experiência existencial” pode ser igual lendo um livro ou viver o mundo sensível, e espantem-se leitores pois na maioria das vezes o livro acaba sendo mais interessante que a vida.

18 - Sobre a liberdade ( Continuação )
Notamos que em nossas divagações o tema da liberdade torna-se interessante. Pelo motivo de que tudo está com antecedência existente na forma de círculos ocultos, e de que a realidade total é perene e comum à todos diríamos que a liberdade é uma falsa impressão, e que a própria individualidade está inserida num meio harmonioso e comum.
Liberdade = Harmonia e realização
A liberdade não é a fuga de um determinado sistema, mas sim o encontro da harmonia dentro dele. As pessoas só se sentem reprimidas quando estão atuando de maneira que entrem em atrito com determinados sistemas ou ambientes.
Entende-se perfeitamente que a liberdade é o sentimento de realização que Maria Tereza coloca quando retrata seu sentimento de liberdade na largada ( Entrevista oitava do cap. 27, do livro “O correr e suas nuanças” ) A liberdade, ou a sensação de liberdade pode estar inserida dentro de um sistema com limites. Contanto que haja harmonia e realização. Contanto que não se queira ultrapassar ou contrariar os limites. Isto é aplicável em qualquer atividade humana.
Se considerarmos que a realidade está localizada na mente humana devemos também afirmar que a liberdade aparente é real para quem a percebe, mas não para a realidade última. ( Para um sujeito que vê de fora, que possui uma compreensão mais ampla daquela situação e que por isto nota que mesmo ele sentindo-se livre que não está livre. )
Para a realidade última, para os sensitivos que já têm a percepção de cada coisa pelo todo, é lógico pensar que eles têm total consciência de que a liberdade é aparente, os sensitivos experimentam a liberdade entendendo-a como harmonia e não como criação de algo novo ou como sensação desconhecida. No entanto há ainda uma outra liberdade, que seria em tese a única liberdade na acepção de algo novo e desconhecido. É a liberdade que se passa no último nível de contato com a realidade que o ser humano pode ter: o nível transcendental!

19 - A união dos super-conscientes.

Ilustração

- São todos iguais porque são perenes
- Não existe movimento ( somente na aparência )
- Não há liberdade, mas harmonia e igualdade
- O sensitivo nota que são todos iguais em potência
- O aprendiz não percebe a igualdade
O sensitivo total percebe cada coisa através de tudo, entra em cumplicidade com o mundo que o cerca, entendendo que todos são iguais nas verdades eternas, por isto é como se ele ( sendo representado pelo círculo da super-consciência ) explodisse fundindo-se com os outros círculos, pois todos são a mesma coisa: a “Super-consciência da realidade intemporal”.
20 – Poder mental

A vontade é uma chama que queima no espírito daquele que corre. Quando a vontade já está bem estabelecida ela gera auto-confiança, pois aquele que ainda está em dúvida não pode confiar em suas idéias dúbias. Portanto a vontade surge no momento em que a pessoa já estabeleceu determinadas metas com clareza e objetividade. A vontade que está imersa na confusão é tão incerta quanto o ambiente em que está.
A prova da maratona transmite ao corredor um objetivo muito bem definido, que traz um ambiente propício ao surgimento de uma vontade muito forte. A vontade pode surgir de uma influência externa ou a partir de um principio interno, este principio interno surge através da constante comparação que fazemos entre as coisas quando pensamos. Nosso pensamento, de maneira automática sempre compara informações, e as submete aos conceitos, idéias e valores que já temos como integrados em nós.
Assim surgem as novas idéias, que podem nos sensibilizar de tal forma a tocar o campo dos sentimentos. A vontade pode ser definida como nova ou comum, vontade nova é quando surgem-nos novas idéias que incitam coisas inauditas, que logo nos proporcionam uma nova vontade. Entretanto há ocasiões em que temos vontade de fazer coisas que já conhecemos ou que fazem parte de nossos hábitos.
Pode ocorrer de uma vontade nova ser fugaz, e de uma comum ser intensa ou o revés. O que irá definir a dimensão que a vontade toma em nossos espíritos é a na análise e julgamento que constantemente fazemos da experiência vivencial.
O corredor, pois sempre faz em seu íntimo uma constante análise de suas percepções da corrida durante um treino ou competição, de modo que submete a experiência ao crivo de seus ideais, idéias, pensamentos, emoções, enfim: conceitos pessoais. ( o que num conjunto total pode ser chamado de realidade interna )
É justamente assim que molda sua vontade de acordo com as percepções, que vão constantemente mudando durante a prova. É evidente que suas percepções físicas ao chegar ao quilômetro 30 não são as mesmas que no inicio. Percepções diferentes provocam níveis de vontade diferentes. O que irá dizer se o nível de vontade neste momento será maior ou menor serão os conceitos internos.

21 – Sobre a alegria

A alegria é um estado inebriante, que hipnotiza ao ser que a vivencia de modo completo, esta sensação pode ser amplificada por um ambiente festivo onde há música, outras pessoas e efeitos de bebidas alcóolicas. Pode ser provinda também de uma sensação de realização, poderíamos ainda distinguir um estado de “alegria serena”, que de maneira sutil se deleita com a experiência. Em geral esta segunda é tão ou mais intensa que a primeira, e ocorre em pessoas mais introspectivas e comedidas. Os indivíduos que têm uma percepção da realidade mais complexa não se comprazem por exprimirem uma alegria supérflua, banal ou fútil, mas sim precisam de determinada quantidade de valores ( morais, intelectuais, sentimentais ) para que em si seja produzido o estado de alegria serena. Os sensitivos podem se sensibilizar de forma extraordinária por jogos intelectuais, que são bastante apreciados na literatura burlesca de boa qualidade, com fraseados e percepções que à muitos pode passar despercebido.

22 - Metáfora musical

A maneira como o ser humano percebe o som é bastante complexa, mesmo que na maioria das vezes ocorra uma redundância de valores à produção sonora. A metáfora que aqui será proposta é colocada para explicar o que definimos antes como “realidade perene”, ou verdades irrefutáveis ( quando entendidas ). No nível sensitivo total temos que este se justapõe com todos os outros, pois entendeu que a realidade é única e não abrange variações. Por isto a visão de todos os sensitivos é a mesma.
Há no mundo diversos estilos musicais, cada um possui uma personalidade específica, e transmite por sua vez um estado de espírito específico. Assim como cada instrumento musical têm uma característica sonora peculiar e específica. ( ainda que tenha em si possibilidades de variações rítmicas infinitas )
Em nossa metáfora cada instrumento representará uma parte da realidade perene, já que esta, ainda que seja uma só, abarca muitos círculos de realidade ( não esqueçamos que todos os círculos explodiram mesclando o material que dentro deles estava, ou seja: Tudo é interpretado através de tudo )
Piano: É um instrumento majestoso e imponente
Violão: Versátil e prático
Flauta: Sensível e espirituosa
Fagote: Cômico e quase patético
Violino: Profundo, toca a alma
Metais e tambores: Representam a imponência e reverberação
É evidente que cada instrumento pode ser tocado de infindáveis maneiras, podendo exprimir todos estes adjetivos, esta base foi criada por força de entendimento. Diz-se que o tambor é um instrumento de tamanha imponência e reverberação que o espírito de qualquer sensitivo se compraz em dar a devida atenção à ele, irá então se inflamar produzindo o conhecido movimento da percepção da realidade.
Caso o indivíduo seja um aprendiz irá perceber o mesmo tambor de maneira mais simples, despreocupada e fugaz. A realidade depende do nível de importância que se dá à ela e da complexidade dos valores internos.
Quero me ater aqui ao fato de que o sensitivo, para que possa perceber as coisas do mundo, sejam elas musicais ou não, deve focalizar a sua atenção num ponto extremamente específico, concentrando-se com tal precisão que este ponto irá se ampliar e atingir sua alma.( seja um batuque, uma expressão facial ou uma dor )
Caso não haja esta concentração, dificilmente haverá inflamação do espírito. Esta metáfora será de bom grado, por ela já abordamos o aspecto inerente à concentração.
Cada instrumento é uma proposição da vida, uma percepção de verdades eternas: da alegria, da tristeza, do medo, da imponência, da hilaridade ou da ternura. Após aprender a interpretar corretamente cada instrumento, e a concentrar-se nos “motivos” e ritmos tocados, entendendo-os cada vez mais intensamente o aprendiz irá se reportar no mundo onde tudo se une: uma orquestra, lá todos os instrumentos irão se fundir numa só música. Assim como na vida todas as formas de expressão do ser humano são disseminadas por todo o mundo real, e captadas por uma só pessoa: o sensitivo, ele deverá então ter a sensibilidade suficiente para captar todos os detalhes da intrincada senda dos sentimentos humanos e traduzi-los em seu entendimento numa só concepção, numa só música, do contrário ele não poderá entender a realidade assim como ela é, mas fragmentos sem nexo aparente, ou tendo nexo não é o nexo mais verdadeiro e completo.
Como fazer isto? O que significa captar o detalhe de um sentimento? Captar é o mesmo que perceber e interpretar, a melhor maneira de entender a realidade assim como ela é, é justamente não submetê-la ao crivo de nossas concepções pessoais, pois se isto fizermos estaremos re-interpretando a realidade e distorcendo-a.
É fácil entender que os outros vêem o mundo de maneira diferente que nós, para entender os sentimentos de outra pessoa é necessário colocar-se no lugar dela, pondo à parte nossas concepções e idéias pessoais. Aliás o sensitivo já não têm muitas idéias pessoais, pois está integrado com todos em idéias e sentimentos, e por isto têm facilidade em não ser ele mesmo, mas ser outro para melhor entendê-lo.
Com esta estratégia estende-se melhor a psique dos outros, que em se falando de psique potencial são tão iguais quanto todos. Se a música que soa não agrada ao sensitivo há algo errado, pois a música não têm a necessidade de ser bela e harmoniosa ( Numa primeira interpretação enchemo-la de pré-concepções e esteriótipos ), o que há de errado não é em si a música, que pode tr momentos de tensão ou até terror, mas sim a interpretação daquele que ouve.
A vida terá momentos desagradáveis, tensos, maléficos e aterrorizantes. Em verdade os sensitivo não se deixa impressionar por tais momentos, pois sabe perfeitamente que trata-se de uma ilusão, porque as únicas realidades são as perenes, que vivem em todos em forma de potencial, por isto o mundo sempre foi e será harmonioso.
Não se pode entrar em atrito com uma pessoa que não entendeu o que é o bem, mesmo que este seja violento. O sensitivo é indiferente às ilusões da erraticidade, pois sabe que são momentâneas, e que em real “não-são”. Não se pode sequer aplicar o verbo ser, é o mesmo que dizer que um gênio que nasceu num ambiente não propicio a desenvolver suas potencialidades “não está sendo”.
A bondade, sendo uma qualidade perene, quando suprimida pela ilusão da maldade não está sendo. A maldade sendo ilusória não pode ser.
A desarmonia na música é aparente, pois notas com tons estranhos e ritmos pérfidos não podem ser. Os sensitivos os interpretam como harmoniosos porque entendem o todo em potencial.
Entender o sentimento de uma pessoa é notar como ela se expressa, mas também procurar conhecê-la em detalhes, como quais são as circunstâncias em que se encontra relacionando suas idéias e pensamentos, não deixando que as concepções pessoais interfiram na percepção do sentimento alheio.
Assim como quando um músico toca um instrumento devemos nos concentrar na música, mas também na maneira como ele se expressa enquanto toca: Desde os movimentos mais gerais como pés, ombros e corpo, e os mais refinados como mãos, boca e principalmente as expressões faciais com os movimentos executados pelas pestanas, testa e boca nos movimentos dos lábios. Devemos ainda, numa atitude todavia mais atenciosa, minuciosa e “extropectiva” além disto, notar o brilho de seus olhos e logo tentar imaginar o que ele estaria ou está sentindo. Vamos ainda mais profundo, pois o som pelo som não quer dizer nada, ainda que tenha ritmo e entonação, deve-se num empreendimento complexo tentar fazer uma interpretação filosófica da música, ou seja: Dividir a música em muitas partes e perguntar-se: Quê quer dizer cada parte? Esta interpretação deve ser feita através de auto-sugestões fornecidas pelo intelecto, por vezes pela intuição.
Passadas estas fases é possível chegar ao sentimental, em que com a união de todos estes fatores a música se insere de tal forma no receptor que acaba por provocar-lhe os sentimentos, inflamando-o profundamente, quiçá tanto ou mais que o próprio interprete ou mesmo compositor no ato da composição. Oh amigos! Quão grande são as audácias de nossas divagações filosóficas! Vejam em que situação nos deparamos: O fato é que a percepção não depende de outra coisa senão do nível de importância dada à ocasião em que se assimila o objeto. Podemos nos deparar com um interprete música meio indiferente ao que faz, no mesmo tempo em que um sujeito aprecia de tal maneira a música que chega aos prantos de uma emoção efusiva, o fato de um músico estar indiferente se refere ao fato de que ele não percebe a música com alma, com o movimento do espírito, isto não significa necessariamente que ele não se utilize de expressões faciais, pois estas podem ser fruto de uma criação, uma representação teatral muito bem executada.
Terei labores dos mais dispendiosos, incalculáveis no intuito de intentar traduzir os dados acima à uma analogia com a interpretação ou o entendimento dos sentimentos, vamos antes, de uma forma simplificada, dividir as fases que foram descritas.
Físico ( Concentrar na música )
Expressões mais gerais ( Corpo, pés, mãos )
Expressões refinadas ( Expressões faciais: lábios, pestanas )
Racional ( Nível abstrato )
Imaginar o que ele estaria sentindo
Interpretação filosófica da música
Sentimental ( Nível dos sentimentos )
Através de intelecto, intuição e físico
É notável perceber que a ordenação descrita acima condiz exatamente com a ordenação dos 5 níveis de percepção da realidade no ser humano, sendo o início físico pela percepção auditiva e visual, depois racional através do recurso da curiosidade de imaginar que estaria pensando ou sentindo o músico ou mesmo a interpretação filosófica da música, até que então como que num surto mágico e inintendível pelo intelecto chega-se no nível sentimental, que alicerça nos 2 níveis anteriores com o auxilio da intuição que já constituiria o quarto nível.

23 – Expressão, transmissão dos sentimentos
Organizei, no entanto não transcrevi para a interpretação dos sentimentos... Ocorre com a interpretação musical o mesmo que com a interpretação de sentimentos, com a diferença de que h’um passo a menos, j’que a música nada mais é que um vínculo entre sentimentos e expressão. Aliás não existem sentimentos em seu estado puro, pois eles sempre exigem um meio de expressão, seja um sorrir ou chorar, ou meios mais complexos oferecidos pelas possibilidades artísticas.
O sorrir e chorar não são os sentimentos propriamente ditos senão uma maneira de expressa-los. É como dizer que o vocabulário é uma ferramenta para expressar a idéia, por isto é que existem muitas idéias que custam a se encaixar num modo de expressão que faça jus à suas realidades, par que sejam entendidas como são, por isto também muitas pessoas não conseguem expressar com exatidão o que sentem: Os sentimentos vão até onde a expressão intelectual não pode ir.
Assim, as ferramentas são sempre limitadas, e por isto deve-se recorrer à outras ferramentas para expressar determinado sentimento, tais como: música, pintura, escultura, literatura ou dramatização.
Deste modo o sentimento pode ser demonstrado e transmitido com melhor nitidez, com a exatidão que permite a ferramenta utilizada.
O segundo passo é a interpretação deste sentimento, mediante o que foi dito, nota-se que melhor interpreta-se aquilo que foi melhor expresso. Caso o sujeito saiba abster-se de suas próprias idéias e convicções ele não irá interpretar senão assimilar o que está sendo expresso, e entender aquilo como realmente é, não distorcendo aquela verdade. Tanto melhor quanto mais bem expresso estiver o sentimento, para isto o homem criou a cultura artística, que deve ser efetivamente utilizada com este fim, inclusive dentro do contexto estético e filosófico.
Como entender quais os sentimentos que perpassam um corredor durante ou ao final de uma maratona? Esta questão é de larga envergadura, talvez tão larga quanto os quilômetros que corre este atleta. A princípio deve-se notar como estão sendo expressos seus sentimentos. Nos atenhamos agora à seguinte descrição:
“Era um momento crucial, matar ou morrer, já estava por volta do quilômetro 30, minhas energias já haviam se exaurido, no entanto havia em min uma força de vontade incontrolável, que me fazia continuar correndo seguidamente com muitos gritos, de ânimo e euforia que me davam a certeza de que eu terminaria aquela prova.”
Neste caso temos a descrição do corredor, imaginemos um atleta já extremamente fatigado, ainda correndo e gritando, sentindo-se no limite e ao mesmo tempo como um animal feroz que deve continuar até o final.
Quê demonstra este atleta? Por certo uma persistência fora do comum, que se inicia no campo psíquico e repercute no físico fornecendo-lhe uma química orgânica necessária à sua descomunal tarefa. ( Prostraglandinas, serotoninas, endorfinas, alteração do estado hormonal, alteração da acidose: ácido lático ) Estas mudanças provém tanto do princípio de faixas de pensamentos específicas, ou seja: iniciando no cérebro, como também pelas alterações químicas produzidas pelo movimento corporal.
Só quem correu uma maratona sabe o quão grande é a relação da mente com o corpo, e o quanto a força de vontade pode ativar o organismo em momentos de extremo desgaste e fadiga. Os outros podem apenas tentar imaginar, ainda que seja assim os espectadores podem se sensibilizar com estas situações, utilizando o mesmo método de interpretação usado para perceber a música na metáfora anterior, assim pode-se tentar chegar ao máximo fidedigno a percepção de quê ocorre com um maratonista.
Imagine então que este corredor, após mais 12 Km de pura força de vontade chega ao pórtico de chegada. Qual será a intensidade de sentimentos de sua psíque? Talvez tão grande quanto sua força de vontade, ou quanto seus esforços para chegar até lá, quando me refiro à esforços não quero dizer apenas os que foram despendidos naquele dia durante a prova, mas também todos aqueles que se figuram no decorrer de 3 ou 4 meses antecedentes à prova . E ainda mais: não somente os esforços físicos como também toda dificuldade relativa à treino, e por outras vezes relativa à sua vida, tudo isto se assoma e se extravasa no momento crucial da linha de chegada , numa reverberação que pode variar segundo o modo de expressão: sorriso, choro, quietude ou euforia.
Quando digo que interpretar os sentimentos de alguém é ir além do simples contexto proporcionado pela visão quero dizer que deve-se assimilar mediante o conceito da vida da própria pessoa: Entendo o que ela sente pelo que ela é.
Se dependermos meramente do contexto das atitudes e expressões para interpretar uma pessoa muito poderemos nos enganar, mais adequado é entendermos seu contexto geral, pois as pessoas podem expressar sentimentos diferentes de maneiras iguais, ou os mesmos sentimentos de maneiras variadas.
Esta frase traduz muito bem a maneira do sensitivo de entender as outras pessoas, pois ele não utiliza seus conceitos pessoais para obumbrar seu entendimento do mundo externo, mas os relega para entender a realidade assim como ela é entendida por aquele que se expressa.

24 - A espiral da realidade

Desenho

Esta espiral descreve o processo de conhecimento da realidade, mais especificamente o modo como as coisas reais se inter-relacionam. Digamos pois, que o mundo real seja composto por infindáveis feixes, que partem de um centro, este que representa o primeiro passo. Nós somos naturalmente dotados dos 5 níveis de conhecimento da realidade; Começamos então num ponto central, e vamos entrando em contato com cada realidade que a vida proporciona, ao mesmo tempo que apuramos nossas características pessoais de níveis de conhecimento da realidade, aliás, o grande segredo está neste fato, pois o conhecimento mais complexo do mundo é inerente ao próprio sujeito, e não ao mundo.
A espiral representa um meio interessante para explicar este desenvolvimento, porque há somente uma linha que a compõe, ou seja: Falamos aqui à respeito de “um desenvolvimento” e não do desenvolvimento separado de cada realidade ( por exemplo: da musicalidade e do trabalho ) Na espiral há portanto uma explicação bastante apreciável da relação de uma realidade com a outra.
Na medida em que o ser se humaniza, e sai do centro da espiral, considera-se que quanto mais se afasta do centro maior fica o círculo, e maior fica o espaço de cada realidade ( que forma um pedaço de “pizza” ) Quando ocorre este aumento diz-se que a experiência fica mais intensa, talvez por isto tenha a tendência em ser também mais duradoura.
Na espiral encontramos dois pontos ( A e B ). O ponto A está mais próximo do centro quando comparado com o B, por isto é de maior simplicidade, no que se refere aos 5 níveis de conhecimento da realidade, não obstante nota-se que tendo o ponto A percorrido o círculo até chegar ao B houve um afastamento do centro do círculo, que traduz um desenvolvimento do indivíduo. Quando porventura este ponto adentra-se no âmbito da musicalidade já estará num nível de maior complexidade, mesmo que não tenha desenvolvido esta medida dentro da área da própria musicalidade, mas sim dentro de si próprio, pois as potencialidades perceptivas estão dentro do ser humano e não no mundo.
Não precisamos vivenciar uma determinada realidade para desenvolve-la porque o desenvolvimento está em nós e não na realidade. Um bom matemático pode ser um bom músico, basta codificar suas capacidades matemáticas ao conhecimento harmônico, rítmico, melódico, estético e filosófico da música e da composição musical. Um bom ator pode ser um bom recreador apenas adaptando sua capacidade sentimental e interpretativa.
Quando em nossas vidas paramos por um tempo determinada atividade, retomando-a num dado momento, percebe-se que nossa interpretação daquela mesma realidade será mais complexa. Isto é bastante evidente quando entendemos que a formação de um atleta deve dar-se num campo integral de vivências. Melhor seria colocar que a formação atlética é apenas uma das vertentes que formam um ser humano.
Há uma tendência de se colocar esteriótipos específicos nas pessoas: - Aquele ali é intelectual, este outro é atleta. – E assim por diante, num processo errôneo já que todos somos integrais. ( Ao menos em potencial. )
O que explica um atleta ter uma melhor performance quando está se ocupando de outras atividades que não são o treino? Daremos margem ao desenvolvimento de uma nova visão de treinamento de um atleta corredor, discussão esta que pode se aplicar perfeitamente à qualquer outra modalidade ou situação da vida...

25 - Sobre o Prazer, a proeza e a felicidade

O prazer é algo que influencia incomensuravelmente em tudo aquilo que fazemos. Em cada atividade o prazer é uma sensação que advém de diferentes motivos, ainda que o prazer possa ser confundido com o sofrimento, ou mesmo possa ser misturado à este. Aliás, o sofrimento pode ser até uma das exigências para que haja prazer. O quê poderia explicar um ser humano ter a audácia de correr 42Km de forma contínua?
Na maratona o prazer é provindo da noção de realização de algo consideravelmente difícil, inclusive uma situação em que há dor, sofrimento e mal estar. É bastante provável que se não houvessem estas situações desagraveis não haveria prazer.
O prazer pelo prazer não traz sentimento de realização que quando acompanhado de outras vertentes. O que é visível nos esportes radicais, em que há grande dose de perigo envolvida com o prazer, justamente pela sensação de conseguir superar esta situação de extremo perigo sobrevêm o prazer, tão maior quanto seja o perigo, se acaso há também o fator dificuldade envolvido aumenta-se mais ainda este prazer, pois, perigo e dificuldade são coisas diferentes. Podemos saltar um abismo de 4 quilômetros de profundidade com apenas um metro de distância entre suas duas extremidades e estaríamos em maior perigo e com menor dificuldade que saltar um abismo de apenas 5 metros de profundidade com 3 metros de distância entre os extremos. Supostamente o prazer vêm tanto da dificuldade: como na maratona, quanto no perigo: como em esportes radicais. Além de prazer experimenta-se uma sensação, após a conquista, de grande poder. O que significa prazer à uma pessoa pode ser terrificante à outra.
Uma façanha, uma aventura heróica, uma proeza ou qualquer coisa que apresenta em si grande dificuldade, empecilhos. Ou algo excessivamente dispendioso, e que exija muito das energias psíquicas, físicas ou espirituais. Isto é de tudo aquilo que representa um desafio à essência humana.
A maratona pode ser entendida como um evento de tal envergadura que provoca o homem, traz à ele a verdade de suas limitações, entretanto o homem, enquanto ser dotado de múltiplos recursos desafia seus limites utilizando estratégias e métodos para superar as dificuldades. As façanhas e proezas somente são conquistadas quando vistas e vivenciadas de maneira inteligente, precavida e resguardada, por isto não podem ser entendidas como guinadas espetaculares que um ser sobre humano executou, ainda que possam ser consideradas por suas dificuldades e magnitudes como feitos de genialidade prosaica ou heroicidade inigualável. Principalmente quando vistas de supetão, num encontro rápido e fugaz que é o que fazem os espetáculos com suas luzes e músicas, enfatizando aquilo de tal maneira que acabam por aumentar o ato além do que ele propriamente é.
O homem que executa uma proeza não torna-se herói do mundo, mas herói de si mesmo. Pois o mundo em que o homem vive não está fora dele senão ele mesmo é o mundo em que vive, isto porque o mundo é sujeito à interpretação humana.
As façanhas humanas sempre são dignas de comentário, respeito e consideração. Demonstram grande força psíquica, vontade e perseverança. A maratona se insere neste contexto. Pode-se dizer que os atletas maratonistas ou ultramaratonistas são extremistas, ou seja: buscam o extremo, se acaso fosse possível ultrapassá-lo o intentariam.
Para toda realização laboriosa deve ser considerada a integração das realidades que formam o ser humano ( espiral ) repercutindo uma proeza e proporcionando um ápice de prazer e realização. Vejamos a organização sistemática da seguinte ordenação:
Realização laboriosa
Integração das realidades
Proeza – Ação realizada
Prazer – êxtase
O mundo é nada mais que um veículo para o desenvolvimento do ser humano. Quê seria do homem sem o mundo fenomênico? Ficaria estagnado no mesmo estágio de desenvolvimento. Assim conseguimos entender racionalmente qual é a função do mundo para o homem. Se o homem porventura não interpretasse o mundo este seria percebido? Sim, seria percebido em sua maneira mais primitiva, sem que este mesmo soubesse que tudo aquilo que percebe é ilusório, a capacidade interpretativa é pois a chama que personifica o homem enquanto dotado de verdade, que o diferencia do mundo ilusório. Se o mundo está para o homem da mesma maneira que a tinta está para o artista e que as notas estão para a música não existe outra coisa que se possa denominar como vida senão o próprio homem, pois este e mais precisamente suas proezas são os quadros já pintados e as músicas compostas.
A prova da maratona não escapa à esta noção, o que condiz em dizer que é um veículo de vivência, ou método para que o homem demonstre e vivencie uma proeza ou façanha. Desta maneira a capacidade em realizar façanhas é um potencial acumulado no homem que pode despertar por um movimento da vontade.
Muito falamos em prazer, mas que fique claro que muito além do prazer e mesmo da alegria, que podem ser considerados como estados passageiros, com tempo de duraçào específicos, ainda que o tempo para os sentimentos nada importa, inexiste, fique claro que a felicidade é mais que uma sensação, é uma noção duradoura que não se esgota do coração, a felicidade é mais que a alegria, é mais que o prazer, pode existir juntamente com a dor e o sofrimento, pois é um sentimento de cunho moral e não vinculado às condições que os sentimentos proporcionam, mas sim ligado às realidades do pensamento, da trama da vida. Notem leitores, que chegarmos aqui à um patamar mais elevado na discussão do sentir humano: a felicidade.

26 - A maçã e o pecado

O prazer parcial não me seduz
Tudo o que é parcial é limitado
O conjunto é integral e harmonioso
Não tive alternativa
O prazer maior é contemplar a vastidão do universo
Se comprazer no sublime silêncio
Em meio à tristeza
Não se iludir com a margem da água
Mas sim notar a profundidade
De lugares desconhecidos e misteriosos
O prazer maior é tão sério e consciente
Que se afasta até do sorriso
O prazer maior é sábio e sério
Percebe o quanto perece o que é parcial
Não é morder uma maçã
Mas contemplá-la
A solidão é o maior prazer
Isto é sabido...
Mas não cumprido!
Qual a saída?
Sim, é esta!
Ensinar a verdade à todos
Definitivamente resolvido
Uma verdade maior
Além das ínfimas preocupações mundanas
Além, Além, Além
Do pequenino desejo humano
Além, Além, Além
Da visão com os olhos
Percepção do espírito
É a que me leva à contradição
Ao dilema, ao atrito
Não é assim, acaso, o progresso?
Por isto ser mais perceptivo é perigoso
Põe em risco à todos que te circundam
Não te entenderão
Não irão sequer querer te entender
A verdade última um dia irá prevalecer
O amor inunda o mundo
O amor integral
Onde o que era pecado se transforma em virtude
No final o pecado é uma virtude
Depende do sentido dado ao ato pecaminoso
Não se deve ver com os olhos
Senão com o espírito
O prazer parcial não me seduz
Mas sim aos que me envolvem
Me cerco de erro... Como acertar?
Não creio mais em meu próprio corpo
A que ponto cheguei?
Meus sentidos não me convencem
Meus sentidos não me seduzem
O prazer dos sentidos me é petulante
Chega a ser algo irracional
Sem fins plausíveis ou concretos
Praticamente uma ilusão
O caminho está por completo no psiquismo
Caminho intelectual e sentimental são a última verdade
Que dá sentido ao físico

Se não há psique formada de maneira complexa o indivíduo se perderá na realidade de sua ignorância, quando luta pela busca do conhecimento há um momento em que os prazeres físicos não mais são necessários, conforme descreve o dilema do poema.

Visão com os olhos e visão com o espírito

Minha alma se confrange
Diante de tal dualismo
Ainda que possa entender
O que ocorre no pecado
Pois o pecador nunca é ciente de seu pecado
Pois está limitado por sua ignorância
Que a si mesmo é lhe desconhecida
Por isto não existe pecado no mundo
O que existe é ignorância
Que deve ser combatida com o desenvolvimento do potencial integral do homem
Para que passe a ver com o espírito e não com os olhos
Não mais seja seduzido por sua própria ignorância
Nem viva mais a completude de sua limitação
Que descubra contemplar a vastidão do universo
Com o espírito
Porque com os olhos não se enxerga tal complexidade de realidade
Sejamos tristes, sérios e sábios
Fugindo à ignorância do prazer limitado
E unindo-nos ao prazer integral

27 - A música: parte do “eu”

De modo efetivo diremos que músicas de caráter repetitivo ou nostálgico, sem um tema preciso ou melodia bem definida são músicas que ativam o psiquismo humano de tal maneira que fazem o sujeito percipiente perder a noção do tempo e do espaço, de modo que auxiliam à ele adentrar-se num rico campo psíquico, neste momento o indivíduo perde a noção de onde se encontra, conseqüentemente não dá importância às coisas que possam se relacionar à isto. Também não percebe o tempo de maneira precisa ou linear, não consegue diferenciar 20 segundos de 5 minutos, entra num estado meditativo.
Quando dizemos que este sujeito não percebe onde está estamos errados, pois em realidade ele percebe onde está: está em seu próprio mundo psíquico, e é isto que percebe. Não está propriamente no mundo dos fenômenos externos, mas sim num mundo cheio de mistérios e percepções intuitivas que condiz com o mundo mental.
Este caráter musical têm a mesma função de ser uma faísca que cria o início do processo de transmutação de realidade da percepção externa-interna para a ponderação interna-interna, há momentos em que a música parece perder-se em si mesma, como se não fosse uma sucessão cadenciada de notas colocadas em tempos regulares, mas sim notas que se embaralham de maneira confusa, percebe-se o tempo 1 da música mesclado com o tempo 5 sem que os tempos que estão entre estes dois tenham sido percebidos. Entretanto é como se a música, e os sons encarnassem a própria emoção sentida, ou os próprios pensamentos e devaneios dos pensamentos que ora são assaltados por intuições.
A música não é neste momento composta de ondas sonoras de diferentes amplitudes, mas torna parte daquele que ouve, como um tentáculo de sua própria emoção e pensamento, como parte dele.
Deste modo a música não é um fenômeno análogo, que flutua no ar e vai em direção aos ouvintes, mas antes a música é o próprio ouvinte, pois ela mesma acaba por delinear seus pensamentos, ou ordená-los, ou ainda trazer à tona novos pensamentos, sentimentos, ou sensações antes obumbradas por sua maneira de pensar peculiar e costumeira.
A música se funde com o eu de tal maneira que acaba por se tornar mais um elemento de minha psique, no momento em que travo contato com ela, é evidente que ela se torna o elemento preponderante da mente, no entanto ela não é a essência mais profunda do meu ser, mas constitui um elemento de entendimento e descoberta desta essência.
Um elemento tão diferente desenvolvido do processo racional através da retórica que acaba por ter outros meios de contato com a essência do ser, estes meios são intuitivos, criativos e sentimentais, estão no entanto, submetidos ao processo racional, não no momento crucial da vivência musical, somente depois do estado de letargia extra temporal é que a razão pode travar contato com o que foi absorvido. ( é pois, absorvido sem que no momento haja necessidade da razão )
Este estilo musical específico é extremamente aconselhável àqueles que querem travar contato com os recônditos mais obscurecidos de sua psique, no entanto, é se necessário um trabalho musical bastante intenso até que se possa por fim entendê-lo da maneira complexa como ele é constituído e do fim psíquico que ele têm para com o ser humano.

28 - Os virtuosos

O que particularmente me dá grande alento a escrever sobre a música é notar o quão grande é a maestria, o virtuosismo e a qualidade cabal que muitos compositores e intérpretes possuem, o que se nota quando executam com perfeição uma música de alta complexidade.
Fato notável, que nos deixa embasbacados, mas que ao mesmo tempo nos faz pensar: Como isto é possível? A resposta à esta questão, a pesar de parecer simples é difícil de crer. O virtuosismo advém da persistência inteligente. Ou seja: Tomar as atitudes corretas nos momentos precisos com grande vontade e perseverança. Quero dizer aqui que as atitudes dos virtuosos, em seus momentos de interpretação de uma música não são explosões heróicas, ainda que assim possam parecer para a percepção de um público extremamente impressionado, na verdade aquele momento é o resultante final de uma série de pequenas conquistas que o virtuoso fez no decorrer de seu treinamento para aquela ocasião, ou mesmo o resultado de muitos degraus calcados no decorrer de toda uma vida. É assim que aquilo, mesmo parecendo um milagre ou um feito de proporções incontestavelmente monstruosas não o é, mas o resultado de uma demorada escalada. Seria errado crer que um alpinista chegou no cume de uma montanha num vôo impressionante, o correto é notar o quão demorada foi sua jornada para chegar até ali, que só está ali porque caminhou um passo de cada vez naquela direção, ainda que seja um feito magnífico não é um feito mutante ou sobre-humano. O método e um pensamento regrado e consciente são os alicerces dos grandes feitos.
Igualmente se passa no treino para uma maratona, fazendo uma analogia, o método empregado à se atingir a perfeição é o mesmo, o campeão é pois um virtuoso. Acompanhar um virtuoso, seja na música, seja na corrida é quase que inacreditável, perguntamo-nos de quem realmente nos prostramos diante. Quê tipo de gênio têm tal força de execução, criação ou ação? De onde proveio tal envergadura de atuação? O fato é que tudo pede muito tempo de treino, e como se isto não bastasse este treino deve ser aproveitado de maneira específica, instituído de um “método de progressão”, e acima de tudo um projeto. Método e organização também, as ações não devem ocorrer de qualquer maneira, perder-se-ia assim uma progressão linear calcada em base sólida e segura, tampouco não é recomendável fazer a coisa da maneira errada, deste outro modo ao invés de andar para frente andaríamos para trás perdendo-nos numa confusão sem precedentes. Outro empecilho é a falta de motivação, um desânimo da vontade e da força do espírito que faria por retardar o projeto de maneira incalculavelmente grande, ou tão proporcional quanto é a motivação.
Num empreendimento temos duas características imprescindíveis, que devem ser levadas em consideração: A) A forma de fazer; B) A vontade, e fé inabalável no crer que o que se faz é proveitoso. – Estes dois termos resumem de maneira espantosa o que se entende por “virtuosismo”, seja este artístico ou atlético.
Aliamos estes dois fatores ao tempo disponível e nos deparamos diante de um músico de calão não demonstrável por palavras, nem por alusões racionais.
Podemos refutar grande parte do que foi dito, senão até tudo colocando a idéia de uma “intenção virtuosa”, um caso em que não haja necessariamente um “virtuosismo da execução mecânica” de uma peça, esta seria a ênfase ao que o músico quer transmitir e não à maneira como transmite, uma ênfase mais aos sentimentos e idéias que ao veículo utilizado para transmiti-los. Basicamente é o mesmo que dizer que o musico não se importa com o modo que usa para transmitir, mas que transmite.
Como um quadro pode não ser realista, mas dá aspectos desproporcionais às imagens, que mesmo que não sejam nem realistas nem virtuosas podem nos atingir muito mais que um quadro virtuoso e realista. A intenção é absolutamente virtuosa, mesmo que o veículo de transmissão pareça ser anormal, disforme ou estranho, quando na realidade pode haver sido até mais adequado e intenso que se tivesse sido uma virtuosidade realista.
Fazendo uma analogia podemos relacionar e contrastar os corredores virtuosos da elite com os fanfarrões e sentimentalistas que compõe o grande contingente de corredores, o veículo de transmissão da essência do ser, ou se preferirem: dos sentimentos e idéias é representado pelo ato de correr, o modo de expressão no entanto é visivelmente diferente. Uns são perfeitos em execução, outros em expressão. O ideal por certo é que haja um equilíbrio entre estas duas vertentes: Execução virtuosa e expressividade. Tanto na corrida quanto na música ou qualquer outra atividade humana.
29 - Sobre a origem do movimento
Aquele que dança é aquele que interpreta a música e se expressa através do movimento. Aliás insisto na idéia inicial, colocada em “Sobre o movimento”, do intelectual que andava de um lado à outro para resolver suas idéias, ali o movimento era a expressão, repercussão ou resultado de suas idéias.
Assim mesmo é a música, de maneira mais evidente, pois ela têm ritmo ( Seja o som harmônico ou desarmônico ).
O que é a dança? Uma expressão, repercussão ou resultado de quê? Da música? Isto não pode ser porque a música é algo que em si é inócuo e sem sentido até que tenha seja relacionada com as idéias humanas. Assim a música representa as próprias idéias, sentimentos e peculiaridades humanas de uma maneira não racional, mas intuitiva. Temos movimentos que partem do sentimento e os que partem da razão.
Assim, o movimento que u músico realiza enquanto interpreta uma música é metafisicamente diferente do que o que o intelectual realiza enquanto faz um esforço de raciocínio. Onde se enquadra o corredor nesta idéia, já que seu movimento parte do próprio movimento? Seria acaso um tipo de “vivência do movimento” mais primitiva por causa deste fato?
Chegamos finalmente numa filosofia do movimento, e o que fizemos foi justamente investigar a causa do movimento para saber qual o teor deste movimento.
Assim: Se uma pessoa está extremamente preocupada e atrasada para determinado compromisso, a causa que a faz correr desembestadamente é uma preocupação.
Num músico que executa certa variação o movimento condiz com suas próprias vivências psíquicas. Um corredor se movimenta por se movimentar ou haveria uma origem como a preocupação do atrasado ou o estado psíquico do músico?
Esta é a grande diferença, pois a origem do movimento no corredor está no próprio movimento e não em outra coisa. Isto não impede que este movimento, mesmo inicialmente “primitivo”, ou cru ( pois se traduz por si mesmo ) não se relacione com atividades psíquicas do corredor, tais como: Conceitos, valores, idéias ou lembranças podendo ainda repercutir no campo dos sentimentos.
O caso do corredor, em se falando de experiência física e psíquica, ocorre ao revés, pois ele ao contrário dos outros inicia com o movimento para depois criar suas construções psíquicas, enquanto o sábio, o músico e o dançarino ( Já que para se dançar deve-se antes ouvir a música ) primeiro têm a experiência mental e sentimental para depois expressa-la através do movimento.
Isto nos dá a noção da importância que há no movimento do corredor, que é respectivamente uma primeira engrenagem que faz chegar às mais requintadas e complexas sendas do psiquismo.
Deste modo temos:
CORREDOR – Movimento “cru”
SÁBIO – Movimento já caracterizado por linhas de raciocínio
MÚSICO – Movimento inserido num ambiente psíquico intuitivo sentimental, não temporal e não físico
DANÇARINO – Movimento como resposta à estímulos sonoros ou emoções e pensamentos
Uma das diferenças mais caracterizadas nesta idéia é que o sábio e o músico executam movimento como resposta à um estímulo raiz, enquanto que o movimento do corredor é o próprio estímulo raiz.

30 - O cego que não abençoou:

Como podem as pessoas desvanecer?
Aquele que abençoa aos outros
Nunca se separa deles
A pessoa nunca desvanece
Quem desvanece é aquele que esquece dela
Aquele que não abençoou
Abençoar é se unir
As pessoas, pois, nunca desvanecem
A união é sempre existente
A não visão desta união é o único erro
Ocasionalmente cometido
Por causa da sedução
De um mundo frágil, rápido e descartável
Devemos enxergar mais além
E ainda mais além
E mais além todavia
Até que se possa perceber o geral
Que era antes invisível
E nos causava pudor e indignação
O melhor é pensar
Sobre o que significa realmente cada coisa
E pensar mais
E mais pensar
Até que se possa perceber o geral
E ver que em que acreditava anteriormente era uma ilusão
Por isto nossas vivências são fundamentadas na ilusão
Mas nem por isto não podemos passar de uma ilusão para outra pouco menos incorreta

Leis fundamentais à todos os médiuns
Poderíamos colocar este capítulo como sugestões aos médiuns, no entanto, aquele que deseja se tornar médium não recebe sugestões, senão é submetido à provas espirituais de alto calão, e se por um acaso for delineado e guiado por sugestões soa completamente fraco, débil ou mesmo contrário à proposta mediúnica. Seria o mesmo que dizer que um guerreiro faz seu treino tal como se apresente seu gosto, vontade, feição, disposição ou humor. Propostas sérias requerem métodos bem delineados e percauços igualmente sérios, assim se justifica serem leis e não sugerências.
1 – O ser humano vive de suas ilusões ( O que se faz aqui é uma constante descoberta mística, psíquica e religiosa )
2 - Deve-se ser insistente, persistente, vontade inabalável
3 – Fé de um devoto, crença no místico e desconhecido. Como um maratonista ou aquele que paga penitências, ou ainda é exemplo de devoção a auto-flagelação
4 – Percepção de detalhes. Conforme descrito em toda a nossa filosofia de desenvolvimento através dos 5 meios d contato com a realidade ( Aprendiz – Sensitivo )
5 – Seguir o evangelho de Jesus Cristo e todas as recomendações inseridas nele, estuda-lo repetidamente, incessantemente, sem esmorecer no estudo. Também outros livros complementares são válidos. Ler tanto parte moral, religiosa, científica, parapsicológica como filosofias diversas, de culturas diferentes.
6 – Dar aos fenômenos da natureza interpretação mística, por isto louvá-los ou receá-los. Perceber desde o trabalho das formigas até a força das tempestades como fenômenos sagrados.
7 – Interpretar as pessoas, e seu arredor, de maneira complexa ( Com o sensitivo )
8 – Ser criativo e estar vivenciando alguma forma de arte, não somente como apreciador mas também como criador. Fugir à cultura primitiva que visa somente a assimilação.
9 – Assim como voz me abençoais eu vos abençôo ( Consciência de seu poder ). Não entender a humildade com algo que está abaixo de tudo, confiar no próprio poder, na mágica e capacidade pessoal. É dizer: - Eu posso, eu sou, eu farei, nada irá me abalar, eu sou o todo, não receio, não vacilo ( Já que Deus está em min )
10 – Entrar em contato com seu consciente profundo através da arte e do afastamento das coisas superficiais, pragmáticas, mundanas e da experiência dos sentidos primitivos ( Sexo, violência ou hilaridade retrógrada )
11 – Apreciar e anotar os sonhos, e inseri-los na realidade desperta
12 - Praticar meditação e orar constantemente, com freqüência delineada e fundamentado em parâmetros específicos, desenvolvidos através de seus constantes estudos e vivências espirituais
13 – Alimentação natural ( Inclui carne ) e atividades físicas constantes
14 – Desenvolver aspectos sociais-familiares, compromissos e elos sociais extra-familiares: cartas, telefonemas, encontros, passeios. Compromissos são válidos aqui. Deve haver iniciativa do médium e não de outrem.
15 – Desenvolver-se culturalmente em todos os aspectos, respeitar as diferenças e manter uma opinião crítica.
16 – Sempre estar disposto a conhecer coisas, situações, modos de pensar novos, incautos, jamais experimentados ou mesmo sequer imaginados. Não somente conhecer como ocasionalmente fazer esta vivência tornar parte de uma nova realidade
17 – Esqueça o relógio mas não o método
18 – Executar e dar valor aos rituais religiosos
19 – Exercícios de repetição mental auto-sugestiva
20 – Devoção às imagens
21 – Importância dos retiros espirituais
22 – Dizer: Em minha vida, antes mesmo de min, em primeiro de tudo está Deus, depois pode vir toda a ilusão terrena.
23 – O mal sempre estará à espreita, ora e vigia à todo instante. Tu és o bem, chama o mal a tí e transforma-lhe em bem.
24 – Come muitas frutas e toma muita água
25 – A solidão é um meio necessário à meditação e oração

Parte dissertativa – Um médium sempre corre muitos riscos, aliás, muito mais que qualquer outra pessoa, isto se sua fé na proteção de Deus e sua devoção à ele e Jesus Cristo estiverem enfraquecidos ou desfragmentados, diminuídas e corroídas por sua própria incredulidade, e também a fé em sua própria força pessoal. É como Goethe disse: - Quem gosta de abismos têm de ter asas.
Existe plenitude na abstinência sexual, alimentar. Coloquei a palavra plenitude, porque esta atitude não se faz como um esforço, suplício ou contradição da vontade, mas sim com harmonia que se transcorre de forma natural, espontânea e progressiva.
O médium realmente têm asas, no entanto qualquer deslize pode fazer-se perecer e cair no abismo, uma queda vertiginosa, mais profunda que o próprio nível do solo, onde as pessoas comuns andam confortavelmente com toda a comodidade. Surge-nos uma pergunta: Compensa correr tantos riscos e ser médium? A resposta está no fato de que esta é uma das potencialidades do ser humano, que em geral é obumbrada por sua própria ignorância ou mesmo falta de vontade. Esta potencialidade se relaciona com todos os cinco níveis de conhecimento da realidade ( “5NCR” ) mas que é preponderante no 5o nível, o transcendental, que é o mais complexo de todos, por isto o mais difícil de ser assimilado e desenvolvido.
Uma pergunta intrigante que insurge-me neste instante é referente à qual seria a diferença entre médium e sensitivo.
Absolutamente! É algo bastante claro, pois todo o conceito de médium aqui empregado é relacionado com um “desenvolvimento da percepção extra-sensorial” ou espiritual ( independente da religião ou filosofia ) que se aplica respectivamente ao “5o NCR”. Sensitivo por sua vez é um conceito integral que envolve todos os níveis de conhecimento da realidade já descritos.
Diríamos portanto que o conceito mediúnico está dentro do sensitivo, assim, o sensitivo pode ou não ser um médium, se for um sensitivo total isto ocorrerá inexoravelmente, já que tratamos aqui do desenvolvimento transcendental do ser humano. As leis são portanto um método de desenvolvimento do aspecto transcendental.
Na correlação destas duas vertentes ( Médium e Sensitivo ) podemos acaso encontrar um médium qu não tivesse uma característica de total sensitivo mas sim de aprendiz, que é o caso de partes de sua vida terem um desenvolvimento defasado, como por exemplo: Intelectual ou Física. Sendo mais difícil que as partes intuitiva e artística estejam defasadas já que estas são essenciais ao desenvolvimento da mediunidade. A parte transcendental não pode ser colocada neste conceito, pois ela se refere ao mesmo termo mediunidade, que como será visto se divide em: Prática transcendental, Prática moral-social, estudo religioso-filosófico, estudo religioso-dogmático e mística provocando a mudança de valores pessoais, a visão de si e do mundo.
Na parte mística, por causa do processo intuitivo, até mesmo os dogmas são importantes, verdades absolutas não submetidas ao crivo da lógica ou da razão. É-nos extremamente difícil absorver esta idéia, e principalmente colocá-la em prática, no entanto a intuição é fundada no maior “achômetro” do mundo: o de acreditar em mitos, ilusões passageiras, sonhos, pensamentos que entram no âmago das emoções, a música é para isto um dos principais recursos por possuir uma linguagem totalmente distinta das letras para nas quais o pensamento racional se fundamenta e orienta.
É de grande valia notar que muitas religiões se aproveitam eficazmente das possibilidades musicais para uma transcendência do físico ( Racional / Sentimental / Físico ) ao espiritual ( Intuitivo / Transcendental ).
Colocamos então como modalidades necessárias ao desenvolvimento mediúnico:
Física – Auto flagelação, peregrinação, penitências, asanas, posturas corporais
Racional – Estudo científico, parapsicológico, religioso e filosófico
Sentimental – Prática moral-social
Intuitiva – Práticas místicas, estudo religioso dogmático
Transcendental – Meditação, Contemplação, oblação, oração


Neste sonho em que eu canto assim
Tão bonito
Tão perfeito
Não há nada que se torne eterno
Beleza surge de um lugar fugaz
Palavras se desvanecem
Que quando proferidas
Passam como passam as águas
De belo e caudaloso rio
Onde abismados notamos
Que não podemos realizar
A vontade de reter conosco
Toda a água límpida
Apenas podemos um pouco sorver
Para momentaneamente nos saciar
E então despertar
Para a sede retornar

Breve mensagem aos incrédulos de Jesus

Mais importante é a idéia que o fato, se Jesus foi ou não real não há importância preponderante neste fato, mas sim nas idéias que por ele foram difundidas, tenha sido ocasionalmente por outrem não haverá grande importância, pois as idéias são benfazejas, corretas e proveitosas.

Sonho fugaz

Neste sonho em que canto assim
Tão bonito
Tão perfeito
Não há nada que se torne eterno
Beleza surge de um lugar fugaz
Palavras se desvanecem
Que quando proferidas
Passam como passam as águas



Nota-se com nitidez que cada aspecto do desenvolvimento de um médium se relaciona intimamente com os aspectos de desenvolvimento de um ser humano, isto é inevitável pois estes são as únicas ferramentas que dispomos para nos desenvolver.
1)PARTE FÍSICA – ( Transcendental-Físico ) Conclui-se com satisfação, através de um processo dialético, que o maratonista, ou melhor: a maratona têm a mesma função de uma penitência ou auto-flagelação, é um desafio aos limites físicos, um empreendimento que têm uma repercussão fortíssima à psique. Também faz-se grande proximidade com as peregrinações religiosas.
2) NA PARTE RACIONAL – ( Transcendental-Intelectual ) Englobamos tudo aquilo que se refere aos estudos e desenvolvimentos racionais de uma idéia relativa à origens do universo, aos conceitos de Deus, à vida após a morte e às capacidades psíquicas do ser humano. Aqui está a psicologia, parapsicologia, filosofia, teologia ou mesmo as ciências gerais, dentre elas mais especificamente a física, medicina, e bioquímica.
3)NO SENTIMENTAL – ( Transcendental-Sentimental ) Está a prática moral-social do ser humano pois não existe sentimento sem que haja comunicação, mesmo em se falando de comunicação com Deus. O próprio sentimento de solidão condiz, é fundamentado na necessidade de comunicação, se o indivíduo não vê necessidade de comunicar-se e está só não irá sentir-se solitário. O desenvolvimento mediúnico é submetido às verdades sociais e familiares do evangelho, a parte moral-social é a prática do evangelho que se enquadra no item acima ( Estudo racional ) por isto dir-se-á que tudo se relaciona.
4)NA PARTE INTUITIVA – ( Transcendental-Intuitiva ) Que foi apelidada sabiamente de mística, encontramos o estudo religioso dogmático que se diferencia grandemente da parte racional por aceitar dogmas, ou idéias e sentimentos que não tnham sentido ou nexo lógico mas que de qualquer forma são funcionais, justo por isto está dois níveis acima do aspecto racional. O dogma pode ser definido como uma ferramenta que auxilia para que sobrevenha uma intuição, por isto é importante, no entanto isto só ocorre no caso em que haja fé verdadeira e inabalável.
5)NA PARTE TRANSCENDENTAL – ( Transcendental-Transcendental ) Encontra-se a pratica espiritual que se refere às preces, orações, estados alterados de consciência, meditações, curas espirituais, viagens espirituais, premonições, e práticas espirituais das mais diversas independente da religião.
Acabou-se de explicar o desenvolvimento do ser humano visto sob o prisma Transcendental, nota-se que até o fator Transcendental é visto pelo Transcendental. Assim temos:

Esboços

Deste modo temos a possibilidade de perceber cada um dos aspectos da vida sob cada um dos prismas que ela oferece. Já explicamos pelo transcendental; Que tal fazermos com os outros? Têm-se assim os seguintes termos, que definem as tendências do ser humano:
1 – Atleta ( Físico )
2 – Intelectual ( Racional )
3 – Artista ( Sentimental )
4 – Não definido ( Intuitivo )
5 – Médium – ( Transcendental )
Começando pelo primeiro: Qual é, por exemplo, a visão que um atleta ( que está respectivamente muito mais envolvido com as vivências de realidades físicas ) têm de cada um dos “5NPR”?
Não foi isto que fizemos com o Médium? Que está situado no transcendental. É necessário fazer este processo com cada uma das “personificações humanas”, aliás os homens somente representam os papéis específicos, pois como dito, em potencial são tudo ao mesmo tempo.

Explicação dos “5NPR” sob cada uma das personificações humanas:

Breve Introdução: Inicialmente gostaria de dizer que as personalidades exemplificadas estão postas para fins de exemplo, no entanto podem ser substituídas perfeitamente por outras similares que se adequem às suas características peculiares, um atleta pode ser um caçador, pedreiro, cavaleiro, guerreiro, soldado ou índio. Um intelectual pode ser um professor, matemático, contador, jogador de xadrez, escritor, sábio ou mesmo teólogo já que as categorias se misturam perigosamente. Um artista pode ser um músico, bailarino, pintor ou pode ser representado até por um arquiteto que a pesar de metódico tenha certa liberdade para usufruir de ousada criatividade.
Um intuitivo não consegui definir qual personalidade se adequaria mais à esta categoria, é conveniente dizer que representa um meio termo entre o artista e o médium, este último pode ser representado como um religioso, devoto, brâmane ou um místico imbuído de intenções e meios ou estados transcendentais.
Sinto muito pesar em dizer isto, mas o fato é que quanto mais atleta ( maiores as capacidades, vivências e totalidade da vida pré-ocupada e ocupada com este âmbito ) mais primitiva é a vivência, pois o físico é o 1o “NCR”, se bem que isto é o mesmo que dizer que quanto mais apegada a pessoa é à somente um dos aspectos mais limitada ela é nos outros 4.
No meu entendimento a experiência dos sentidos físicos ( Tato, paladar, audição, visão, odor ) é o meio de percepção da realidade mais tosco e primitivo, justo por isto foi colocado em 1o lugar na escala de progressão.
Reafirma-se então, que o atleta têm a percepção mais limitada da realidade. No entanto não estudamos ainda qual é a sua percepção específica das outras quatro modalidades. Estou desconfiado que a própria divisão proposta é inviável, já que o ser humano é completo, no entanto poucos são perfeitos e equilibrados assim, deste modo, para fins de estudo é interessante fazer-se esta suposição com divisões bem delineadas, ainda que possa parecer um tanto extremista.

I – ATLETA:
1)FÍSICO-FÍSICO – É óbvio que um atleta precisa de suas características físicas para desempenhar seu papel durante treinos e competições, no entanto é notável concluir que a percepção que um médium têm do físico é totalmente distinta do que a que têm o atleta, este é um dos motivos que me faz afirmar que a percepção do físico pelo físico é mais primitiva do que as que se originam de outras fontes. ( Racional, Sentimental, Intuitiva, Transcendental )
2) FÍSICO-INTELECTUAL- De que maneira um atleta se utiliza do aspecto racional? O quanto isto é diferente do Intelectual, do Artista, do Intuitivo ou do Médium? ( Conforme na tabela comparativa ) É evidente que faz isto sem muitas abstrações, nem termos subjetivos, mas sim com aspectos práticos e sensórios. Precisa saber jogadas específicas, entender formações, táticas, regras do jogo, entender sinais de comunicação do árbitro e do técnico. ( Não nos esqueçamos que este atleta pode acabar o jogo de futebol e ir às suas aulas de química ou retórica, sendo um ser humano de dual capacidade de entendimento do mundo )
3)FÍSICO-SENTIMENTAL – Até que ponto um atleta é um artista? Podemos dizer que uma jogada é tanto genial quanto bela. Assim relacionamos o intelecto que a criou. Só será bela no entanto se acaso o atleta teve esta intenção, pois não adianta um espectador dizer que foi uma obra de arte determinada jogada sem que o jogador tivesse a intenção de criar algo belo, diferente e artístico.
Qual é o artista que faz art sem querer? Sem a intenção. Esta nossa concepção é aplicada porque a essência de algo é colocada na intenção e não no resultado. Se o corredor se vestiu de palhaço ou super homem e saiu cantarolando e versando poemas numa maratona, certamente estava imbuído de intenções artísticas, assim pode mais facilmente ocasionar um resultado emotivo. A emoção é mais vinculada à arte que ao físico, ainda que um esforço extremo possa ser motivo de uma efervescência dos aspectos psíquicos, dando um caráter sentimental ao movimento.
4)FÍSICO-INTUITIVO- Meio termo entre o sentimento a transcendência, já ouvi muitos dizerem que as idéias surgem melhor quando dá uma volta para espairecer a cabeça, arejar um pouco, andar por aí. Temos nosso exemplo inicial colocado sobre o intelectual que anda de um lado para o outro. ( Tópico: Sobre o movimento ), diríamos que o movimento favorece nos processos intuitivos. Talvez em muito menor intensidade que o homem que é propriamente um intelectual, pois o atleta não têm subsídios teóricos ou ferramentas que o capacitam à um trabalho mental absolutamente abstrato.
A intuição é o fermento do intelecto: Como podemos dizer então que um atleta pode ser intuitivo se não têm subsídios ou ninho para fazer pousar este pequenino e fugaz pássaro que se chama intuição? Termino esta parte com esta pergunta fatal e reveladora ao mesmo tempo.
5)FÍSICO-TRANSCENDENTAL – O atleta é aquele que mais se afasta de um conceito filosófico da religião mais elaborado e complexo, pois é mais apegado à percepção dos sentidos. Por isto ou ele é ateu ou um crente fundamentado em dogmas. Ou ele diz: - Só acredito vendo! – Ou aceita as verdades divinas que não devem ser refutadas sem quaisquer discordância ou revolta conceitual. Os alicerces principais para a transcendência são o sentimento e a intuição. Os atletas ( fazendo uma analogia com os intelectuais ) chegam ao êxtase sentimental através de um processo de inflamação que se inicia no corpo e termina na psique, enquanto que os intelectuais chegam ao sentimento iniciando na psique e num desenvolvimento intelectivo que leva em consideração o sentido das coisas, relações inter-pessoais, conceitos e idéias que acabam também na psique.
Para se chegar à transcendência o mesmo processo se inicia através do físico, passando pelos intelecto, sentimento e findando na transcendência. O que é mais difícil porque o caminho é mais longo e porque as “ferramentas de trabalho” são mais limitadas.
Insisto em dizer ao leitor que estamos dando exemplos extremos, para fins de estudo, é certo que cad um de nós têm níveis variados de cada uma dos “5 NPR” podendo ter duas ou mais muito desenvolvidas.

II – INTELECTUAL:

1)RACIONAL-FÍSICO – Falamos aqui do escritor ou do leitor ávido de conhecimentos, que irá fazer sua corridinha no parque, de início é viável crer que não será provavelmente um corredor de elite, já que grande parte de seu tempo é despendida em atividades de caráter intelectivo. A corrida pode não ser muito intensa fisicamente falando, no entanto a percepção racional da corrida será mais ampla que a do próprio atleta, percepção esta que envolve lembranças, conceitos, vivências, teorias e pensamentos. Por isto sua experiência de corrida é completamente distinta da que têm o atleta.
Sua maior facilidade em tornar o mundo que o circunda e a si mesmo em concepções abstratas análogas ao mundo dos sentidos proporciona um passo à frente na criação de um mondo interno mais rico em detalhes, o que propicia maior facilidade no surgimento e até na fundação de uma aplicação de vivência integral à corrida.
2)RACIONAL-RACIONAL – Como o intelectual vivencia sua própria capacidade intelectiva? De quê modo um problema de matemática poderia ser transposto se não deste? Este é o processo de entendimento da realidade que não depende ( E que muitas vezes nem chega a entrar em contato ) da experiência prática. A teologia por exemplo funciona assim, a matemática, física, química e até a dialética são processos de abstração da realidade que nos dão subsídios a continuar com um processo de entendimento cada vez mais complexo desta mesma realidade, até chegarmos num ponto que só pela prática seria impossível.
Um conto de caráter metafísico é mais abstrato que um conto que retrate uma trama de amor e seus vários acontecimentos de caráter “prático” desta história, ou mesmo um conto burlesco. Existem níveis diversos de abstração, o racional pelo racional é este trabalho que a mente empenha por si mesma para explicar e entender a realidade, vivenciando-a, pois o trabalho intelectual também é uma vivência. ( Imprescindível ressaltar este aspecto: A mente por si, dentro de si também é uma experiência de realidade, pois o mundo interno também é real. )
Até mesmo a corrida, neste momento passa à um novo patamar, quando entendemos que aquilo que antes era uma experiência dos sentidos passou a ser também um termo, um conceito completamente abstrato, e passa a ser “remoído” internamente mudando sempre seu caráter através da especulação intelectiva. ( É o que fazemos aqui )
3)RACIONAL-SENTIMENTAL – A razão e o desenvolvimento geral do intelecto são um passo para o desenvolvimento e inflamação dos sentimentos, pode-se dizer que é um meio ou caminho para aí se chegar ( assim como foi dito que o corpo é também outro caminho ). O que seria estranho é seguir o caminho reverso, indo da arte à razão, mas este assunto será visto mais adiante.
Assim, é mais um meio que o maratonista, que é também um intelectual, têm para trazer à tona seus sentimentos, ainda que ele não leve as suas capacidades físicas tão ao extremo quanto o atleta. Ocorre que o sentimento é desenvolvido por um ato de raciocínio, supostamente um raciocínio mais complexo trará um sentimento igualmente mais complexo.
No entanto não há a possibilidade de chegar-se aos sentimentos com raciocínios matemáticos ou de química, somente pela sensação de satisfação que advém de uma heróica resolução de grandes equações. Uma meta atingida é um termo abstrato que partiu de uma vontade preliminar, uma idéia colocada a partir de valores, portanto racional. Por isto o raciocínio é necessário tanto à melhor compreensão das diversas emoções como um fator preponderante ao surgimento delas.
Não obstante o raciocínio dos sentimentos funciona até certo ponto através da linguagem idiomática, passando esta zona limítrofe não se entende a emoção com especificidade, por isto os sentimentos estão colocados num nível mais elevado que o raciocínio e não no mesmo.
Uma das funções de um livro, além de jogar com o intelecto e brincar com os neurônios é fazer emocionar.
4)INTELECTUAL-INTUITIVO – Como já dito a intuição é um pássaro fugaz que se aninha somente onde haja um ambiente intelectual propício. Ora, se assim é, certo seria afirmar que mais intuitivos podem ser os intelectuais que os atletas, ou ao menos o acometimento de intuições seria mais freqüente naqueles que desenvolvessem o lugar onde a intuição se dá: A mente.
5)INTELECTUAL-TRANSCENDENTAL – O julgamento que faço desta vertente particularmente é negativo, pois o estado de transcendência já foi discutido anteriormente como o caso do médium, é irrisóriamente cabível conceber que o médium chega à um “estado transcendente” muito mais facilmente que os outros 4, mesmo que para isto ele ainda se utilize destes 4. Desta mesma maneira ocorre, porém no processo inverso: o intelectual antes de experimentar a transcendência deve entendê-la racionalmente. ( Do contrário não conseguiria efetivamente senti-la ) Para isto ele se utiliza de todos os recursos que dispõe: filosofia, teologia, física, psicologia, parapsicologia.
É, por exemplo, mais difícil que um intelectual aceite um dogma ou verdade mística que um atleta ou um médium. Poderíamos classificar isto como um empecilho à conquista do transcendental, e efetivamente é, pois dogmas e verdades místicas ajudam no processo de transcendência por darem ao indivíduo uma percepção divina do mundo que o cerca.
Não por isto o fato do sujeito ser um intelectual o impeça de propor uma visão espiritual do mundo, no entanto ao seu modo.

III – ARTISTA:

1)SENTIMENTAL-FÍSICO – Os sentimentos são a inflamação da alma humana, o que faz alguém realmente humano é a sensibilidade sentimental desenvolvida através de uma vivência dentro da arte enquanto criador. Sentimento: Grande alavanca que faz mover à tudo com grande imponência reverberação. É mais que evidente a influência dos sentimentos no movimento humano. O levantador de pesos se inflama de raiva antes de executar seus movimentos, e no momento crucial grita como um animal em uma explosão psíquica muito forte. O maratonista no momento em que suas energias se esvaíram busca da mente e mais além da mente: do coração, um sentimento de vitória, coragem e aventura o inunda fazendo possível completar o percurso tão extenso e dificultoso.
Os sentimentos influenciam totalmente na capacidade de movimento, resistência e força no ser humano. Não quero me ater aqui à aspectos fisiológicos desta questão. Quem pode conter os ímpetos sentimentais de uma pessoa com elucidações das mais laboriosas intermitências retóricas? Ou seja: Fundamentadas num sentido pleno, sincero, calcada num fundamento sólido e certo. A essência da atividade física, o que lhe confere razão de ser, sentido, vida e glória é a arte. A arte completa e preenche as coisas em geral de tal maneira que acaba por doar sangue, coração, pulsação à algo que antes parecia morto.
Não em si a arte mas os sentimentos que são provenientes dela. Os eventos esportivos como por exemplo as olimpíadas, quando preenchidos por música, danças, desfiles ficam emocionantes, cheios de alegria, tristeza, amor, vida, esperança, paz, etc...
Não é necessário dizer à quem já correu uma maratona que no momento em que afloram os sentimentos no coração, a esperança, uma nova força invade o corpo de maneira extraordinária o corredor supera a si mesmo, soerguendo uma vontade que parecia derrotada.
A arte expressa sentimentos, mas também pode sensibilizar as pessoas de tal maneira que a definiriamos também como a causadora de sentimentos, além de ser a expressão pode ser a causa, por isto podemos entender que haja uma transmissão de sentimentos, no entanto não creio que o termo mais adequado aqui seja transmissão de sentimentos, pois estes são relacionados com conceitos de formação pessoal que são respectivamente peculiares à cada pessoa, por isto cada um interpreta à sua maneira uma mesma obra artística, e ainda pode se supor que as pessoas sendo portadoras de diferentes conceitos pessoais podem ser acometidas por diferentes sensações e sentimentos quando expostas à uma única obra, isto pode chegar à tal ponto que nos deparemos com sentimentos antagonistas numa só obra.
Há a idéia que colocamos em pauta anteriormente: Pode-se fazer arte de algo essencialmente não artístico, como no exemplo do “craque” que sem a intenção fez uma jogada que na opinião e interpretação de outra pessoa foi considerado como belo, e artisticamente criativo, na visão daquele que interpreta é correto dizer que aquilo é arte, mas não na intenção do jogador. Ou seja: uma obra de arte é preenchida pela intenção do criados, também pode receber valor pela opinião de outros que não são o criados.
A arte só é arte quando considerada como tal, mesmo que para uns não o seja.
2)SENTIMENTAL-RACIONAL – A arte se enquadra muitas vezes num processo metódico e organizacional que lhe concede maior harmonia, beleza e perfeição não tirando sua singularidade e personalidade, que a fazem distinta e inaudita. Não perdendo em criatividade ou liberdade o artista enquadra sua obra num processo de organização que dá à sua obra a completude necessária.
Desta mesma maneira os próprios sentimentos estão de certa forma submetidos ao crivo da razão, que constantemente procura explicá-los e entendê-los. No entanto vejo como impossível através dos sentimentos chegar-se à razão, já que a organização intelectiva é algo que fecunda os sentimentos, por isto não pode ocorrer o processo inverso.
3)SENTIMENTAL-SENTIMENTAL – É uma coisa muito forte, a interpretação sentimento através do próprio sentimento. A dificuldade da humanidade recai especificamente sobre este aspecto. Uma pessoa pode entender outra que está expressando sentimentos utilizando seu lado racional, o que seria racional-sentimental. No entanto aqui o sentimento é transmitido diretamente: “coração à coração”, não é necessário entender nada por explanações, explicações ou elucidações, os sentimentos são transmitidos de tal maneira que chegam de maneira extraordinariamente eficaz ao campo sentimental da outra pessoa. As pessoas são obras de arte vivas, e as obras de arte são pessoas, porque a vida é inflamação de espírito.
Brilho nos olhos, maneira de falar, de se mover, de expressão facial, formato do rosto, do corpo. Tudo pode ser visto como arte. A pergunta é: Acaso o sentimento pode ou não ser transmitido? Pois é algo que depende de valores pessoais, como cada pessoa possui valores diferentes entende-se que a interpretação de uma mesma obra de arte, ou de uma pessoa que expressa seus sentimentos é diferente para cada um.
Como estes valores pessoais ( Moral, idéias, valores estéticos e políticos ) são delineados em grande parte pela cultura, é viável afirmar que diferentes contingentes culturais possuem uma interpretação da arte e dos sentimentos similar.
Assim, mesmo que hajam pequenas diferenças pessoais é certo que dentro de um mesmo grupo a interpretação, entendimento e sensibilização será muito similar. Portanto, há pessoas que não conseguem entender determinados sentimentos porque não foram educadas para isto, ou não cresceram na cultura que proporciona o subsídio para que ela entendesse este sentimento.
No entanto, este apartado não fala de entender sentimento senão senti-lo diretamente no momento em que está sendo expresso, seja por uma pessoa ou através de uma obra de arte. Como recalcitramos antes que o entendimento depende de valores culturais seria condizente dizer que uma pessoa não entenderia sentimentos de outra cultura, no entanto em se falando de sentimento-sentimento não passamos pelo processo de entender senão de sentir de maneira direta.
Assim: Existem valores humanos sentimentais que independem da cultura. Estes podem ser assimilados diretamente sem o processo racional de interpretação.
É importante reforçar que estamos falando sobre os 5 tipos de ferramentas para a interpretação da realidade, não defendo particularmente a tese de que um sentimento possa ser compreendido em toda sua plenitude, somente quando sentido, ou uma idéia possa ser entendida somente quando interpretada por um entendimento racional, ou mesmo uma vivência motora para ser entendida e sentida somente através desta vivência. Isto porque há uma inter-relação entre todos estes aspectos, de modo que a realidade pode ser vivenciada com a utilização de outros meios que não seja o seu em específico. Do contrário não seria necessário colocar tantos tópicos nesta luta que estamos empreendendo para descobrir como o homem entende e vivencia o mundo. Colocaríamos erroneamente somente as categorias ambivalentes: Físico-Físico, Racional-Racional, Sentimental-Sentimental e Transcendental-Transcendental.
4)SENTIMENTAL-INTUITIVO – Os meios mais propícios para que haja um “surto”, lapso ou insight de intuição são a razão e a emoção. É na arte que se encontram os exemplos mais marcantes e evidentes de intuição e subseqüente criatividade. Os sentimentos estão ainda mais próximos da intuição que a razão porque não exigem um veículo de linguagem específico nem conclusão de verdades lógicas. Por isto, o artista têm mais facilidade que o intelectual de ser acometido por surtos intuitivos.
No entanto a intuição é apenas o primeiro passo para uma criação complexa e laboriosamente desenvolvida, o que se faz necessário para isto além da intuição é o método, organização, delimitação, definição de objetivos e metas, que são aspectos exclusivamente pertencentes à razão e ao intelectual.
Assim, é fácil que um artista, por mais facilidade que tenha em inundar-se de intuições perca-se perigosamente num mundo desorganizado, se acaso faltar-lhe razão. Entretanto o tem base desta vertente é a interpretação da intuição através dos sentimentos: A intuição não é algo que possa ser interpretado ou entendido pelos processos racionais ( Como já foi visto no tópico: “Do não é ao é” ), por isto os sentimentos captam a intuição antes que a razão possa começar eu trabalho de entendimento. Na prática isto condiz com um artista enternecido em lágrimas sem saber exatamente o por quê. O processo intuitivo é uma realidade análoga ao entendimento da razão mas clara ao coração, chora porque seu campo sentimental vivenciou a intuição.
5)SENTIMENTAL-TRANSCENDENTAL – Representa o devoto que utiliza a emoção como vínculo e meio de chegar à Deus, às verdades divinas e ao estado de transcendência psíquica. É certo que a chamada “Santa indiferença” nos traz a idéia de que para elevar-se ao estado de divinização não são necessárias emoções fortes, nem positivas nem negativas, o que nos reporta a idéia de um estado indiferente ao mundo, no entanto as emoções constituem um dos métodos para a busca do transcendente.
Não obstante, as emoções, quando aproximadas à verdade espiritual são consideradas como distorção, apegos, exageros e realidades limitadas. Isto explica a “Santa indiferença” e nos faz concluir que para atinjir as vrdades espirituais as emoções podem, a pesar de constituírem um meio, não serem o mais adequado mas sim o transcendental-transcendental. ( Que traduz a “Santa indiferença”)

IV – Intuitivo ( Não definido )

SOBRE A INTUIÇÃO – O que seria uma personificação intuitiva não pode existir porque a intuição, ao contrário do físico, razão, emoção e transcendência não constitui uma ferramenta de percepção da realidade delineada de maneira fixa, mas sim algo vazio e nulo que existe somente em potencial ( Conforme visto no esboço ). Por isto a intuição não pode personificar uma pessoa. Dir-se-á que ela é comumente acometida por intuição, no entanto a intuição só existe onde haja um meio que a suscite, traga e faça dar luz. É como dizer que uma cultura de fungos só nascerá donde haja um local e uma temperatura adequada para isto.
Assim, têm-se que os processos intuitivos iniciam sim da intuição, mas já com outro componente que a receba ( Seja físico, racional, sentimental ou transcendental ) De modo sucinto, espero que o leitor compreenda, a única coisa que quero dizer é que a intuição não existe, ou para melhor expressar: a intuição é o círculo de todas as nossas potencialidades não descobertas.
Antes de ser coisa intuída a intuição é a ferramenta que faz vir à tona o que antes estava em um campo potencial latente. Acabei por me contrariar, pois a intuição existe, é como uma vara de pescar que aparece de repente e logo some.
Os intuitivos são os astrólogos, cartomandes, magos, bruxas, feiticeiros, etc... O que ocorre é que não podemos conceber que a pessoa tenha uma intuição à partir de uma idéia, mas sim que teve uma idéia à partir de uma intuição.
O que pode se confundir é que a pessoa após ter uma intuição irá desenvolver no campo das idéias uma criação que se utiliza dos subsídios intelectuais de que já dispõe, por isto não existem idéias que partem propriamente do nada mas sim de recursos e informações já disponíveis.
Toda a bagagem cultural existente se transforma, relaciona, muda de cor quando acometida pelo insight intuitivo, de modo que o que antes era de um jeito fica com nova formatação, parecendo algo novo e inaldito. ( Mesmo que não o seja exatamente )
Se a intuição não personifica o homem por não ser uma qualidade permanente, qual seria a personificação de alguém como um cartomande? Acabei de forma patética de colocar-me num beco, caso continuemos esta teoria não haverá saída. Para isto estamos filosofando, talvez a melhor saída seja dizer que a intuição pode personificar o homem, mesmo que isto contrarie algumas regras anteriores.
Busquei esta saída quando pensei que o cartomande explica suas intuições visionárias com um processo intelectivo, o que significa dizer que interpreta a intuição utilizando-se da razão para perceber esta realidade. ( O que é justamente a RAZÃO-INTUIÇÃO )
Mas que barbaridade! Acabei por cair no mesmo erro, pois o que se procura é justamente o revés. O revés se passa quando alguém ouve uma obra musical, e curiosamente é invadido por idéias inovadoras, porque a obra lhe propiciou o material adequado à tal ocorrência. Pode-se dizer que ele interpretou aquela obra de arte de maneira intuitiva? Teríamos uma INTUIÇÃO-SENTIMENTO ? ( Ou seja: Uma interpretação da arte pela intuição. )
Sustento uma opinião retrógrada com relação à esta ocorrência, pois a intuição não interpretou a música senão utilizou-se dela para criar uma nova idéia. No mundo intuitivo interpretar significa mudar, transformar e criar, e não simplesmente entender algo que já exista. Ainda que o que foi criado seja algo real.
Este tema é demasiado difícil de se desenvolver, entramos em muitas contravenções e por fim defini-se que o vínculo que a intuição têm com o homem é algo à parte, que interpreta de uma maneira muito especial, ininteligível. Talvez por isto tenha sido tão difícil recair neste campo.

acontecimentos oriundos de campos místicos ou transcendental

Criou-se em torno do misticismo uma incólume onda de informações, verdades, descrições e fatos que podem fazer quem o recebe estranhar e assustar-se, ou mesmo impedir o entendimento pleno de um determinado fato ou modo de pensar. É nisto que erram aqueles que querem algo ensinar com apenas duas ou três prerrogativas.
Os acontecimentos oriundos de campos místicos ou transcendental, para que possamos nos sentir mais cômodos, devem ser explicados de modo detalhado, devem ser vistos todos os aspectos, as ressalvas e as diversas possibilidades possíveis.
Na mediunidade tudo ocorre como com um maratonista. Não vejo como possível um sujeito qualquer, de maneira repentina correr uma maratona sem haver previamente feito um árduo, exaustivo, largo progressivo treinamento psicológico e físico ou corporal Assim, igualmente se dá com a mediunidade: Há de se insistir com austera severidade nos objetivos espirituais, numa luta travada consigo mesmo o pretendente segue as regras já descritas num progressivo perceber de sua realidade.
Deste modo, é natural que um ainda não iniciado fique aterrado com coisas que lê a respeito, da mesma forma que um desentendido em corridas se assustaria se acaso soubesse que o ser humano pode correr 42Km m ritmo vertiginoso ou “puxado”. Ou mesmo um maratonista ficaria abismado, embasbacado e aterrado ao conhecer ultra-maratonas de 100, 200 ou 300 quilômetros.
Todos irão se apavorar ao ver o alto nível de desenvolvimento de uma determinada vivência. A ressalva está em dizer que os incrédulos são apenas os ignorantes, os que não conhecem, não estudaram e por isto não têm uma noção precisa, apenas idéias vagas que se distorcem formando verdades ilusórias nas suas mentes. Ou mesmo até por falta de material informativo têm uma noção super limitada de determinado assunto.
Acontece que a noção limitada não é percebida por aquele que a têm como algo limitado senão como uma verdade. O pior que pode ocorrer é a pessoa sequer saber que ignora grande parte de uma realidade, que não sabe, que não detém o conhecimento total.
O grande mal não é não saber, mas sim: não saber e crer que o pouco que sabe já condiz com tudo o que se possa saber.
Discutimos aqui sobre o assunto “ignorância”. É por isto que as pessoas não entendem as coisas, ou quando entendem assimilam de forma distorcida. A mídia em geral expõe os assuntos de maneira rápida, fugaz buscando igualmente resultados rápidos e fugazes. Com isto não dão aos receptores da informação o fato de que aquilo é resultado de um largo processo de desenvolvimento.
Assim, é fácil tornar-se incrédulo diante de verdades espirituais, pois não se conhece o processo que foi necessário para ali se chegar. O que faz existirem ateus não é uma mentira deliberadamente transmitida mas sim a omissão de grande carga de conhecimentos. Por isto diz-se que o conhecimento é poderosa arma, que transforma totalmente a maneira de pensar e refletir, conseqüentemente de perceber e viver o mundo.
Estas idéias traduzem de maneira bastante pertinente o fato de que o aprendiz não entende o Sensitivo, mas o contrário ocorre.

RITMO DA ALMA
A discussão se dará em torno da inter-relação entre cada tópico que foi abordado de maneira separada até agora:
Considerado intuição-sentimento ou intuição-razão, fazendo repercutir a razão-nova intuição ou sentimento-nova intuição, num processo que pode se estender ao infinito. Exemplo de tal façanha pode ser representado pela cítara na música indiana e pelo jazz na cultura ocidental, encontramos na cítara um interessante fenômeno de:
INTUIÇÃO-RAZÃO-SENTIMENTO-TRANSCENDÊNCIA
Tudo é transcorrido à partir de um fenômeno intuitivo porque trata-se de música improvisada, têm-se que um processo está relacionado, justamente porque incita este outro. Uma intuição incita um determinado processo intelectivo, que por sua vez, abre ou forma um novo nicho propício à outra intuição.
Um esboço que representaria de forma fidedigna este processo é o de um círculo.
DESENHO
Como poderíamos aplicar este círculo ou este conceito em uma visualização prática? Um músico é tomado por repentina intuição, irá ( Enquanto compõe e toca ao mesmo tempo ) interpretar pela razão o que foi inventado, logo é criado um ambiente de sentimento ( Com seus conceitos, valores e idéias pessoais ) levando ao estado transcendental, e dando margem à criação de novas intuições.
Parece que o que estamos tentando fazer aqui é procurar saber quem nasceu primeiro: Se o ovo ou a galinha. É a intuição que é interpretada pela razão, tendo ela sobrevindo antes, ou a razão está presente em todos os momentos desde o principio até o final da intuição?
Esta problemática é resolvida quando tomamos como base que, as duas últimas ( 4a e 5a ) ferramentas que o homem dispõe para conhecer o mundo não requerem nem a primeira nem a segunda como princípios fundamentais.
Assim, quando o indivíduo está num estado intuitivo em maior proporção em sua constituição ele não terá em si a razão ou intelecto latejando em sua consciência. O problema é que quando estamos num estado intuitivo se quisermos interpretar a intuição de alguma forma temos que retornar ao nível da razão e sairemos da maior porcentagem em estado de intuição, pois a melhor forma de pensar na relação entre os 5 estados de contato com a realidade é feito por porcentagem, pois tudo está atuando ao mesmo tempo, e os tópicos anteriores foram exageradamente drásticos apenas por fins elucidativos. O fato é que tudo atua ao mesmo tempo em diferentes intensidades. Exemplo:
Físico – 5%
Racional – 10%
Sentimental – 15%
Intuitivo – 40%
Transcendental – 30%
A pessoa constitui a soma de todos os valores. Um músico no exato momento em que cria ou improvisa têm maior nível na intuição que na razão, momentos depois ele irá perceber racionalmente o que fez, sua habilidade física é o meio físico que ele precisa para tocar a música.
Deste modo não podemos dizer que cada uma de nossos meios de interação com a realidade têm intensidades fixas, senão variam conforme cada situação. Ainda que possamos dizer que as pessoas se diferenciem de maneira irrisoriamente notável em seu “jeito de ser”, ( Atleta, Intelectual, Artista e Médium ) no entanto estas diferenças são construídas, porque elas desenvolvem o que mais é utilizado.
Se a pessoa têm mais contato com valores religiosos é natural pensar que há maior propensão para que ela tenha maior nível em sua capacidade transcendente, ou em sua visão transcendente do mundo.
Se o músico gosta de improvisar, será mais intuitivo. Se gosta de compor contrapontos e escalas será mais racional, ainda que esteja ambientado na arte. ( Porque tudo se relaciona )
Com esta nova teoria, podemos afirmar com convicção de que as personificações que nos fazem diferentes uns dos outros são ilusões criadas por nossas vontades.
Para “ser” basta acreditar que se é. Esta frase, aterradora e reveladora ao mesmo tempo nos traz a idéia de que toda a personalidade é falsa, e, a única coisa que se iguala nos seres humanos é o “querer ser”, o que condiz com a única coisa real pois a personalidade é uma ilusão.
No entanto homem destituído de personificação é homem destituído de personalidade, por isto é possível dizer que o desenvolvimento da personificação representa a luta que o homem trava com o mundo, é a criação e invenção de sua própria personalidade e individualidade.
Quando Jesus diz que todos são irmãos, e portanto iguais, se referia à raiz do homem, que é um ser sem personalidade ou individualidade, o que faz com que todos constituam a mesma essência, que é respectivamente a busca que defende a filosofia Indiana. Buscar esta raiz significa perder-se de si mesmo ( Já que o “eu” personificado é uma ilusão ) e entrar num mundo onde a única coisa que existe é a vontade.
Um aspecto a se ressaltar aqui é de que o maratonista naturalmente trabalha a vontade essencial de maneira descomunal, e por isto desenvolve uma vertente que no ser humano constitui a única coisa que não é ilusória.
Poderíamos dizer que a vontade é o princípio de todas as coisas, neste caso entende-se por todas as coisas o tópico personificações humanas.
Não é à toa que todos os que participam de uma maratona se sentem iguais, ou despersonificados, a única coisa prepoderante para o término de uma prova desta envergadura é a vontade.
O que, no entanto, move a vontade? O que faz surgir a vontade? Os conceitos e valores pessoais que fazem parte da personificação formam um ambiente propício ao surgimento de determinadas vontades. Vê-se que a vontade ( Que é o princípio essencial ) não somente forma a personificação como se comunica com ela mudando seu caráter.
Não ouso tentar saber como teria surgido a primeira vontade de todas, mas é certo que esta foi a que deu margem ao início do longo processo de personificação, poderíamos colocar mitologicamente como uma fagulha criada por Deus, se foi criada por ele já nasceu acesa, e por isto têm vontade, a partir daí esta vontade interage com cada uma de suas 5 ferramentas de conhecimento do mundo, de modo que para conhecer o mundo em sua maneira crua e verdadeira não se deve utilizar nenhuma ferramenta, pois as ferramentas distorcem o objeto visto.
O que se deve fazer para melhor entender o mundo em sua constituição crua é fazer uma interpretação geral de todas as 5 ferramentas e chegar à um patamar abstrato que possa superar à cada uma delas. ( Para isto auxilia a criatividade e a imaginação com o fogo da vontade )
É como dizer que um indivíduo têm 5 óculos coloridos, e que nunca pode ficar sem óculos, o melhor que deve fazer para entender o mundo como ele é ( Suas cores reais ) é fechar os olhos e fazendo uma interpretação geral de todos os tipos de contato que travou com o mundo usando cada um dos óculos, com o auxílio da imaginação e criatividade, criar um novo mundo que não se possa comparar aos anteriores conhecidos. Do contrário, numa vivência tradicional ele nunca conheceria o colorido que o mundo é. Isto pode ser metaforicamente uma boa explicação para o fenômeno de transcendência espiritual. A única maneira de conhecer o mundo “cruamente”, antes das personificações. Deste modo a transcendência não seria uma personificação como foi classificada, mas sim a busca por algo que esteja fora das primeiras 4 personificações do mundo ilusório ou o encontro do mundo verdadeiro.
Teríamos o seguinte quadro:
DESENHO
Com a metáfora dos óculos para melhor elucidas, temos que o mundo é amarelo, e que só podemos conhecê-lo como ele realmente é quando estamos despersonificados ou só instituídos de vontade, ou então quando buscamos através da personificação total algo que transcenda à ela própria com o auxílio da imaginação e da criatividade. Assim: O único modo de conhecer a realidade crua ou pura é com a vontade primordial ou com a transcendência.
O maratonista vivencia durante a árdua prova a vontade inicial, pois o que mais se aproxima dela é o físico ( continuamos seguindo a cadência de interpretação da realidade mais ou menos complexa ). Já a pessoa que pratica meditação vivencia a transcendência. Por isto a transcendência é o mais alto grau de complexidade e vontade primordial o mais alto grau de simplicidade e ausência.
Tanto um quanto o outro conhecem a realidade por dois caminhos totalmente distintos, um pelo empirismo total, e algo que venha antes da interpretação física do mundo: A vontade. O outro pelo abstracionismo total e por algo que esteja ainda depois disto: A transcendência espiritual.
A busca da realidade por parte do ser humano deve-se dar de uma destas duas maneiras, o perigo é ficar perdido no que está entre os dois, ou no mundo ilusório de cada uma das 4 ferramentas.
A percepção de que as 4 personificações são ilusórias só se dá quando se enxerga elas estando fora delas ( Mito da caverna ). Podemos transmitir a mesma idéia de maneira diferente: Só se chega à verdade estando antes do primeiro passo ou depois de tudo. Antes do “eu” ou depois do que se possa entender como mundo.
Ou se retorna à fagulha primordial ou se transpassa uma realidade ilusória até se chegar à transcendência.

SOBRE A TRANSCENDÊNCIA
Das dores
A pior é a da moral
Pungência da alma
Onde fica aquela fina camada
Que separa a terra do céu?
Como é que se pode
Sentir aquela delicada fragância?
Que aos toscos narizes
Passa despercebida...
Detalhe sutil
Esta nas profundezas submersas
De tua própria mente
Está tão inserid em tí
E tú está tão fora dela
Que jamais a verá
Ainda bem que existem mistérios no mundo
Mistérios em tí
Pois se não houvessem
De que valeria viver?
O mistério move a alma
Ao menos aquela que sabe de estranhos mistérios
A outra que em nada vê mistério
Está paralizada pela própria cegueira
De enxergar um mundo sem mistérios
Sem fé e devoção não há mistério
Que não seja trazido à consciência
Sem fé não se mergulha nas profundezas a mente
Vangloriamos o mistério
E mesmo que nele porventura imergimos
Ainda será misterioso
Pois é sempre maior que nós mesmos
Tudo o que é maior não pode ser jamais completamente desvendado
O mistério é maior que o homem
No entanto está dentro dele
A imaginação é uma escuridão abissal
Donde podem sair presságios de inteiras sinfonias
Ou esboços de esplêndidas paisagens
Fragmentos de passados inteiros
Ou pedaços de grandes esculturas
A imaginação é ao homem desconhecida
Representa sua lembrança não inventada
Pesares não chorados
Risos não lembrados
Obscuro campo inexistente
Novidade que chega do nada

FILOSOFIA DA INTERPRETAÇÃO DO MUNDO

A – QUAL A SOCIEDADE IDEAL? ACAMPAMENTO E ÍNDIOS
O acampamento é a situação que melhor supre as necessidades humanas, porque têm um sentido moral e ideológico completo. Há um princípio, meio e fim. Objetivos a longo prazo bem delineados. Uma convivência em grupo próxima e um íntimo contato com a natureza.
É com pudor que notamos o caminho pelo qual passa a sociedade, digo isto relacionando com uma falta de seriedade e pelo desmoronamento dos valores humanos. Pessoas vivem dentro de suas realidades podadas, casas fechadas, trancafiadas à sete chaves são mentes fechadas. Os índios são um exemplo de sociedade ideal, moralmente e socialmente muito mais evoluídos. Os acampamentos em geral são vistos como modalidades direcionadas às crianças e adolescentes, entretanto é certo que o mundo seria bem melhor se todos fossem acampantes.
Na busca de uma sociedade ideal devemos buscar o que seja de formação pessoal e formação social
B – VALE A PENA VIVER? PELO QUÊ?
Meus queridos irmãos, sem sombra de dúvida nossos caminhos intelectivos, os quais até agora percorremos, nos proporcionaram interessante material de discussão. No entanto sobrevivem uma série de tormentos, que nos assaltam, estes que muitas vezes nos pegam desprevenidos causando transtornos dos mais variados. É por isto que o homem precavido, ainda que não seja perfeito, está sempre mais preparado para a vida que os que andam por aí sem rumo ou direção.
Tendo sido feita esta introdução geral, para a qual diversas interpretações podem ser sugeridas, declararei que o assunto que me levou a escrever agora ou mesmo até agora é de grande profundidade e sublimação: A própria vida! Para ser mais específico: A graça da vida, a paixão de viver. Por quê o ser humano insiste em viver? É por causa das situações da vida que nos proporcionam momentos de sublime euforia, ou sublime espirituosidade. Mas como vivenciar estes naipes de sentimentos? Primeiramente:
1 – No mundo deve haver música
2 – A vida deve ser considerada complexa
Eu, pessoalmente, reluto em acreditar que vale a pena viver, não falo aqui, julgo que o leitor compreenda, de alegrias superficiais, senão da mais profunda vivência que se possa ter das coisas, das pessoas e de tudo o que te cerca.
O que buscas na tua existência? Diga: Um caminho reto e linear, sem distorções e superficialidades, um grande caminho onde impere uma felicidade infantiu, uma espiritualidade completa e sincera, um viver integral, ora estas: Não será este o caminho linear? Os momentos sublimes, simples e complexo ao mesmo tempo são magníficas dádivas que a vida nos proporciona.

C – O HOMEM NATURAL!
Quê dizer do ser humano quando este fugiu à sua própria essência? O desenvolvimento das cidades nos distanciou da natureza, com isto nós mesmos esquecemos que fazemos parte dela, efetivamente somos “homens naturais” e fazemos parte de um contexto harmonioso dito natureza. Nadar num lago, correr descalço na grama, subir numa árvore, se enlamear, brincar como criança na areia da praia, caminhar pela mata à luz do sol ou luar, contemplar as belezas naturais. Tudo isto representa fundir-se com a natureza, de tal modo que o homem encontra seu verdadeiro local, seu ponto de equilíbrio, uma alegria silenciosa, pois definitivamente: O homem é natural!

D – MUNDO ESPIRITUAL; A VIDA E SUA FUNDAMENTAÇÃO INICIAL: SONHOS
QUANTOS MINUTOS?
Do seu dia de hoje você despendeu para:
Contemplar a profundidade e imensidão das estrelas?
Contemplar a magnitude das nuvens?
Emergir em pensamentos na coloração do céu?
Refastelar tua alma num ócio espiritual?
Brincar com uma criança?
Ler e refletir o evangelho de Jesus?
Orar?
Meditar?
Pensar nos problemas mais profundos de teu âmago?
Enfim: Viver de verdade!
Em toda a tua vida:
Quantos minutos você viveu?
Quantos minutos você amou?
Ao mundo ( Está Deus nesta vertente. ) à ti e aos outros.

Não é só num momento de derrota ou dor que devemos chamar à Deus para confabular, mas sim em todos os momentos. Deus deve ser louvado constantemente, assim como o homem respira deve louvar à Deus e pedir com constância orientações dos mestres espirituais, anjos e arcanjos que olham por nós e nos ajudam quanto mais nos damos conta deles, sempre orar para que delineiem seu caminho da maneira mais adequada, e caso necessário intervenham na permuta de teu destino. Assim com se respira deve se orar!
Ter a consciência de que a vida é maravilhosa, bela e misteriosa é imprescindível para uma vivência profunda das verdades eternas.
O segredo está em desvendar o que quer o espírito ( o seu próprio espírito ), pois nossas sub-vontades do corpo e da razão são tão aparentes quanto o mundo em que vivemos. Ter a consciência de estar vivendo em um mundo aparente, tudo é pois tão pequeno diante do “mundo espiritual”, diante da transcendência quanto é um punhado de areia diante de vasta costa marítima de um país. É pesaroso notar como muitas vezes nos agarramos à este punhado de areia, como se representasse tudo o que possa existir. Aquele que nota a grandeza da costa logo ri de si mesmo, e de quão cego ou ingênuo fora até então.
Há de se ter a “consciência espiritual” 24 horas por dia, ou seja: à todo momento, em todos os minutos e segundos, pois o mundo não é dividido em dois ( Espiritual e Físico ) senão é composto de uma única unidade. Caso esta consciência espiritual se esvaia ou seja parca o indivíduo terá pouca noção da realidade. Tão mais importante é isto quando sabemos que é o mundo espiritual a essência de tudo, enquanto que o “mundo físico” é mero e ínfimo reflexo do espiritual.
É tarefa árdua e difícil a aproximação ao mundo espiritual, é acúmulo do desenvolvimento intelectual, sentimental, moral e criativo do indivíduo. Na junção de infindável quantidade de orações, seja em pequenos trechos, escassas palavras ou longas horas de vigília.
O quê é júbilo? Transcendência, realização e êxtase, é um sentimento provindo de uma tarefa cumprida, um dever executado. São aqueles poucos minutos que valem por uma eternidade, ousaríamos dizer que são os momentos de glória, a realização de nossos sonhos mais belos.
A vida é feita de sonhos, o homem traça em sua existência determinadas metas ( inicialmente irreais ), então labuta em torno disto, luta através de diversos caminhos para atingir seu sonho. Algo que foi estipulado por uma criação mental dele, tudo partiu de um princípio criativo pessoal.
Sem estes sonhos ou metas a vida não teria sentido, orientação ou direcionamento. Logo para se viver, no sentido pleno desta palavra, deve haver um sonho, uma sina.
Qual é a sua sina? Qual é o seu sonho? Qual é o nível de importância que você coloca nesta pretensão? É uma pretensão à curto, médio ou longo prazo? É uma ou são muitas pretensões? O nível de importância que você coloca em seus sonhos irá indicar o quão intensamente você se direciona num determinado caminho. Do contrário a vida se torna um labirinto sem sentido certo, sem rumo, no qual não sabemos o quanto deveríamos nos aplicar em cada atividade, nem qual seria, numa visão ampla: o objetivo desta atividade, nem de que maneira esta estaria integrada com as outras.
Os sonhos são a criação inexistente
Que nos faz viver
O suor é a atividade incessante
Movida pelos sonhos inexistentes
Somos movidos por algo inexistente
Que do logrado passa a existir
Encontra-se assim o júbilo do êxito
É a maior ascensão da vida
São os minutos eternos
Logo deve haver outro e outro sonho
Abençoado seja aquele que muito sonha
Pois este é o que vive
E – A LEMBRANÇA E SUA SIGNIFICAÇÃO
A vida é feita de retornos, pois sonhos antigos podem ser retomados, quando isto ocorre têm-se a sensação de estar nascendo novamente, e é somente no momento do renascimento que se pode ter a consciência de quão vazia é a morte. Quando se está morto é impossível ter a noção da profundidade do efeito da própria morte. É evidente que falo aqui num sentido metafórico, uma alusão que pode ser aplicada à qualquer atividade da vida.
Explicar-me-ei: O indivíduo cessa uma atividade por período prolongado, e retorna, renasce novamente, só se dá conta da importância desta atividade quando a pratica e não no período em que se abstêm dela.
Estamos constantemente renascendo em determinadas atividades, nascendo em algumas outras e morrendo em outras.
Isto porque o viver nos proporciona muitas opções, selecionamos algumas delas, e se acaso deixamos de desempenhar determinada atividade por período prolongado diz-se que perdemos a noção da importância que esta atividade tinha para conosco.
Por quê isto ocorre? Justamente porque o ser humano se preocupa demasiadamente, ou em maior proporção com o momento presente que com o passado ou com o futuro. A unidade de nossas vidas é encontrada com a soma de todas as vivências ( passado ), com o presente e as pretensões ou sonhos ( Futuro ou futurização ). Assim, a essência de uma pessoa só pode ser encontrada com a soma de passado, presente e futuro.
A maioria das pessoas, como dito, se preocupa com o presente, não por causa de uma vontade própria senão por uma tendência natural do ser humano, poderíamos também dizer que é uma fraqueza ou preguiça do espírito, já que o consciente foge à sua completude.
O fato é que fora dito que na ausência de determinada atividade perde-se a noção de sua consistência e importância. Não obstante é fato de que uma rememoração, uma lembrança profunda irá dizer o quão importante era esta atividade ou vivência.
Posso lembrar o quão importante era a corrida para min sem estar correndo há anos e anos. Impossível é lembrar a sensação da corrida, pois esta é provinda dos sentidos e não do intelecto. Pode-se lembrar a importância de determinada atividade, mas não a experiência de vivência desta atividade.
Da mesma maneira quando criamos novas, criativas e diferentes expectativas para o futuro, inovamos o estoque de sentidos que damos às coisas já existentes, mudando levemente ou mais intensamente o sentido destas coisas.
Lembremo-nos que recordar é uma experiência ativa, pois a lembrança não é uma imagem fixa senão algo com o qual dialogamos de diferentes maneiras a cada vez que acessamos, e temos uma perspectiva nova para com determinada lembrança a cada vez que recorremos à ela, dela extraímos coisas diferentes a cada vez que lembramos, por isto lembrar é vivenciar e não repassar uma fita de vídeo que é igual toda vez que vista.
Assim temos que tanto o passado quanto o futuro ( Perspectivas ) tratam-se de vivências. Por isto podemos considerar estas três sub-divisões do tempo como um todo, que pode ser denominado de “unidade da vida”.
As pessoas que têm o hábito de rememorar, em geral chamadas de saudosistas, começam a notar o real sentido daquilo que já foi vivido, muda-se o sentido e nota-se que durante a vivência não se sabia exatamente o valor da vivência. É ditado popular: - Somente quando não se têm é que sabe-se o quanto vale! – É por isto que rememorar é uma capacidade essencial à busca do verdadeiro sentido da vida, que deve evidentemente ser constantemente evocada.
Também é com a lembrança e com a formação das perspectivas futuras que nos damos conta da vasta amplitude do sentido geral da vida.

F - O CARÁTER NO ESPORTE
Uma das pretensões que tenho com este livro é imergir no tema da corrida, de quando em vez, e inseri-lo na abrangência da vida. Já que sendo um corredor tenho sempre grande curiosidade em desvendar as questões filosóficas do corredor.
A capacidade intelectiva é a chave para o sentido moral da vida, um ponto inicial que têm como outras ferramentas os sentimentos.
Companheirismo, amizade, metas, desafios, coragem, força de vontade , persistência, perseverança, fé, religiosidade, resistência, concentração, indiferença à dor e controle são as características de um maratonistas.
Um sujeito, que pelo caminho das necessidades desenvolve em si estas características, e se acaso me perguntassem se a maratona desenvolve e forma o caráter de uma pessoa, eu respondo tanto pela vivência prática quanto pelas explanações teóricas de maneira pungente e absoluta: Sim!
Mas o que é que consideramos por caráter? É o que distingue uma pessoa de outra, a personalidade, a firmeza de vontade e a constância e estabilidade relativas na maneira de agir e reagir; O feitio moral. ( Do dicionário )
Caráter é o que caracteriza. É como quando perguntamos: Qual será o caráter de tal reunião? Esta pode ser festiva, de trabalho ou comemorativa, à fantasia ou radical, serena ou cheia de baderna. Ou seja: Qual é o tipo? A feição? A cara?
Nas pessoas o mesmo ocorre, cada qual desenvolve caráteres diferentes. A pergunta exata que deveríamos fazer é se a corrida desenvolve determinado caráter no ser humano, ou seja: Se lhe proporciona determinados tipos de características.
É evidente que sim: O caráter já foi definido nas linhas anteriores, é desenvolvido de acordo com a quantidade e qualidade dos treinos. No entanto surge-me uma pergunta, que ao meu ver é desagradável: É o caráter que define a qualidade do treino ou é o treino que desenvolve o caráter do corredor?
As duas afirmações estão corretas. Para melhor exemplificar esta idéia farei a descrição real de minha experiência como patinador “street”:
“Quando via os outros patinadores saltando largas escadarias nas praças ficava boquiaberto, chegando a pensar que o que faziam era loucura. Minhas façanhas eram indizivelmente menores, constavam em apenas conseguir, com bastante dificuldade saltar uns três degraus e pronto. Todavia, para minha surpresa, aos poucos fui evoluindo, de tal modo isto transcorreu que em determinado momento notei que minhas pretensões eram tão ou mais audaciosas quanto a deles: procurava os locais mais altos dos quais pudesse saltar, e ainda, quando já treinado naquele lugar, procurava novas maneiras de saltar; De fato muitas vezes caía e me estatelava no chão, não obstante, assim como aprendia a voar aprendia a ir de encontro ao chão da maneira menos desagradável possível, o que requer certa propriedade artística supostamente.”
Caros leitores: Nota-se que na medida em que o patinador salta e melhora seu desempenho também melhora sua coragem, força de vontade, técnica de movimento, força física, resistência física e psicológica para suportar as variáveis negativas e equilíbrio. Coexistem aqui características psicológicas e físicas. É seu caráter que lhe permite executar um salto, na medida que melhora seu caráter o aumenta e pode ousar novos e incautos saltos, pois se a força de vontade não fosse cada vez maior ele não iria buscar novas e maiores dificuldades senão ficaria estagnado nas mesmas.
O mesmo ocorre com o corredor, principalmente aquele que chega a ser maratonista, pois desenvolve determinadas peculiaridades psíquicas que são concernentes àqueles que desempenham tarefas extremamente laboriosas e de conclusão árdua e penosa.

Cegos pisamos num caminho
Andando a passos largos
Numa direção imprecisa
Certos de que tudo está certo
Tudo é como deveria ser
Somos nós quem construímos nossos destinos
Não obstante somos inevitavelmente sujeitos às circunstâncias que nos envolvem
Por isto a liberdade é relativa
Mediante isto
Nossas vontades, nosso querer é submetido ao mundo que conhecemos
Ao que julgamos por mundo
Pisamos no pouco caminho que conhecemos
Vamos por onde nossa restrita vontade nos leva
Pensei que fosse um direito
Saber para onde se vai depois da morte
Esta informação causaria problemas à muitos
Pois a vida existe ( Material )
O fato de ela existir é a prova mais precisa de que nisto há importante motivo
A ti te basta saber que esta é a tua função
Este é o teu trabalho
Por quê pensar no que irá me ocorrer se acaso perder o emprego?
Quando se está empregado pode-se consultar um desempregado para saber o que sente ou como é o desemprego.